Avantasia: crítica de The Mystery of Time (2013)

Tobias Sammet merece crédito e confiança. Seja à frente do Edguy ou no comando do Avantasia, o vocalista alemão é um dos responsáveis pela renovação que o power metal vem passando nos últimos anos, inserindo novos caminhos em uma sonoridade que há tempos necessita de renovação. E, em grande parte deste esforço, Sammet tem logrado êxito. 

The Mystery of Time é o sexto disco do Avantasia, projeto que iniciou em 2001 com o ótimo The Metal Opera e se manteve sempre surpreendente, com mudanças de direção inesperadas, porém sempre bem conduzidas. A banda base que acompanha Tobias neste disco é formada por Sascha Paeth (guitarra, também produtor), Miro (teclado) e Russell Gibrook (bateria) - o baixo foi tocado por Sammet. Guitarristas convidados batem ponto em algumas faixas, sendo eles Bruce Kullick, Oliver Hartmann e Arjen Lucassen.

O elenco de vozes merece um novo parágrafo. Um dos principais diferenciais da história do Avantasia foi sempre contar com excelentes vocalistas em suas fileiras. Algumas dos donos dessas vozes construíram uma relação duradoura com Sammet e viraram quase integrantes fixos do projeto, como é o caso de Michael Kiske e Bob Catley, que participam mais uma vez. No entanto, há uma queda evidente no elenco de cantores nesse novo capítulo do Avantasia. Vocalistas excelentes como Russell Allen, Roy Khan, Rob Rock e Jorn Lande, além de ícones como Alice Cooper, presentes em outros discos, não estão aqui. Em seus lugares surge uma lista claramente inferior formada por Joe Lynn Turner, Eric Martin, Cloudy Yang, Ronnie Atkins e Biff Byford. Com exceção dos dois últimos - principalmente Byford -, estes novos nomes pouco ou nada agregam ao álbum, não justificando a sua inclusão.

Musicalmente, The Mystery of Time varia entre canções mais power metal e outras que vão em direção ao hard, AOR e até mesmo ao pop. A grosso modo, as composições caminham pela identidade construída nos discos anteriores. Os destaques são “Black Orchid (com participação de Biff Byford), que mostra que o power metal pode ter elementos de AOR; “Where Clock Hands Freeze” (com Michael Kiske), metal melódico padrão Avantasia; e “Savior in the Clockwork”, que em seus mais de 10 minutos traz tudo o que se espera do Avantasia e conta com as vozes de Sammet, Turner, Byford e Kiske. A boa balada “What’s Left of Me”, com Eric Martin, também merece menção.

Em compensação, alguns momentos ficam bem abaixo de tudo que já foi feito antes. A abertura, com “Spectres”, é construída sobre melodias pra lá de previsíveis. O single “Sleepwalking” é surpreendente, uma balada pop com participação da vocalista Cloudy Yang, que difere totalmente do restante do tracklist e remete a bandas como o Bon Jovi. Bem feitinha, bem produzida - bonitinha, mas ordinária. “Invoke the Machine” e “The Great Mystery” apenas reciclam o que o Avantasia já fez antes, e com resultados inferiores.

Mais direto e coeso que os últimos discos, The Mystery of Time apresenta uma sonoridade menos pomposa e exagerada. O álbum prova, apesar da tradição de sempre contar com convidados especiais, que a grande estrela do Avantasia é e sempre será Tobias Sammet. Com uma habilidade enorme para escrever canções com grandes coros e ótimos refrãos, Sammet, mesmo com uma equipe de vocalistas claramente inferior aos discos anteriores, conseguiu fazer um bom trabalho novamente.

The Mystery of Time não é o melhor momento do Avantasia, mas garante diversão e ótimos momentos para quem curte power metal.

Nota 7





Faixas:
1 Spectres
2 The Watchmaker’s Dream
3 Black Orchid
4 Where Clock Hands Freeze
5 Sleepwalking
6 Savior in the Clockwork
7 Invoke the Machine
8 What’s Left of Me
9 Dweller in a Dream
10 The Great Mystery

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Essa foi a análise que mais me identifiquei! Parabéns!
    Tanto nas músicas que que se destacam, como nas que não passam de medianas.
    No que se refere as participações, achei que o Biff Byford foi o melhor; o Turner tbm foi bem, apesar de não ser tão fã do cara. Aliás, acho que o Tobias faz um bem danado pra esses caras, pq suas composições engrandecem as vozes convidadas, caso do Jorn Lande, Kiske, Bob Catley, Russell Allen, Rob Rock etc., pois muitas vezes os referidos cantores não são tão competentes na composição,como o Tobias.

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  2. Eu não comparo os trabalhos do Avantasia, são sempre projetos diferentes, como foi em The Metal Opera I e II, na trinca que começou no The Scarecrow e foi até o The Wicked Symphony e Angel of Babylon, e agora é um novo passo em The Mystery of Time. Boa resenha. Pode não ser o melhor do Avantasia, talvez não vai atrair novos fãs, como foi a cada álbum do Avantasia, mas vai agradar os fãs e não desmerece em nada o trabalho do Tobias, que é simplesmente um dos melhores frontman da atualidade, um álbum digno da discografia desse artista.

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  3. Quando um vocalista se torna um artista, no mais profundo sentido, não se pode fazer uma resenha simplista dessas. Olhe a grandeza da obra! A história por trás das melodias. Que conversam entre si magestosamente. A emoção que causam em mim me levam longe. Ouçam o álbum como se lê um livro. Isso não é simplesmente música, é uma viagem, um sonho que constantemente Tobias nos leva e trás novamente à realidade. Qdo isso acontece, me sinto uma pessoa melhor. Que entra nesse mundo de questões filosóficas, de dualidade, e ganha sabedoria.

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