Black Country Communion: crítica de Afterglow (2012)

Parece que os trabalhos na carreira de Glenn Hughes costumam ser trilogias – três discos com o Trapeze, três com o Deep Purple e, considerando Seventh Star, mais três ao lado de Tony Iommi. Pelas tensões que estão sendo expostas dentro da banda através de declarações de seus integrantes, parece que o Black Country Communion pode seguir o mesmo caminho. E, se isso já era lamentável antes, se torna ainda mais ao ouvirmos Afterglow.

Quando questionado sobre os preparativos do terceiro álbum do supergrupo, Glenn Hughes dizia que grande parte teria sido escrita por ele – por recomendação do próprio produtor Kevin Shirley –, mas se Hughes escreveu a maior parte de Afterglow, isso definitivamente não o deixa com maior destaque no conjunto da obra. Não que sua performance deixe a desejar – muito pelo contrário. Seus vocais e baixo continuam matadores. E, fora isso, entre os três discos da banda, Afterglow marca o auge do entrosamento entre os músicos.

No segundo álbum, o tecladista Derek Sherinian ganhou mais destaque em relação ao debut, e dessa vez ganhou mais ainda. O mesmo vale para Jason Bonham, que honra o sobrenome que carrega. Cada integrante tem nitidamente mais liberdade do que nos álbuns anteriores. Certamente, o que possibilitou isso foi a sonoridade mais leve adotada pela banda, que carrega o mesmo nome de uma região industrial da Inglaterra que foi o berço do heavy metal. Os dois primeiros álbuns – especialmente o segundo – fizeram valer esse nome, mas agora o Black Country Communion traz um disco muito mais baseado no rock britânico tradicional do final dos anos 1960 e começo dos 70. Bandas como Free e The Who ilustram bem essa roupagem por oferecerem uma sonoridade não tão amarrada, onde cada membro é igualmente notável. Percebe-se a inspiração na banda de Pete Townshend principalmente na faixa “Midnight Sun”, cujos teclados já remetem ao clássico Who’s Next. É seguida de “Confessor”, já conhecida pelo público, que traz um dos ótimos solos de teclado presentes no disco.



Joe Bonamassa canta menos nesse álbum, mas a única aparição de sua voz já o faz valer enquanto vocalista. “Cry Freedom” é um blues malicioso e dançante que oferece o melhor dueto do bluesman com Glenn Hughes. A guitarra de Bonamassa também merece ser comentada. Ainda que goste de tocar algo mais pesado – e o faz muito bem por sinal – em Afterglow, o americano parece estar mais em casa trazendo seu estilo de fato – o blues – fazendo-o soar mais orgânico. “Common Man” começa com um riff que torna impossível não lembrar do clássico “Tom Sawyer” do Rush, certamente uma das melhores faixas do disco e uma das que podem resumi-lo, mostrando ótima performance de todos os membros.

O álbum fecha com a dramática “The Giver”, característica essa que é acentuada pelas precisas viradas de bateria de Jason Bonham, e a pesada “Crawl”, com suas passagens épicas e um duelo entre guitarra e teclado.

Como o próprio Bonamassa declarou – e pode-se perceber conferindo o disco –, a crise dentro da banda surgiu após a finalização de Afterglow, que, se for realmente o último álbum do Black Country Communion, estará fechando a trilogia com chave de ouro, pois não só é o melhor da banda como também pode facilmente figurar entre os melhores trabalhos das carreiras de cada integrante.

Nota 9
 

Faixas:
1. Big Train
2. This Is Your Time
3. Midnight Sun
4. Confessor
5. Cry Freedom
6. Afterglow
7. Dandelion
8. The Circle
9. Common Man
10. The Giver
11. Crawl

(por Igor Luis Seeman)

Comentários

  1. Já entrou no meu top 5 do ano.

    Discaço, destaque principalmente pro Jason, que nesse disco parece que teve mais liberdade. E como toca o rapaz.

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  2. Acho que sou a única pessoa do mundo a achar os discos desta banda absolutamente sem sal nenhum. Fora que na minha opinião a performance do Gleen Hughes joga o albúm (os albuns) lá pra baixo... realmente não consigo entender como um vocalista tão experiente e com boa voz pode colocar seus vocais de forma tão equivocada nas músicas o Black Country Communion ... Agora sobre o Jason concordo que ele realmente detonou...é um grande baterista
    Abraços

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  3. Não é o único não, Fábio. Eu também não vejo nada demais no BCC, tanto que nem escrevi sobre o disco.

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