Por
Ronaldo Rodrigues
Não
saberia (e acho até estéril tentar) dizer a origem do tão
abrangente termo “classic rock”. Já tentei arriscar algumas
definições possíveis, baseadas na observação do que dizem ser –
seria algo próximo do igualmente abrangente “rock básico”,
aquele estilo de rock equidistante tanto do hard/heavy metal quanto
do rock progressivo/psicodélico (ou de sua longa lista de
sub-variações) quanto do punk e outros estilos considerados mais
extremos.
Já
pensei que seria algo similar ao que se usa com a música clássica –
música erudita, de orquestra, feita no período clássico (algumas
décadas do século XVIII e XIX em que se abrigaram os mais célebres
compositores). Rock clássico então poderia ser o rock feito no
chamado período clássico do rock. Para alguns, esse período pode
ser a dobradinha 60-70, época de maior sucesso, impacto e relevância
do rock enquanto fenômeno social e artístico. Para outros, pode
abrigar também os anos 50, quando existia predominantemente o rock
pioneiro, ou o que ficou chamado de rock n’ roll. Para outros,
também os anos 80, época de estrondoso sucesso de Iron Maiden,
Judas Priest, Metallica, Guns N’ Roses e outros. Extrapolando
ainda, caberia dizer (depois de uma certa distância histórica) que
no rock clássico caberia também os anos 90 – Pearl Jam, Nirvana,
Soundgarden, Oasis, etc.
Tudo
isso serve para dizer que não há consenso do que viria ser esse
chamado “classic rock”. As maiores evidências me soam como um
frágil reducionismo que tem por objetivo embalar as mesmas coisas de
sempre numa caixa diferente, padronizando e tirando o contexto e as
nuances dos momentos históricos em que o rock foi produzido. Um
rótulo envolto numa crise de identidade.
Imagino
como é difícil conceber uma programação de rádio que conseguisse
abarcar, com um mínimo de critério, um som tão díspar e amplo que
iria de Elvis Presley a Elvis Costello. Não que eu não defenda
puramente a segmentação da música. Porém, cabe explicar a
concepção torpe das rádios atuais, que parecem se acomodar com as
funções “shuffle” ou “random” dos aparelhos que tocam CDs.
Ou pior ainda. Usar essas funções para materiais do tipo
coletâneas, “Best of”, “Greatest hits”, “The Story of”,
etc.
Parece
surreal entrar em um estúdio de uma rádio e ver uma imensa
discoteca com centenas de títulos e escutar a mesma meia dúzia de
sons de sempre. Também parece surreal haver gente sem um mínimo de
curiosidade de tentar descobrir outros sons da banda que produziu o
hit que tanto se ouve por aí.
O
encanto do rádio surge do inesperado, da capacidade da programação
surpreender e fisgar a atenção de quem ouve. Sendo uma rádio
contemporânea, que se digne a tocar música produzida no aqui e no
agora, é natural e salutar a diversidade de ritmos e estilos
distintos, que se unirão pela coerência de carregar o mesmo
espírito de época, na sua sonoridade e atitude.
Já
para uma rádio voltada ao passado, como são as chamadas rádios de
“classic rock”, é mais do que necessário um mínimo de
critério. Rádio sem critério é coisa fria, é o randômico da
máquina. É a juntada de um monte de arquivos de músicas famosas,
tocadas na base do piloto automático por um computador. Essas
rádios parecem tentar emplacar novamente os sucessos já emplacados
há 30 ou 40 anos atrás, repetindo à exaustão temas como “Smoke
on the Water” do Deep Purple, “My Generation” do The Who, “Rock
n’ Roll” do Led Zeppelin, “Another Brick on the Wall” do Pink
Floyd, “Changes” do Black Sabbath, “Light my Fire” do Doors,
“Born to be Wild” do Steppenwolf, e tantos outros.
Neste
cenário, porém sem se ater somente ao “classic rock”, a chamada
“era da informação” parece que ainda não bateu na porta dessas
rádios. Depois do advento dos CDs (e a vastidão de relançamentos
de bandas menos conhecidas), e mais ainda da internet (onde muito
desse material pode ser obtido gratuitamente), é no mínimo um
equívoco continuar massacrando os mesmo hits de sempre. É claro que
existem materiais que são raros pelo simples fato de que não
tiveram bons predicados musicais ou de produção. Uma seleção
natural do selvagem mercado musical. Mas qual seria a barreira pra
colocar na vitrola Captain Beyond, Soft Machine, Tempest, Hawkwind,
Mountain, Camel, Rory Galagher, Van der Graaf Generator e outras
bandas que fizeram fama em sua época? Não atravessaram a barreira
do tempo como Deep Purple ou Black Sabbath, mas qualidade não lhes
falta para figurar ao lado dos medalhões vez ou outra. Não que se
espere, em um senso de realismo, ligar o dial (ou acessar uma web
rádio) e deparar-se com o som de Josefus, Crosscut Saw, Lincoln St.
Drive, T2, Ginhouse, Day of Phoenix ou outras obscuridades. É
reconhecível que esse é um universo de poucas pessoas, um mergulho
muito fundo na produção roqueira dos anos 60 e 70. Mas se negar a
sair do mundinho dos super sucessos é digno de um ode à preguiça e
ao comodismo.
Seria
essa preguiça um sinal de nossos tempos? Um único filme de sucesso
logo se reproduz em uma série. Livros de sucesso viram filme quase
que instantaneamente. Uma personalidade morre e semanas depois sua
biografia já figura nas lojas e depois vira filme. Os Beatles ainda
continuam vendendo mais discos do que a maioria dos artistas
contemporâneos, remakes, tributos e adaptações de todo o tipo –
de filmes, de musicais, de discos. Realmente, podemos estar numa
baixa de criatividade, que só a distância histórica vai permitir
avaliar melhor. Tem muita gente lutando contra isso, criando,
desenvolvendo, inovando, mas o cenário de pós-tudo tem mesmo a cara
de pós-tudo. Uma cara de que quase tudo já passou ou tem cara de
passado. Talvez a velocidade com que a humanidade se desenvolveu no
século XX, em todos aspectos, tenha nos colocado sempre a exigir
muita rapidez também das artes, que não são como máquinas em
linhas de produção. Porém, se hoje temos a disposição a arte
daqui e a produzida há milhares de milhas de lá, porque não se
valer dela?
Diante
de tanta música, boa e pronta pra ser descoberta, é um atentado à
inteligência se prender a tão limitado repertório.
Excelente texto, já era hora de alguém chamar a atenção para essa praga do "Classic Rock". Os efeitos danosos que essa moda causa ainda serão sentidos por muito tempo. Um deles é a supremacia das "bandas covers" sobre os artistas que produzem material próprio, que não conseguem locais para tocar, não recebem nem cachê nem couvert artístico. Daqui a vinte ou trinta anos ninguém vai ouvir bandas dos anos 2000, pois elas não existem. Vão ouvir o mesmo "classic rock" que toca hoje. Enquanto isso, a cultura de massa não pára de produzir novas porcarias. Mas parece que o fã de rock não quer renovação.
ResponderExcluirPerfeito, por isso que não ouço mais rádio.Simples assim.
ResponderExcluirSou da opinião que ser DJ de rádio classic rock é o emprego mais fácil do mundo. É só tocar as mesmas músicas de sempre para um público cada vez mais descerebrado.
ResponderExcluirÓtimo texto !
ResponderExcluirOdeio o termo classic rock !!!
Quase não ouço mais rádio pra música... ouvia a Kiss FM...mas ela costumava cair nessa armadilha citada no texto.... a Brasil 2000 que era uma rádio Muito boa no quesito variedade acabou por falta de audiência.... no entanto as radios refletem o gosto da maioria.... dá até pra entender, mas não deixa de ser triste.... então quem quer algo diferente tem que sintonizar em alguns programas esporádicos em horas esporádicas... no mais não sei como é o pagamento de direitos autorais pra poder tocar todas as músicas de determinado artista...talvez financeiramente seja díficil pra rádio....
Agora só uma provocação pro Sr Cadão... eu gostei mais do disco da PJ Harvey :) Abração
Fábio
Fábio, a questão não é essa em relação à PJ. Eu gostei do disco também, apesar de achar 21 superior. A questão é que a minha timeline foi entupida de mensagens questionando a avacalhando a lista da Rolling Stone, como se fosse proibido escolher outro álbum que não fosse o Let England Shake. Se todos os fãs foram fazer isso, a coisa vai ficar estranha, né não? (rs)
ResponderExcluirAbraço.
Óbvio que sim !!!
ResponderExcluirMas é engraçado ver que o "xiitismo" está presente em todas as vertentes musicais....
Mas é realmente muito estranho como as pessoas dão tanta importância a posições em algo tão subjetivo como música....
Levam para o lado pessoal, né?
ResponderExcluirPois é rapaz !!!! Vai entender ???
ResponderExcluirEssas horas que acho um barato o poeiracast...principalmente o último sobre Hair Metal com o Regis Tadeu chamando todo mundo de louco e os caras rachando o bico de rir.... fico imaginando os mega true fãs de Hard anos 80 ouvindo o podcast....os caras vão ter que começar a sair na rua de colete a prova de bala...isso me lembra também qdo eles fizeram um programa zoando as capas do Rush... causou uma verdadeira comoção nacional... Eu hein !!!!
Ouvi esse podcast ontem, e ri o tempo inteiro. Demais!
ResponderExcluirpor ser de sao paulo ao ler este texto me lembrei da kiss fm. a pessoa que ouve esta radio pensa que o rock se resume a 10 bandas e a 50 musicas! quanto ao termo classic rock, ele tem mais a ver com tempo cronologico do que estilo musical. e ridiculo ver revistas como a roadie crew defendendo o termo, estou so esperando o tempo passar ate o slipknot se tornar "classic rock" e aparecer na seção background em suas paginas. nao e bizarro uma revista que se diz de heavy metal falar do epica com orgulho e se recusar a falar do alice in chains, soundgarden, system of a down e do proprio slipknot? nao e triste quando rotulos se tornam prisoes?
ResponderExcluirVai ser engraçado qdo essas revistas tiverem que falar do Nirvana...aí sim eu vou dar risada.... afinal de contas é ou não é Classic Rock ????
ResponderExcluirBoa questão, Fábio. Eu não considero o grunge um gênero musical, mas sim um movimento envolvendo um conjunto de bandas que eram bastante diferentes entre si.
ResponderExcluirSendo assim, estiliscamente, como vocês classificariam o Nirvana? Rock alternativo? Punk? Hard Rock? Hard Punk (sei lá se isso existe)?
Olha... tem horas que eu ouço e penso... putz esses caras fazem Heavy Metal de Garagem....hhehehehe... ta aí uma nova classificação pro Nirvana...qto ao Grunge...foi uma classificação inventada pra vender disco... as bandas são ótimas mas na estética sonora são bem diferentes... pelo menos pro meu ouvido...
ResponderExcluirNa boa acho q a KISS FM faz um bom trabalho sim, só pelo fato de tocar rock já vale, e eu descobri varios artistas através dela, só pra citar uns que eu não conhecia: Richie Kotzen, Rory Gallangher, Big Country, Social Distortion,Eagle Eye Cherry, Soul Asylum, Jetrho Tull(sim a primeira vez q eu ovi uma musica deles foi na KISS!!!), entre outros. Quem quiser buscar coisas novas é fácil a internet tá aí p/ isso o próprio collectors é um belo exemplo disso, eu acho que a KISS é a porta de entrada no mundo do rock pra muita gente aqui em SP, se a pessoa vai seguir adiante ou não é outra questão, isso vai de cada um, afinal nem todos são apaixonados por musica como nós, tem gente que escuta Paranoid e Smoke On the Water e já se contenta, o importante é termos uma radio Rock'N Roll no nosso Dial!!!
ResponderExcluirRádio via freqüencia de rádio mesmo, pra você sintonizar no seu carro, tem obrigações comerciais e deve ser abrangente mesmo. Precisa de audiência, é assim que funciona, tem contas pra pagar. E ainda assim temos aí uma Kiss FM da vida, o que é interessante e apresenta o estilo pra novos ouvintes.
ResponderExcluirJá as rádios da web e até mesmo do canal de música da NET são muito competentes em nos apresentar novos sons, gosto muito.
E em relação a abrangência do termo, na minha opinião classic rock é ao menos 90% oriundo dos 60's e 70's, e o resto pode vir de soft rock dos 80's e do rock n roll dos 50's.
Rádio via freqüencia de rádio mesmo, pra você sintonizar no seu carro, tem obrigações comerciais e deve ser abrangente mesmo. Precisa de audiência, é assim que funciona, tem contas pra pagar. E ainda assim temos aí uma Kiss FM da vida, o que é interessante e apresenta o estilo pra novos ouvintes.
ResponderExcluirJá as rádios da web e até mesmo do canal de música da NET são muito competentes em nos apresentar novos sons, gosto muito.
E em relação a abrangência do termo, na minha opinião classic rock é ao menos 90% oriundo dos 60's e 70's, e o resto pode vir de soft rock dos 80's e do rock n roll dos 50's.
Para mim Classic Rock é um termo genérico, que não define nada e algumas publicações deveriam ter esse cuidado ao se proclamarem como tal.
ResponderExcluirPois para mim o Classic Rock não está restrito apenas a década de 1970 como faz Roadie Crew e simplesmente ignora a década de 1960 enfim essa década é muito especial pois influenciou a seguinte assim como a década de 1950 também influenciou as demais, e no meu entendimento o certo seria classificar como Hard Rock, Heavy Metal, progressivo e psicodélico ou apenas rock'n'roll em casos mais especificos por exemplo: Elvis Presley, Gene Vincent, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry entre outros.
Esse lance das rádios é um pé no saco mesmo, os caras que programam sempre as mesmas músicas nem experimentam colocar nada diferente, essa atitude é um desfavor enorme prestado aos ouvintes que saem com uma idéia equivocada pensando que o tal do rock classico se resume apenas a 3 ou 4 nomes.
Mas na real isso vai de cada pessoa, por exemplo: um cara que pensa por si próprio, e é, fã de música não vai se limitar ao rádio e vai buscar os discos , enfim ele passara a interagir e obviamente começara a entender de outra maneira e logo os conceitos caem por terra, foi o que aconteceu comigo e hoje eu simplesmente desligo o rádio que para mim sinceramente não tem utilizadade nenhuma.
Pois o classic rock não idade definida, pois ele pode ser tanto uma banda dos anos 80 como qualquer outra banda dos anos 90, já que no caso clássico é referente ao melhor de um época e se tratando de um termo genérico ele não define o que é portanto muito menos o que não é.
A revista inglesa classic rock parece ser um bom exemplo desse termo, pois lá figuram bandas de vários estilos tem AOR, Grunge, Hard Rock, Heavy Metal, pois cada um desses estilos tem seus clássicos correto?
Pois entendo que o termo classic deveria ser aplicado da seguinte maneira: classic hard, classic heavy entre outros, pois seria melhor e já especificaria logo porque eu acho estranho pegar bandas de rock como Led Zeppelin (hard rock) e colocar classic rock então a mais correto na minha opinião seria usar o termo "classic" com o subgênero onde tal grupo esta enquadrado.
E para finalizar eu odeio rádios porque elas te fazem pensar como um idiota sempre te mostram a mesma coisa e quando você decobre que os anos 60 e principalmente 70 não se reduzem a AC/DC, Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, você porra como não desconfiei disso antes quando descobre bandas como o Van Der Graaf Generator, Budgie entre outras.
O negócio é garimpar, buscar amizqades novas procurar estar sempre perto das informações que podem te levar a conhecer uma variedade maior de grupos, pois a rádio é um acessorio inútil já que tem suas implicações inerentes que nem é necessário dizer aqui.
Ousar sempre é o único remédio!