Review: Dark Avenger - The Beloved Bones: Hell (2017)


The Beloved Bones: Hell é o quarto álbum da banda brasileira Dark Avenger. Ele foi lançado em agosto de 2017, porém só o recebi no início de dezembro. Poucas semanas após o disco chegar, fui surpreendido com a morte repentina do vocalista Mário Linhares. 

Quando isso acontece, as coisas mudam de figura. Analisar um disco tendo todo esse contexto é uma tarefa que acaba resvalando invariavelmente para a emoção, ainda mais se quem escreve já acompanhava a carreira do artista há um certo tempo, como é o meu caso. Em situações assim, os elementos adquirem novos significados, os detalhes ganham novas formas. É o caso, por exemplo, da linda melodia de violino que abre The Beloved Bones. Antes ela era apenas uma introdução. Com a morte de Linhares, adquire uma carga emocional enorme e soa como a trilha para despedida de um dos maiores vocalista do metal brasileiro.

The Beloved Bones: Hell é o quarto álbum do Dark Avenger e foi lançado de forma independente em um lindo digipak com acabamento gráfico de primeira. O disco encerra uma discografia que conta com o debut autointitulado (1995) e a dobradinha Tales of Avalon: The Terror (2001) e Tales of Avalon: The Lament (2013), além do ao vivo Alive in the Dark (2015) e do EP X Dark Years (2003). 

Musicalmente, a banda formada por Mario Linhares, Hugo Santiago (guitarra), Glauber Oliveira (guitarra, que também assinou a produção), Gustavo Magalhães (baixo) e Brendon Hoffmann (bateria) entrega o seu trabalho mais ambicioso, executando um power metal que insere expressivos elementos de música clássica, resultando em uma sonoridade rica e que demanda atenção do ouvinte para ser assimilada em sua totalidade. As onze músicas do disco apresentam diversos movimentos e mudanças de climas, soando às vezes como capítulos de uma espécie de ópera, onde sentimentos e conflitos são jogados no palco e entregues ao público.

Além do universo sonoro habitual ao power metal, o Dark Avenger insere também alguns flertes com a música oriental em certas passagens, o que ajuda o disco a ficar ainda mais interessante. Há também todo um estudo filosófico presente nas letras, em um trabalho bastante pessoal de Mário Linhares e que, tendo em vista tudo o que aconteceu, acaba soando como uma espécie de manifesto sobre a vida e que fica eternizado neste disco.

Há muitos anos o Brasil está inserido não somente entre os principais mercados para o metal em todo o mundo, mas também entre os grandes centros produtores do estilo. Temos toda uma leva de álbuns que podemos considerar clássicos do metal nacional sem fazer muito esforço. Esta lista ganha um representante de peso com The Beloved Bones: Hell, e isso não se dá apenas pela perda precoce de Linhares. A profundidade dramática do álbum, a riqueza musical de suas composições e a força criativa mostrada em cada detalhe colocam este último trabalho do Dark Avenger entre os melhores CDs já gravados por uma banda brasileira.

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