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Eddie’s Archive (2002): o box definitivo para entender o nascimento, a evolução e a construção do mito Iron Maiden


Eddie’s Archive é um daqueles lançamentos que explicam por que o Iron Maiden ocupa um lugar tão singular no imaginário dos fãs de heavy metal. O box lançado em 2002 funciona como uma viagem arqueológica pela fase mais explosiva da banda, reunindo três discos duplos que, juntos, formam um painel raro e abrangente dos anos 1979 a 1988. É o tipo de edição pensada para colecionadores de verdade — pesada, luxuosa, numerada e carregada de itens que ampliam a experiência. Mas o principal está nos áudios: registros importantes, shows lendários e um compilado de lados-B que ajuda a remontar algumas das peças menos óbvias da discografia.

O primeiro álbum do box, BBC Archives, reúne gravações que a banda realizou para a rádio e TV britânicas, desde a fase embrionária de Paul Di’Anno até o auge da energia com Bruce Dickinson. Este primeiro volume compila quatro registros gravados para a BBC entre 1979 e 1988, e o material é essencial para entender a evolução da banda no período pré-Number of the Beast (1982) e na consolidação da formação clássica.


A jornada começa com a Radio 1 Friday Rock Show Session (1979), onde o Maiden — ainda com Paul Di’Anno na linha de frente — soa veloz, agressivo e carregado do espírito mais cru do NWOBHM. Versões iniciais de “Iron Maiden”, “Running Free” e “Sanctuary” revelam um grupo inquieto, direto e faminto por espaço, em um registro embrionário e fascinante. Avançando para o Reading Festival de 1980, encontramos a banda mais entrosada: Di’Anno, Steve Harris, Dennis Stratton e companhia entregam um show ríspido e incisivo, aproveitando um dos palcos mais emblemáticos do Reino Unido para mostrar que estavam prestes a explodir.

No Reading de 1982, já com Bruce Dickinson e Clive Burr, o som se expande. Faixas como “Children of the Damned”, “Run to the Hills” e “The Prisoner” são executadas com a vitalidade de quem acabara de lançar The Number of the Beast, capturando a transição para a fase clássica de forma vibrante e definitiva.

Por fim, o Monster of Rock Festival em Doningston, em 1988, mostra o Iron Maiden em plena turnê de Seventh Son of a Seventh Son (1988): sofisticado, grandioso e teatral. “Moonchild”, “Infinite Dreams” e “Hallowed Be Thy Name” ilustram o auge da formação clássica, com Adrian Smith brilhante e a banda operando em modo épico. O resultado é uma linha do tempo sonora que atravessa clubes apertados, marcos da NWOBHM e o gigantismo dos anos 1980, mostrando a evolução do Iron Maiden reunida em um único documento, mostrando todas as mudanças de formação, ambição e atmosfera ao longo da década.


O segundo CD é, para muitos colecionadores, o centro gravitacional do Eddie’s Archive. Beast Over Hammersmith captura o Iron Maiden em 1982, no embalo da turnê The Beast on the Road, quando a banda incendiava palcos com a confiança de quem acabara de lançar um clássico do nível de The Number of the Beast. O show é lendário e, até o lançamento do box, permanecia praticamente inacessível em versão oficial.

A performance aqui é elétrica, feroz, quase violenta. Bruce canta como se estivesse tentando atravessar a parede à sua frente, Harris está mais afiado que nunca, e Clive Burr entrega uma de suas apresentações mais emblemáticas. O repertório une o vigor da era Di’Anno com a grandiosidade recém-assumida da fase Dickinson, formando um registro que se tornou obrigatório não apenas para fãs do Maiden, mas para qualquer apreciação séria da história do metal ao vivo.

Se há um motivo para Eddie’s Archive ser cobiçado até hoje, ele se chama Beast Over Hammersmith.


O terceiro álbum, Best of the B-Sides, cumpre uma função importante: compilar lados-B e faixas avulsas que, até então, estavam espalhadas pelos singles da banda, cobrindo material gravado pelos três vocalistas do grupo: Paul Di’Anno, Bruce Dickinson e Blaze Bayley. O Iron Maiden sempre gostou de experimentar fora dos álbuns principais, e esse material mostra justamente esse lado mais livre, imprevisível e por vezes surpreendente do grupo.

Há versões alternativas, covers, brincadeiras, ideias que não cabiam nos discos oficiais — tudo aquilo que se escondia nos subterrâneos da discografia. O material poderia ser ainda mais completo, já que o repertório de raridades do Maiden é vasto, mas ainda assim forma um panorama sólido dessa outra face criativa da banda, ajudando a entender melhor como o Iron Maiden pensava, testava e amadurecia ideias durante as décadas.

Eddie’s Archive não é um item para iniciantes: é para quem já está dentro da mitologia do Iron Maiden e quer aprofundá-la. A embalagem metálica, o copo shot, o “family tree”, a numeração limitada: tudo reforça o caráter de peça de colecionador. Mas o conteúdo musical é o que realmente sustenta o box. São mais de seis horas de gravações que capturam a banda em evolução constante, atravessando mudanças de formação, níveis crescentes de ambição e o nascimento de sua aura monumental.

Em um mercado onde boxes muitas vezes se limitam a reciclar material conhecido, este entrega algo raro: documentos sonoros que expandem a compreensão sobre uma das bandas mais influentes da história do metal. Para quem coleciona, para quem pesquisa ou simplesmente para quem ama a fase clássica do Iron Maiden, Eddie’s Archive segue sendo uma das edições mais importantes já lançadas pelo grupo.

Se você enxerga o heavy metal também como memória — e não apenas como audição — este box tem que estar em seu radar. Um daqueles que vale a busca, o investimento e o espaço na estante.


Comentários

  1. Grande Ricardo , parabéns pela matéria e por mostrar a grandeza desse material...eu tenho esse box e afirmo ,é SENSACIONAL!!! Um detalhe o show Best Over Hammersmith foi gravado 2 dias antes do lançamento do TNOTB , o público presente até então só conhecia a Run To The Hills... Abraço.

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