Discos Fundamentais: Bruce Dickinson - Accident of Birth (1997)


Por João Renato Alves

Após o excesso de experimentações de Skunkworks (1996), Bruce Dickinson decidiu retornar ao que sabia fazer melhor. Convocou seu amigo Roy Z e a cozinha do Tribe of Gypsies para gravar um álbum pesado, totalmente voltado para o heavy metal. Isso gerou algumas críticas do então desafeto Steve Harris, que disparou: “Bruce lançaria um álbum de música country se achasse que faria sucesso”.

As primeiras ideias musicais começaram a surgir e o vocalista sentiu que poderia encaixar mais uma peça na nova engrenagem. Assim, deu a cartada de mestre chamando o eterno parceiro Adrian Smith, com quem escreveu várias das músicas mais memoráveis do Iron Maiden.

O resultado é conferido na prática, já que Accident of Birth é um dos melhores discos de heavy metal tradicional lançado nas últimas décadas. Pesado, consistente, com melodias marcantes, deixa sua marca desde a primeira audição. Era a prova que o mundo precisava de que o Mr. Air Raid Siren não tinha esquecido a fórmula da consagração.


Até a capa, para manter o clima de volta aos bons tempos, foi desenhada por Derek Riggs, com o personagem Edison (entendeu o trocadilho?) sofrendo um acidente de nascimento. Como, segundo Bruce, os americanos são muito maricas, a arte foi censurada. O jeito foi disponibilizar um desenho mais limpo, apenas com a mascote. E essa foi a versão lançada por aqui. Ao menos, ganhamos faixa-extra.

O conteúdo lírico é um dos mais violentos que Dickinson já registrou. Fontes extra-oficiais dão conta que Rod Smallwood sempre se preocupou para que as letras do Iron Maiden não fossem encaradas como nada além de fruto da imaginação, não passando de determinado ponto que se tornassem opinativas demais, especialmente sobre religião. Aqui a coisa toma um rumo totalmente oposto. Temas apocalípticos, abordagens colocando Jesus como pecador, omisso e passivo, críticas explícitas contra organizações que vendem a fé, além de referências a alquimia – que se ampliria em The Chemical Wedding, trabalho posterior – são o prato principal.


Falando nas músicas, é impossível identificar um ponto fraco no disco. Desde o começo arrasador, com as guitarras agressivas de “Freak”, temos uma verdadeira aula no estilo. Na mesma linha, a fantástica faixa-título e o hit “Road to Hell” (aquela paradinha entre refrão e solo é inigualável) se sobressaem. A climática “Darkside of Aquarius” é até hoje uma das favoritas dos fãs. “The Magician” e a bônus “The Ghost of Cain” contam com ecos do passado para fazer a festa dos saudosistas, especialmente as guitarras da segunda, no melhor estilo oitentista.

A balada “Man of Sorrows” é outro destaque, com sua inspiração em Aleister Crowley. Encerrando, uma dobradinha pra ninguém botar defeito, com a densa “Omega” e a bela acústica “Arc of Space”.

Graças a Accident of Birth, Bruce Dickinson reconquistou um espaço que, na realidade, sempre esteve vago. Era o primeiro passo para a volta do grande monstro do heavy metal, que se consolidou pouco tempo depois. Mas, honestamente, não alcançaram o nível desse álbum, nem de seu sucessor. Mera opinião pessoal.


Faixas:
1 Freak 4:15
2 Toltec 7 Arrival 0:37
3 Starchildren 4:17
4 Taking the Queen 4:49
5 Darkside of Aquarius 6:42
6 Road to Hell 3:57
7 Man of Sorrows 5:20
8 Accident of Birth 4:23
9 The Magician 3:54
10 Welcome to the Pit 4:43
11 Omega 6:23
12 Arc of Space 4:18

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