Axl Rose não merece os fãs que tem



Em 1991, não havia nada maior que o Guns N' Roses em todo o planeta. A banda havia lançado um álbum megalomaníaco, porém muito bom – os dois volumes de Use Your Illusion -, lotava estádios nos quatro cantos do mundo e sua influência ia muito além da música, respingando na cultura, na moda e no comportamento de toda uma geração. Axl Rose, Slash e companhia estavam no ápice, colhendo os louros de uma trajetória que havia começado em meados dos anos oitenta nos clubes noturnos de Los Angeles.

Corta para 2011. Hoje, poucas coisas são mais constrangedoras do que assistir Axl Rose e a trupe que o acompanha ao vivo. Ontem, fechando o Rock in Rio, isso ficou claro para os milhares de fãs brasileiros que ainda acreditavam, em sua vã inocência ou mera cegueira fanática, que, ao anunciar o Guns N' Roses, o RiR os entregaria o grupo que fez história no mesmo festival em 1991. O que vimos no palco encharcado da última noite do Rock in Rio foi um festival de bizarrices mais adequado aos freak shows que viajavam os Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX.

Axl Rose é idolatrado no Brasil. Aqui, em nosso país, ele é uma espécie de deus. Grande parte dos fãs o enxerga como um ser especial, acima do bem e do mal, para quem tudo é permitido. Essa idolatria alimenta o mundo fantasioso em que Rose vive, cercado por dezenas de assessores e quilos de cocaína, que, juntos, o transportam para uma realidade onde ele imagina ainda estar no início dos anos noventa. Não há mais Slash, não há mais Duff, não há mais Izzy ao redor de Axl para produzir a sonoridade pesada e violenta que caracterizou o Guns até Use Your Illusion. A banda que o acompanha hoje em dia mais parece um conjunto de cabaré formado por seres esquisitos, reunidos como parasitas ao seu redor.

As mais de 100 mil almas que ontem estiveram no Rock in Rio eram formadas, em sua maioria, por pessoas que conheceram o rock através do Guns N' Roses. E é justamente aí que está o maior mérito da banda: em seu auge, quando estava no topo, o grupo atraiu milhões de novos ouvintes para o gênero. Porém, o problema é que a maioria desses ouvintes ficou só no Guns mesmo, não se interessando por outros nomes dentro do estilo e cultuando, até hoje, a imagem idealizada que foi a trilha-sonora de suas juventudes.

Axl Rose, com todas as suas esquisitices, se transformou em uma espécie de Michael Jackson do hard rock, habitando uma realidade alternativa doentia e catastrófica, onde tudo gira conforme as suas variações de humor. Um cara como Axl só alcança, atualmente, o posto de atração principal em festivais como o Rock in Rio, que acontecem em países onde o seu passado ainda é idolatrado, sabe-se lá a razão. Em eventos que estão alinhados com o que ocorre atualmente na música, Axl e sua banda atual passariam longe do palco. Basta ver o cast dos festivais europeus, que, apesar de promoverem o retorno de diversos ícones dos anos oitenta, tem bom senso e sabem que o negócio de Axl atualmente gira em torno de tudo, menos da música.

Deu pena ver o que o vocalista fez com o seu público ontem, no Rock in Rio. Uma audiência formada por dezenas de milhares de pessoas de todas as regiões do Brasil, que se deslocaram para o Rio de Janeiro em busca de sonhos e ilusões, esperaram pacientemente o desfile de atrações que desfilavam pelo palco - algumas ótimas, como o System of a Down, outras que nem merecem comentários, como o Detonautas -, passaram horas de pé em um evento ao ar livre e, pra piorar tudo, ainda foram brindadas com uma chuva torrencial sobre suas cabeças. Tudo o que essas milhares pessoas precisavam era que Axl Rose fizesse o mínimo, apenas o necessário, sem maiores esforços, e elas já estariam satisfeitas. Mas não. Axl nem isso consegue fazer mais. Perdido em sua própria fantasia de rock star, Rose entrou acompanhado por uma banda perdida e que errava notas em profusão, e, para piorar, provou que a sua voz está a séculos de distância do que já provou ser capaz.

Axl Rose não merece os fãs que tem. Se você gosta de Guns, não seja tolo de tentar reviver o passado da banda através do trabalho que Axl faz atualmente. Se você quer sentir o gostinho do grupo hoje em dia, ouça o que Slash anda fazendo. O guitarrista gravou um ótimo disco em 2010 e está tocando sem parar pelo mundo. O mesmo vale para o baixista Duff McKagan, que acabou de lançar um álbum novo com o seu grupo Loaded. Mas, em relação a Axl, a única coisa que se pode dizer é que aquele ícone que foi objeto de desejo das garotas e ídolo dos adolescentes no final dos anos 1980 e início dos 1990 hoje é apenas uma piada de mau gosto vestida em figurinos espalhafatosos.

Pensando bem, o Axl Rose atual guarda similaridades com os finados Reis do Pop e do Rock: ele é tão esquisito quanto Michael Jackson em seus últimos dias e está cada vez mais parecido, em todos os sentidos, com o balofo Elvis que era atração de gala nos cassinos de Las Vegas na década de setenta. Aliás, pode estar aí o futuro de Axl: se transformar em crooner para clones de Donald Trump e Chiquinho Scarpa.

Comentários

  1. Isso é triste, o pior de tudo é o fã crer em uma futura reunião, creio que se isso aconteça, os outros integrantes, que como vc comentou, lançaram otimos trabalhos, só vão se sujar ao lado dessa "Biruta de posto vermelha". Isso não vai acontecer, a não ser se role um hall da fama do rock and roll, mas msm assim é dificil.....mas sinceramente.....eu fui dormir!!

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  2. Ralf, o Guns foi indicado para o Hall of Fame e, na próxima edição, receberá o seu prêmio. Aí está a dúvida: a formação original vai se reunir e tocar?

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  3. Cadão, disse tudo. Eu assisti boa parte do show ontem e você conseguiu traduzir muito bem. Uma pena. O cara se transformou na sombra do que foi um dia. Chegou a dar uma tristeza quando o Multishow passou umas cenas da banda no auge e logo após apareceu o Axl atual, com um figurino ridículo, cantando de forma deplorável. Chegou ao cúmulo daquele guitarrista barbudo errar notas e acordes porque não conseguiu tocar com a máscara de trooper abaixada. Bem triste. O negócio é continuar ouvindo os bons álbuns. Estes estão aí pra gente e não vão mudar nunca.

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  4. O Guns não é Guns desde que todos saíram e só restou o Axl.
    O Axl não é mais Axl desde antes de 2001 quando passaram por aqui.
    Não sei o que os promotores e fãs xiitas (nos quais não me enquadro) ainda querem ver no palco.
    Não acho que seria uma boa reunir a formação clássica, como você disse O Slash e Duff estão em plena forma, não sei se Izzy está tocando, mas deve estar.
    Mas Axl e Steven Adler estão um caco.
    Ainda bem qu enão fiquei acordado ontem...

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  5. Concordo com o texto até a parte do “Se você quer sentir o gostinho do grupo hoje em dia, ouça o que Slash anda fazendo. O guitarrista gravou um ótimo disco em 2010 (de onde você tirou essa idéia, foi o Régis Tadeu que disse e você achou legal né?) e está tocando sem parar pelo mundo. O mesmo vale para o baixista Duff McKagan, que acabou de lançar um álbum novo com o seu grupo Loaded.”. Pra mim essa ‘dica’ é tão bizarra quanto ter o atual GN’R como headliner, menos vai...

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  6. Amigo, a minha opinião sobre o disco do Slash foi tirada de um texto que eu mesmo escrevi, em julho de 2010: http://bit.ly/paRipy

    Abraço, e obrigado pelo comentário.

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  7. Cara...
    Eu acho isso tudo muito triste...
    A metáfora perfeita pra situação destes artistas é o filme o LUTADOR ....
    Se vcs não assistiram recomendo muito...
    No mais não assisti e nem vou ver esse espetáculo de degradação humana... realmente uma pena...
    Abraços

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  8. Ricardo, apesar de não ser o tópico do post, gostaria que você falasse mais sobre o trecho "outras que nem merecem comentários, como o Detonautas".
    Não sou fã deles, mas a mim, parecem que são sinceros, verdadeiros no que fazem. Você parece ter uma opinião bem diferente?

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  9. Rodrigo, acho o Detonautas uma das piores bandas do Brasil, só isso.

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  10. Pelos nível dos fãs de Guns que eu conheço até acho que ele merece sim os fãs que têm...

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  11. Ricardo Seelig. Se Liga! O Elvis estava "balofo" como você disse por problemas de saúde e isso aconteceu na década de 70, mais precisamente depois de 1975 (morreu em 77) e não na de 60 como vc disse. E mesmo estando "balofo" (vc deveria respeitar o Rei), ele ainda mantinha sua ótima voz e sua capacidade de cantar, o que o Axl não consegue mais já faz mais de 10 anos.

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  12. MetalHead, eu escrevi que o Elvis estava balofo na década de setenta, você que leu errado.

    Obrigado pelo comentário.

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  13. O show foi lastimável, de fato. Mas Axl ainda tem espaço em festivais pelo mundo, sim, basta ver que o Guns foi headliner no Reading Festival ano passado... não é só no Brasil.

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  14. Em relação aos Detonautas, não tenho nada contra (tirando aquela "releitura" linda de Back in Black!) eles nem deles.
    Só acho que o Tico é muito poser e tá ficando que nem o Bono com essa de a cada música querer dar um recadinho/lição de moral.

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  15. Ricardo comcoedo c vc ...mas apettite e o proprio guns original ja sao lendas desde 87 UM ABRAÇOO

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  16. as pessoas que criticam este circo de horrores que e o guns hoje e elogiam os use your ilusion estao se contradizendo. foi a partir destes discos que a banda comecou sua descida! nunca vi tanto megalomania junta. axl e a imagem do guns, mas o cerebro da banda era o izzy, o apetite ele fez praticamente sozinho, o cara e um rock n´roller das antigas. quando ele viu a merda que ficou os use nao quis nem participar dos videos, pediu para sair. como nao rir da palhacada sem nocao dos dvds gravados no japao na turne destes discos? a bermudinha do axl e a pose exagerada de toda a banda eram ridiculas. na epoca o grupo era motivo de chacota e o nirvana expos isso muito bem! e eu concordo com o trio do seattle. o guns perdeu completamente a nocao de tudo e comecou a apelar para o exagero, a mesma coisa que aconteceu com seus idolos maximos, o led zeppelin, na decada de 1970.

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  17. Pois é cleibsom...
    Infelizmente o mundo do showbizz é um circo mesmo... ai depende de quanto o artista vai incorporar o personagem ... no fim a vida sempre cobra.... nós vimos o que aconteceu com o LED ... e agora oque está acontecendo com o Axl... a diferença é que a primeira ainda produzia em estúdio e o segundo nem isso faz direito ...

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  18. Eu gosto dos 'Use Your Illusion'. Apesar dos óbvios exageros, estão longe de serem discos ruins.

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  19. Não acho que a decadência começou nos Illusions, e são bons discos, dá pr atirar umas 5 ou 6 músicada ruins dali, mas no geral são bons.
    O Izzy gravou os discos, portanto estava ciente de tudo.
    Ele saiu porque devia estar prevendo o que viria a seguir.
    A viagem do Axl começou durante a turnê, que começou a ter ataques de estrelismo e tal.

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  20. Esse Axl é um babaca decadente, fui no show dele aqui em Porto Alegre que era para começar às 22h e foi iniciar às 2h em um dia de semana, ele fez a mesma coisa reclamando que o palco estava úmido. Deu vontade de quebrar todos os discos do Guns quando cheguei em casa! E nem vou falar da qualidade péssima do show, nem os fogos de artifício de Live and let die estavam sincronizados com a música.

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