É por álbuns como Low que muitos questionam a ausência do Testament no Big 4 do thrash metal norte-americano e defendem que a banda deveria ocupar o lugar do Anthrax no quarteto. Entendo o pioneirismo e a originalidade da turma de Scott Ian, mas sou tentado a concordar que o Testament representaria melhor a cena do que o quinteto nova-iorquino.
Divagações à parte, Low deu início à segunda fase da carreira do Testament, com as chegadas de James Murphy e John Tempesta nos lugares do guitarrista Alex Skolnick e do baterista Louie Clemente. O disco marcou também o começo do mergulho do grupo em um som com doses generosas de groove, característica que a banda mantém até hoje.
Produzido por Garth Richardson e pelos próprios músicos, o trabalho foi mixado pelo renomado Michael Wagener (Dokken, Extreme, Skid Row) e traz uma linda capa criada por Dave McKean, artista inglês que ficou conhecido pela inventividade e originalidade que aplicou nas capas das HQs de Sandman e também assinou artes icônicas para bandas como Dream Theater, Paradise Lost e Alice Cooper.
Low trouxe um retorno ao thrash metal após o som mais acessível do trabalho anterior, The Ritual (1992), aqui devidamente turbinado por influências então atuais como o citado groove e afinações mais graves nas guitarras. Murphy, guitarrista extremamente técnico vindo do death metal e com álbuns como Spiritual Healing (1990) do Death e Cause of Death (1990) do Obituary no currículo, soltou a mão em solos inspirados e deu ainda mais agressividade aos riffs compostos por Eric Peterson, seu parceiro nas seis cordas. Tempesta, que vinha do Exodus e mais tarde integraria o White Zombie e a banda solo de Rob Zombie, tem uma abordagem mais técnica que a de Clemente, e isso se refletiu em um trabalho de bateria mais rico e que casou perfeitamente com a sonoridade mais groovada que a banda adotou.
O resultado é um dos mais fortes conjuntos de composições que o Testament já deu ao mundo. “Low” é um soco no estômago e uma das melhores músicas de abertura de toda a discografia do grupo. Andamentos marciais em tempos quebrados introduzem “Legions (In Hiding”), “Hail Marv” eleva o nível de agressividade e a balada “Trail of Tears” acalma tudo com uma aula de interpretação e sensibilidade, sem nunca soar piegas. Dá pra citar praticamente todas as faixas do disco como destaque, como deixam claro pedradas de alto quilate como “Shades of War”, “P.C.”, a rápida “God Faced Gods”, a insana instrumental “Urotsukidōji” e “Ride”.
O álbum nunca havia sido lançado no Brasil em qualquer formato, fato que foi corrigido através da bela edição em CD slipcase colocada pela Wikimetal no mercado.
O Testament é uma banda que sempre mereceu muito mais reconhecimento, e Low é apenas um dos muitos motivos para isso. Ouça e comprove!
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