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A era Mikkey Dee começa aqui: Bastards (1993), um dos discos mais subestimados do Motörhead


Entre as várias reviravoltas da carreira do Motörhead, Bastards (1993) ocupa um espaço peculiar: não é um dos discos mais lembrados pelo grande público, mas é um daqueles álbuns que, quando revisitados, revelam uma banda energizada, afiada e pronta para iniciar uma nova fase. Lançado pela ZYX — única vez em que Lemmy e companhia trabalharam com o selo — o álbum marca o início da era clássica com Mikkey Dee assumindo sua posição como integrante de fato. E isso faz diferença.

A formação aqui — Lemmy, Phil Campbell, Würzel e Dee — parece ter encontrado um ponto de equilíbrio raro. Bastards soa como Motörhead puro, mas também como um Motörhead renovado. As guitarras vêm com mais corte, os andamentos são mais precisos e a banda entrega aquele tipo de ataque frontal que tornou seus shows lendários. É um disco direto, sincero e violento na medida exata, sem qualquer preocupação em acompanhar tendências dos anos 1990.

Entre os destaques, “Born to Raise Hell” merece menção imediata. Um dos momentos mais celebrados do disco, a faixa destila pura atitude Motörhead: rock and roll sujo, arrastado e insolente, com aquela energia de bar lotado, cerveja derramada e o mundo pegando fogo do lado de fora. É a banda abraçando seu lado mais festivo e rasteiro, gerando uma música que funciona tanto em estúdio quanto como hino de palco.


No extremo oposto, mas igualmente impactante, está “Don’t Let Daddy Kiss Me”, uma das composições mais sombrias e sensíveis de Lemmy. Aqui, a banda abandona o ataque frontal para explorar um tema pesado e doloroso, tratado com seriedade e brutal honestidade. A canção mostrou ao público — e a muita gente da crítica — que Lemmy sabia, quando queria, escrever com profundidade emocional sem perder o senso de verdade que sempre definiu seu trabalho.

Visto hoje, Bastards ganha ainda mais peso. O álbum registra o momento em que a banda reencontra o foco e estabelece a base para a sólida sequência de trabalhos que viria na sequência. Não é um “clássico oficial”, mas é um daqueles discos que crescem a cada audição e revelam um Motörhead firme, violento, inspirado — e, acima de tudo, coerente consigo mesmo.

Revisitá-lo agora é lembrar por que Lemmy e seu tanque seguiram avançando sem olhar para os lados: eles sabiam exatamente quem eram. E Bastards deixa isso claro do começo ao fim.


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