Discos Fundamentais: Led Zeppelin - Physical Graffiti (1975)


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room

Sempre quis responder aquelas entrevistas em que o cara pergunta coisas tipo “
qual disco você levaria para uma ilha deserta?”. Desde os meus dezessete anos, a resposta é a mesma: o disco que eu levaria para uma ilha deserta, que salvaria da minha casa pegando fogo, que indicaria para um amigo, é o Physical Graffiti, sexto álbum do Led Zeppelin.

Não sei explicar. Vamos, então, tentar entender. Antes de descobrir Page e companhia, a minha vida era regada exclusivamente por heavy metal. O primeiro disco que comprei foi o
’74 Jailbreak do AC/DC, e na sequência descobri Iron Maiden, Metallica, Venom, Judas Priest, Black Sabbath e toda aquela turma. Ou seja, meu aparelho de som era incompatível com sons mais calmos, ele só reconhecia guitarras distorcidas.

Então, um dia encontrei "Stairway to Heaven". Não lembro onde, nem como, só sei que ouvi essa música tanto, mas tanto que sabia a letra de cor, era capaz de escrevê-la inteira. Mas até aí, tudo beleza. Comprei alguns discos (o
IV, o Presence, o The Song Remains the Same), mas, mesmo assim, não estava preparado para o choque que tive quando ouvi pela primeira vez o Physical Graffiti.

O disco das janelinhas mexeu com a minha cabeça. Definitivamente. Foi com ele que eu percebi que a música era muito mais. Aquelas quinze faixas me fizeram crescer, viajar, e até hoje, quando as escuto, me trazem grandes e inesquecíveis recordações, sempre novas, sempre diferentes.

Physical Graffiti me chocou bastante, primeiramente, por três músicas. São elas: "In My Time Of Dying", "Kashmir" e "In the Light". "In My Time Of Dying" é, até hoje, a música mais impressionante que eu já ouvi. A bateria de John Bonham nesta faixa justifica todos, absolutamente todos, os comentários passados, presentes e futuros sobre a sua técnica e sobra a sua potência. Cada vez que ela entra você sente um pontapé no peito. A mais chocante canção gravada pela banda faz qualquer pessoa, na primeira vez que a escuta, dar um pulo da cadeira e ficar alguns instantes em silêncio ao seu final. Precisa dizer mais alguma coisa?

"Kashmir" é uma das faixas mais conhecidas do grupo, e um dos maiores clássicos da história do rock and roll. Com o seu andamento cadenciado, que lembra a batida de um coração, mostra o enorme talento de Page e Plant como compositores, buscando no oriente novas sonoridades para o Zeppelin.

E "In the Light" é a mais viajandona das três. Com o seu início também remetendo ao oriente, traz uma interpretação magistral de Robert Plant, uma das melhores de toda a sua carreira. Toda a banda executa a música como se estivesse em outro nível, em outro plano. E, ao ouvi-la, você, ao fechar os olhos, realmente é transportado para o mundo mágico dos
zeppelins. Recomendo a experiência.

Com o passar dos anos, ouvindo o disco mais e mais e mais e cada vez mais, fui descobrindo milhares de detalhes perdidos em cada faixa. "Custard Pie" é a típica canção que só o Led Zeppelin poderia criar; "The Rover" mostra para qualquer banda do mundo como compor um heavy metal clássico; "Houses of the Holy" é rock and roll em seu estado mais puro; "Trampled Under Foot" não tem explicação; "Bron-Yr-Aur" é Jimmy Page brincando com o seu violão (e até brincando ele é genial); "Down by the Seaside" é uma das minhas baladas favoritas desde sempre; "Ten Years Gone" é uma das mais belas canções já escritas; e as coisas seguem por esse nível.

O Led Zeppelin gravou grandes, maravilhosos discos durante a sua carreira.
Led Zeppelin I, Led Zeppelin II, Led Zeppelin III, Led Zeppelin IV e Houses of the Holy estão entre os melhores momentos da história do rock. Todos eles estão repletos de grandes clássicos, um é melhor que o outro. Mas foi com Physical Graffiti que o Led Zeppelin marcou o seu nome a ferro e fogo no DNA do rock and roll. É o seu último grande disco, a prova definitiva e escancarada de como a reunião de quatro gênios no auge de sua juventude pode gerar obras-primas de cair o queixo.

Physycal Graffiti é um dos melhores discos da história do rock para mim, e tenho certeza de que para muitas outras pessoas também. Escute-o. Conheça-o. Não passe por essa vida sem viver essa experiência. Tenho certeza de que você não vai sair imune após uma audição.


Faixas:
A1. Custard Pie - 4:14
A2. The Rover - 5:37
A3. In My Time of Dying - 11:06

B1. Houses of the Holy - 4:02
B2. Trampled Under Foot  5:36
B3. Kashmir - 8:28

C1. In the Light - 8:47
C2. Bron-Yr-Aur - 2:06
C3. Down by the Seaside - 5:16
C4. Ten Years Gone - 6:33

D1. Night Flight - 3:37
D2. The Wanton Song - 4:09
D3. Boogie With Stu - 3:53
D4. Black Country Woman - 4:32
D5. Sick Again - 4:43

Comentários

  1. Boa matéria Cadão. Eu também tive uma experiência incrível com o Physical, e particularmente, as três músicas que você citou (In My Time, Kashmir e In The Light) também foram as que mais me impressionaram. Tudo o que você falou encaixa no que senti, principalmente pelo fato de antes do Physical, eu só conhecia o IV, o presence e o The Song remains The Same. Obviamente, In My Time ganhou mais moral depois de que realizei uma "festinha" com a minha ex-namorada (cara, coloquem essa música antes de ir pra cama com sua mulher e veja o que os gritos de Robert Plant podem fazer, é disparada a melhor música pra isso). Creio que só fui realmente entender por que o Physical era tão bom após ouvir o cd triplo "Brutal Artistry", onde mostra em detalhes o que rolou durante os 18 meses de gravação desse álbum. É incrivel ouvir, por exemplo, as camadas de guitarras sendo adicionadas uma por uma na faixa The Wanton Song, bem como a trabalheira na composição e construção de Trampled Underfoot. Esse bootleg é um belo complemento para o álbum aqui descrito e facilmente encontrado para download.

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  2. Bela resenha, para esse monolito do rock'n'roll!

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