Shining: crítica de One One One (2013)


Na ativa desde 1999, a banda norueguesa Shining foi formada pelo multi-instrumentista Jørgen Munkeby quando ainda cursava a Norges Musikkhøgskole (a Academia Norueguesa de Música) e procurava por músicos para acompanhá-lo em um show que já havia sido agendado. Indo na contramão do future jazz dominante na cena norueguesa na época, o então quarteto atraiu considerável atenção pelas músicas predominantemente acústicas, tendência que se manteve até o seu segundo álbum, Sweet Shangai Devil, de 2003.

Porém, foi com o terceiro trabalho, In the Kingdom of Kitsch You Will Be a Monster, de 2005, que eles começaram a construir uma sonoridade única, incluindo elementos de rock progressivo e metal extremo em meio ao jazz, fórmula que vem se tornando cada vez mais excêntrica e complexa, e resultou em Blackjazz, o seu elogiado último disco, que definitivamente os estabeleceram como um dos mais intrigantes nomes da música escandinava nos últimos anos.

Dando um passo além da sonoridade já apresentada, "I Won’t Forget" abre o disco carregado com efeitos eletrônicos proporcionados pelas linhas de teclado, sobre passagens de jazz em um andamento tipicamente punk, enquanto o ritmo contínuo e complexo de "The One Inside" chega a lembrar uma versão mais caótica do Samael em seus discos mais recentes, em partes pela inserção dos instrumentos de sopro. Porém, nenhuma das duas chega próximo da experiência agonizante que "My Dying Drive" traz, pois a sua mixagem parece ainda mais saturada, principalmente com o baixo e os efeitos sonoros estourando nos ouvidos, enquanto "Off the Hook" apela para tempos rítmicos ainda mais confusos, conduzidos com maestria e ótimas melodias – principalmente vocais – pela banda.

Como o próprio nome define, "Blackjazz Rebels" é um bom exemplo da proposta musical dos noruegueses: esbarrar nas mais diversas vertentes sem deixar de lado a sua essência jazz e black metal, e, o flerte com o hard rock mais moderno se mostra extremamente bem sucedido, seguido por "How Your Story Ends" e a sua demonstração de estupidez técnica (vejam bem, isso não foi dito com sentido negativo – não nesse caso), principalmente se focado no trabalho de percussão inimaginável.

"The Hurting Game" retoma o ritmo predominantemente acelerado, mais próximo do black metal combinado com o punk, mas com forte presença do saxofone novamente, um dos grandes diferenciais do Shining (e que diferencial, certo?). A linha mais agressiva se mantém nos carregados riffs frenéticos de "Walk Away", uma das faixas mais extremas do álbum, que leva a "Paint the Sky Black", aonde a banda encerra o disco com elementos de punk rock e grindcore em meio a incompreensão de tempos jazzísticos esquisitos que mudam pancada após pancada.

Não à toa, a expressão que permanece após o encerramento de One One One é exatamente esse: não é fácil definir o que exatamente se passou nos últimos 36 minutos, se realmente foi entendido o que a banda se propôs a gravar ou qualquer detalhe. A forma brusca como a experiência termina é como acordar depois de sonhar que está caindo, quando você subitamente procura vestígios de que realmente não está mais dormindo. Boa parte desse incômodo que pode trazer aos não familiarizados à sonoridade do Shining se deve a produção ainda mais caótica que eles tem adotado, principalmente no que diz respeito aos tons mais graves, excessivamente distorcidos, mas que tornam a sua proposta ainda mais interessante. 

One One One não deve ser ouvido apenas uma vez, nem no momento errado, sem estar completamente focado. Ele pode se tornar compreensível com o tempo, talvez até agradável. E assim como o seu antecessor, é uma obrigatória obra da música extrema a ser ouvida em 2013.

Nota 8

1. I Won’t Forget
2. The One Inside
3. My Dying Drive
4. Off The Hook
5. Blackjazz Rebels
6. How Your Story Ends
7. The Hurting Game
8. Walk Away
9. Paint The Sky Black 

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Gosto demais dessa banda. Dos poucos lugares onde o experimentalismo estacionou no metal.
    Confesso que tem coisas que são muito vanguarda pra mim, como aqueles metais utilizados nas músicas ... sempre estranho os sax ... mas acho legal.
    Vida longa a coisas assim.
    Valeu pela resenha.

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