Minha Coleção: a memória viva do rock na coleção de discos de Salvatore D'Angelo


Salvatore, nós conversamos pela primeira vez há pouco mais de dez anos. Sua entrevista foi uma das primeiras da Collectors Room, e foi publicada no início de janeiro de 2008, antes mesmo de a coluna se transformar em um site. O que mudou de lá pra cá na sua coleção?

A quantidade de vinis aumentou relativamente. Tenho comprado, a maioria por importação, LPs com lançamento de estúdio. Digo isto porque, quanto aos itens ao vivo que geralmente são lançados em DVDs, dou preferência a este formato. Tenho adquirido também muitos filmes e séries. Adoro cinema, principalmente o norte-americano, inigualável!

Passado todo esse tempo, acho que vale a pena fazer tudo de novo. De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome artístico é Salvatore D’Angelo. Sou bancário formado em Administração com especialização em Informática. Curto e coleciono rock (com R maiúsculo!) desde a minha “aborrescência”, indo do blues ao death metal. Minha vida rock & heavy teve início nos áureos anos 1970 (Sabbath & Zeppelin & Purple, Status Quo, Foghat, Heart e Emerson Lake & Palmer são as minhas referências quando se fala desta década) e continuo acompanhando tudo que ocorreu e que vem ocorrendo nos dias de hoje. O rock não morreu! Existe muita gente competente e sempre existirá. Assim como as pessoas evoluem, a música também, que é o reflexo da vida de cada um de nós naquele momento. Se a vida atual é repleta de violência, isso será refletido na música.

O nome artístico vem do fato de eu ter atuado entre 1999 e 2003 como redator de heavy metal especializado em resenhas de shows de bandas nacionais para a Die Hard (loja e produtora musical localizada na Galeria do Rock, em São Paulo), quando passei a assinar minhas matérias como Joseph Salvatore e, posteriormente, como citado anteriormente. Escrevi para o zine O Grito editado pela Die Hard e também para o meu web zine, O Berro, também da Die Hard e que fez parte do Whiplash no segundo semestre de 2003.

Raramente perco um show e dou muito valor para as bandas nacionais. De algumas, contabilizo dezenas de apresentações assistidas: Patrulha do Espaço, Nuno Mindelis (melhor bluesman brasileiro), Ratos de Porão, Sepultura, Krisiun e Korzus, por exemplo. Como show inesquecível da minha vida rock and roll cito o Status Quo no então Credicard Hall em uma sexta-feira, dia 14 de fevereiro de 2003. Até hoje devo ter assistido a uns quinhentos, pelo menos. Possuo uma extensa memorabilia composta principalmente por centenas e centenas de revistas e zines, livros, milhares e milhares de artigos de jornais e revistas, pôsteres, flyers de eventos diversos e principalmente de shows, centenas de fotos de shows tiradas por mim, centenas de canhotos de ingressos, muitas dezenas de credenciais, diversos itens autografados, mais de 60 camisetas … enfim, este é o meu hobby e certamente o será até o fim dos meus dias.

Para me manter atualizado visito o Whiplash religiosamente todos os dias, assino a Roadie Crew (possuo todas as edições desde o número zero) e acompanho regularmente o Backstage do Vitão Bonesso. Considero referências seguras e honestas para quem quer se manter atualizado.




Quantos discos você tem em sua coleção? 

8.405 CDs, DVDs e LPs de bandas internacionais; 2.756 CDs, DVDs e LPs de bandas nacionais; e 3.295 filmes e séries. A título de curiosidade, o total de LPs é de 2.198 discos. A esta altura, a quantidade já é outra.

O quanto ela cresceu de 2008 pra cá?

Aproximadamente uns 300%.

Quando você começou a colecionar discos?

Por volta de 1977 com Black “4Ever" Sabbath, Led “Eternal" Zeppelin, Deep Purple, ELP e Focus.




Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Sim, claro. Lembro e tenho: o primeiro disco da Suzi Quatro, de 1973, aquele com a gata e sua banda na capa em preto e branco.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Quando eu descobri a pioneira Wop Bop, especializada em discos usados e raridades de rock na galeria, que futuramente seria do rock (e que hoje, lamentavelmente … mas ainda existem algumas boas lojas) com todas aquelas pérolas importadas, além das nacionais e que toda semana eu e meu irmão parávamos e comprávamos alguns LPs. O primeiro importado da minha vida foi o Sabbath Bloody Sabbath do Black Sabbath from USA, cujo verso da capa é colorido (o nacional não é assim).

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Os CDs e DVDs em ordem alfabética e em caixas de papelão feitas sob medida. Cada caixa acomoda aproximadamente 30 CDs ou 20 DVDs. CDs separados de DVDs com shows, e separados de DVDs com filmes/séries. Os LPs estão em pé na parte mais alta de um guarda-roupas da minha patroa, longe do alcance dos curiosos. Tudo que possuo está devida e obrigatoriamente cadastrado em dia.





Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Roubei espaço em dois guarda-roupas de minha esposa, que é muito paciente comigo quanto à minha coleção. E também em uma estante grande na sala, em outra menor e em uma cômoda que aos poucos estou tomando conta. A grande maioria das caixas está muitíssimo bem organizada no “quarto da bagunça”, em prateleiras feitas especialmente para elas.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

As mídias magnéticas podem ser lavadas. É interessante que estejam livres de poeira e gordura dos dedos, para não prejudicar a reprodução e o equipamento. Os LPs também podem ser lavados, mas com cuidado para não descolar e/ou esfolar os selos. Nunca empilhá-los! Sempre mantê-los em pé com uma leve inclinação para não provocar empenamento. Nunca deixe-os na horizontal e nem com uma inclinação muito forte.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

A grande maioria só uma vez. Frequentemente não consigo ouvir logo em seguida o que compro, e muito menos novamente o que já tenho. Devido a isso, é normal que ocorra a compra de itens repetidos, principalmente quando reeditados com capas diferentes das originais. Tenho uns 40 LPs comprados de 2016 pra cá que não consegui ouvir e conhecer, e nem sei quando conseguirei. Quanto aos filmes e séries, sem condições! A grande maioria nunca assisti. Nem tenho deslacrado minhas novas aquisições. Coisa de louco - ou melhor, de colecionador maluco mesmo, eu sei!





Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Olha Cadão, não tenho um estilo preferido e posso dizer que tenha bandas do coração. Curto bastante death e fast thrash principalmente, e diversas bandas de várias épocas e estilos. Por exemplo, adoro o ELP. Pra mim, eles estão no topo do progressivo 70. Status Quo no auge do hard 70. Napalm Death e Cannibal Corpse, death metal dos 80s ainda na ativa.

De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Exatamente 101 itens dos Beatles e 98 do Black Sabbath.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Em relação a raridades, é difícil especificar. Como iniciei a minha coleção em 1977, há muitas raridades em vinil e que não foram relançadas em CD. Quanto aos que mais gosto, são esses:

Picture do Sgt. Peppers, dos Beatles - edição limitada com o Lado A estampado com a capa do álbum e o lado B com a estampa do bumbo de bateria

LP duplo do Hammer of the Witches (Bitches), do Cradle  of Filth - Cheio de gostosas nuas nos quatro lados e em toda a capa

Box do Made in Japan, do Deep Purple - 9 LPs, sendo três LPs de cada dia da turnê japonesa da época. Nunca ouvi

The Song Remains the Same, do Led Zeppelin - 4 LPs (também nunca os ouvi)

Box Bonfire, do AC/DC - 2 CDs simples, um CD duplo, CD digipack do Back in Black, palheta, adesivo e abridor de garrafa

Super box Shine On, do Pink Floyd - 9 CDs, livro e mais. Comprei em um sebo perto de casa a preço praticamente de banana

Live Tokyo Dome in Concert, do Van Halen - 4 LPs, ainda não os ouvi

Box do Uriah Heep - 3 CDs digipak mais 3 CDs duplos ao vivo, com arte maravilhosa e fascinante

Saxon - Todos os 10 primeiros álbuns em CD paper sleeve

Box 20 Years Immersed in Blood, do NervoChaos - Os quatro primeiros álbuns em vinil, mais LP picture e CD Alive XVII, mais 4 DVDs Live e o documentário

LPs raros: live in Japan das Runaways, Dreamboat Annie do Heart, Motörschool (compacto em 12 polegadas unindo Motörhead e Girlschool), Capturados Vivos em Buenos Aires 2014 do Patrulha do Espaço (nunca ouvi, está no plástico ainda) e compactos do Joelho de Porco.

Não posso esquecer de citar algumas coleções de bandas nacionais como Ratos de Porão, Korzus, Sepultura, Torture Squad, NervoChaos, Krisiun, Andralls, Patrulha do Espaço, Joelho de Porco, Nuno Mindelis (com direito a citação autografada na capa do primeiro LP), entre outras. 





Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Pois é, eu coleciono versões diferentes, entre LPs e CDs, dos álbuns que mais gosto. Devo ter uma dez edições do Brain Salad Surgery do ELP, umas 8 do Sgt. Peppers, umas 6 do primeiro do Motörhead, umas 6 do Led Zeppelin IV, …

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Nem pergunta … sim: centenas de selos, milhares de moedas e adesivos, centenas de livros e revistas de rock, centenas de chaveiros, 105 sharpeners (apontadores em formato de miniaturas, cuja finalidade - apontar - é o que “não" importa), 65 camisetas (a maioria com pouquíssimo uso). A coleção mais querida, após os meus discos, é a de carrinhos Die Cast (colecionáveis de metal) e de controle remoto - uns 560. Dentre eles: carretas de 40 cm Hot Wheels AC/Dc High Voltage, Kiss Destroyer e Joan Jett, Mach-5 Speed Racer 1:10 CR (nunca rodado), McLaren Mercedes SLR 1:12 CR (idem), Batmóvel anos 1960 1:12 (idem), F1 Ferrari e Benetton Renault 1:20, Ferrari Esporte F430 e FXX CR e vários, muitos 1:25 tunados.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Ainda existem algumas boas lojas aqui em Sampa, com grande variedade e preços razoáveis, mas são poucas. Tenho comprado direto com alguns distribuidores e em uma determinada loja da Alemanha (vinis, principalmente) pela net e/ou telefone.




Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Locomotiva Discos no centro de São Paulo, na Galeria dos Vinis. Variedade muito grande, preços bons, site atualizado diariamente com todos o estoque e negociação flexível.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Não me recordo de algum lugar pitoresco. Há um fato curioso sobre a compra de um LP picture nada a ver com rock e metal. Trata-se de um vinil promocional de 1989 com gramatura próxima aos atuais 180 gramas, com a foto da então garota Angélica em ambos os lados. Outro fato curioso: na tarde em que o comprei, fui para a Galeria do Rock e encontrei o meu amigo de infância João Gordo com os malucos da banda, e pedi que autografassem o encarte tipo pôster do picture da Angélica. O que aconteceu? Claro que zoaram adoidado! E claro que tenho este play até hoje, e claro que nunca ouvi. Pesquisando pela net, soube que trata-se de um álbum com músicas natalinas.

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Muitas tiram uma, dizendo que eu enquanto eu gasto uma grana elas tem um monte de coisas a custo zero. Isto não é coleção e nunca será! São colecionadores de araque.

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Não. Há outro fato curioso: tenho um gosto musical muitíssimo parecido com o do Vitão Bonesso, líder e baterista do Electric Funeral. Nos conhecemos desde 1988, ano do Backstage no ar pela 97 FM em Santo André. Claro que assisti a dezenas de shows deles. Conheci muitas e muitas bandas através do programa.


Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Incalculável. Uma boa parte da história do rock dos anos 1970 pra cá está também comigo, com muito orgulho.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Pura utopia! Colecionar não tem fim, infelizmente. Tortura!

O que significa ser um colecionador de discos?

Manter um estilo da cultura musical em sua forma original: física, em discos, seja qual for o meio (LP, CD, DVD, …).


O que significa pra você ter mostrado e voltar a mostrar a sua coleção aqui na Collectors Room?

Compartilhar um estilo musical presente no mundo todo e trocar informações e curiosidades. Considero como um estudo a manutenção do meu hobby.

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

No momento e na medida do possível, estou ouvindo e conhecendo o hardão sulamericano dos anos 1980, com bandas argentinas, uruguaias e chilenas. Adquiri alguns álbuns em vinil do Horcas (baita bandaça maravilhosa), Trem Loco, a maioria picture ou coloridos. Uma que muito me surpreendeu foi El Dragon, da Argentina, que apresenta um excelente speed metal com teclados muitíssimos bem arranjados. Recomendo!

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