Discoteca Básica Bizz #021: Pink Floyd - The Dark Side of the Moon (1973)


Polêmico, este disco. Gravita entre a absoluta adoração de sues fiéis e a crítica não menos feroz dos seus detratores. É bom sinal. Será mesmo a grande obra de Roger Waters (baixo, vocal), Rick Wright (teclados), David Gilmour (guitarra, vocal) e Nick Mason (bateria)? 

Alguns poderão preferir The Piper at the Gates of Dawn, de 1967, o primeiro LP da banda, quando seu líder era um louco iluminado e genial chamado Syd Barrett, ou ainda Ummagumma, de 1970, a soma definitiva do rock psicodélico. Quem sabe os mais de 20 milhões de cópias de Dark Side of the Moon vendidas no mundo inteiro e sua permanência por 630 semanas consecutivas nas listas dos mais vendidos da Billboard - recorde absoluto - possam ratificar essa escolha. Mesmo que as más línguas digam que muitos o adquiriram apenas para testar a estéreo-quadrifonia de seu equipamento de som, o que não deixa de ser um elogio, de certa forma.

Foram oito meses de gestação nos famosos estúdios Abbey Road de Londres, em clima geral de renovação. A palavra de ordem: a música deveria ser mais amarrada, mais próxima à urgência do rock. No final de 1972, o material estava pronto. Para fazer a mixagem, Roger Waters chama Chris Thomas, que já havia participado da mixagem do duplo álbum branco dos Beatles e produzido os LPs Grand Hotel, do Procol Harum, e For Your Pleasure, do Roxy Music. 

"Cada um tinha uma ideia diferente do que devia ser feito. Precisávamos fazer a síntese de tudo isso." Todos concordavam com pelo menos uma coisa - a ordem dos títulos deveria transmitir uma ideia de progressão e variação em torno de um mesmo tema: "São todas as pressões da vida moderna que podem nos levar à loucura. Essas pressões tem por nome dinheiro, viagens, planejamento, que nós músicos sentimos muito mais que o homem da rua. Quando tudo vacila, chega-se ao estado patológico do lunático" (David Gilmour). Pela primeira vez o Pink Floyd aderia ao álbum conceitual.


Todas as faixas foram concebidas como filmes sonoros, feitos de bandas magnéticas preparadas por Nick Mason. Batidas de coração, respiração, passos, relógios, risos histéricos, gritos, moedas caindo e caixas registradoras não somente servem de ilustração como se integram à própria estrutura rítmica da cada composição, em particular na sequência "Speak With Me" / "Breathe" / "On The Run” e em "Money", hit entre os hits. Se a força da evocação desses sons é extraordinária, eles não interferem com os momentos mais líricos do álbum, como em "The Great Gig in the Sky", onde, sobre o fundo de piano e órgão Hammond, Clare Torry edifica uma interpretação vocal que figura entre as mais pungentes e líricas da década. Em "Brain Damage", Roger Waters tece uma vibrante homenagem a Syd Barrett, numa reconstituição poética atormentada do universo da alienação.

Se Dark Side of the Moon parece trazer uma certa pasteurização do som do grupo, se os caleidoscópios de cores que dominavam as longas viagens lisérgicas dos LPs precedentes se transformaram num prisma de onde as cores surgem ordenadas e limpas (uma metáfora certeira para descrever a nova importância do estúdio, agora transformado em espaço central de criação, o que torna a música mais artificial e deixa seus autores mais distantes), em compensação os avanços técnicos primorosos exibidos por este álbum - em particular a tomada de som, a cargo de um certo Alan Parsons - ajudaram a banda a alcançar uma força de expressão cósmica capaz de unir o passado à modernidade, que só encontra paralelo num disco lançado por coincidência no mesmo ano: a trilha sonora de Laranja Mecânica.

Levantando as barreiras que opunham até então as gerações musicais, o Pink Floyd jogou as bases para a criação de uma música ao mesmo tempo moderna e universal.

(Texto escrito por Jean-Yves de Neufville, Bizz#021, abril de 1987)

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