Review: Fever Ray – Radical Romantics (2023)


Radical Romantics
é o novo álbum do Fever Ray, pseudônimo da sueca Karin Dreijer, que integrou o duo de música eletrônica The Knife ao lado irmão entre 1999 e 2014. Não muito prolífico – a estreia, batizada apenas como Fever Ray, foi lançada em 2009, e o segundo disco, Plunge, saiu em 2017 -, o som do Fever Ray merece a sua atenção.

Talvez pela capa, o nome de Peter Gabriel me veio à mente quando ouvi Radical Romantics. E a referência ao ex-vocalista do Genesis se intensificou ao longo da audição da dez faixas do disco, não pela similaridade sonora, mas pelo desejo de inovação e o objetivo de sempre buscar novos caminhos. Essa abordagem é constante em Radical Romantics, o que torna o álbum interessantíssimo.

A base do trabalho de Karin é a música eletrônica. Sintetizadores constroem as melodias e os arranjos, enquanto batidas que vão de influências mais dançantes até momentos mais tribais – ouça “New Utensils” – imprimem o ritmo. Os timbres, predominantemente graves, flertam sutilmente com o industrial em alguns momentos, mas sem a dureza do estilo – que eu, particularmente, não gosto. Os vocais traduzem tudo para uma linguagem mais pop, que ora conversa com as pistas de dança e em outros momentos bebe em ícones e referências da música eletrônica como o Kraftwerk, porém sem as melodias robóticas e os loops hipnóticos dos alemães. A lembrança da banda inglesa The Fall surgiu quando ouvi “Even It Out” (que tem Trent Reznor, do Nine Inch Nails, como um dos produtores), e uma união bizarra entre Siouxsie e Bjork se formou em minha imaginação já nos primeiros segundos de “Carbon Dioxide” – não por coincidência, a cantora islandesa já remixou músicas do Fever Ray.

A música que dá início a tudo, “What They Call Us”, é uma das melhores e mais convencionais do álbum. “Shiver” é uma pérola pesada para entortar pistas de dança e, muito provavelmente, ganhará novas versões nas mãos de produtores mundo afora. “Kandy” é outro grande acerto, com o arranjo caminhando no exato meio termo entre a música erudita e algo com tempero latino. O grande final, com os mais de sete minutos de “Bottom of the Ocean”, mostra um exercício de composição totalmente fora da curva conduzido apenas pelos vocais de Karin Dreijer (que não cantam uma letra, mas sim uma melodia) e uma instrumentação brilhante.

Sem medo de errar, Radical Romantics estará em diversas listas de melhores álbuns de 2023, e provavelmente no topo de várias delas.


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