Dream Theater: crítica de Dream Theater (2013)

Desde a saída de Mike Portnoy, em 2010, nota-se uma mudança na sonoridade do Dream Theater. Isso fica ainda mais claro no décimo-segundo álbum da banda norte-americana, batizado apenas com o nome do grupo. A ausência do fundador e baterista mudou o eixo do Dream Theater, fazendo com que a liderança e o direcionamento musical passassem a ser ditados pelas visões do guitarrista John Petrucci e do tecladista Jordan Rudess.

Na prática, o que isso significa? Uma sonoridade mais agressiva, com a agradável predominância e contraste entre os instrumentos de Petrucci e Rudess. Isso já havia ficado perceptível no primeiro single, a ótima “The Enemy Inside”, e se repete durante todo o trabalho. A produção, a cargo do próprio Petrucci, realça esse aspecto, o que fez surgir comparações apressadas, e ao meu ver equivocadas, com o pesadíssimo e sombrio Train of Thought (2003). Aquele disco era escuro, soturno, características que não são percebidas aqui.

Em relação ao trabalho anterior, o bom A Dramatic Turn of Events (2011), Dream Theater, o álbum, me soou mais homogêneo e forte. Talvez isso seja fruto de dois fatores. Um é a participação do baterista Mike Mangini, competentíssimo substituto de Portnoy, em todo o processo de composição e troca de ideias do que viria a ser o disco desde o início, ao contrário do CD anterior, quando ele foi inserido com as coisas praticamente já definidas. E o outro, mais decisivo no meu ponto de vista, é o fato de a banda estar mais relaxada com a boa recepção que A Dramatic Turn of Events recebeu, tanto do público quanto da imprensa, mostrando que é perfeitamente possível seguir em alto nível sem um de seus fundadores. Sem tanto peso nas costas para provar algo, o Dream Theater acabou gravando um disco que funciona muito bem do início ao fim.

Uma das marcas do quinteto, o passeio e o flerte por diferentes sonoridades mantém-se ativo no novo trabalho. Há o prog clássico e épico da longa “Illumination Theory”, que fecha o álbum de maneira sublime com seus mais de 22 minutos, e há, claro, o caminho oposto, como a direta “The Looking Glass”, construída a partir de um riff que é puro hard rock - um hard padrão Dream Theater, é claro, e com um tempero que lembra o Rush.

É preciso ressaltar também “Enigma Machine” e a própria “False Awakening Suite”, que abre o disco, que retomam a tradição das faixas instrumentais da banda, ausentes nos últimos álbuns. “Enigma Machine”, em especial, é um desbunde para quem curte a técnica singular dos músicos que formam o Dream Theater, com a vantagem de apresentar esse requinte sem soar desnecessária.

“The Bigger Picture”, “Behind the Veil”, “Surrender to Reason” e “Along for the Ride” completam o tracklist de um dos trabalhos mais dinâmicos e consistentes da carreira do Dream Theater. O disco é merecedor de grandes elogios, e, com exceção de “Along the Ride”, uma balada mediana e que passa a sensação de já ter sido gravada inúmeras vezes durante toda a carreira do grupo, soa forte e na medida certa.

Se seguir nesse nível, aos poucos os (poucos) que ainda choram a saída de Mike Portnoy mudarão de ideia rapidinho.

Nota 8,5

Faixas:
1 False Awakening Suite
2 The Enemy Inside
3 The Looking Glass
4 Enigma Machine
5 The Bigger Picture
6 Behind the Veil
7 Surrender to Reason
8 Along for the Ride
9 Illumination Theory

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Vixe, ainda não deu tempo de escutar essa porra. Mas valeu pela lembrança. Agendado aqui pra dar uma escutada.

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  2. Excelente resenha!
    O álbum é realmente espetacular e muito melhor que o anterior, mas ainda assim, sempre me pergunto, o que Portnoy teria feito para melhorá-lo...

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  3. 8,5 é pouco.. esse CD é nota 9,5, no mínimo!

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  4. Concordo com você Ricardo Seelig, achei um ótimo disco!

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  5. Esse álbum é uma evolução natural da banda, algo que todos nós esperávamos.

    Músicas boas, bem construídas e com o Mangini participando muito bem e mais solto.

    Concordo com a nota do álbum, pela qualidade musical e pelo que ele representa na carreira da banda. A banda ainda tem mais a oferecer.

    Porém, três pontos ficaram muito salientes ao meu ver:

    1- As músicas tem mais "alma" e mais "feeling" do que as músicas do álbum anterior, algo natural. Mas fez uma diferença tremenda. Ponto positivo pra banda.

    2- O som da bateria em si está um pouco mais baixo que os outros instrumentos e o som da caixa está muito parecido com o som dos tambores (tons e surdos), em algumas viradas a caixa se mistura com os outros tambores e fica uma salada só. Senti falta daquele som mais agudo característico da caixa.

    3- A tentativa da banda de provar que as faixas épicas não eram exclusividade do Portnoy foi digna de aplausos, afinal, todos sabem que ele (Portnoy) era o maior responsável por esse tipo de faixa. Illumination Theory não é uma "Octavarium" ou uma "The Count Of Tuscany", mas prova que há vida pós-Portnoy nessa quesito. Ponto pra banda de novo.

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  6. Fui escutar tomando o último como referência de QUEDA de qualidade. No entanto, eu acho que conseguiram calibrar melhor a banda com o desfalque. Ficou bom. Não pirei num 8,5. Estou sem nota ainda, mas achei melhor que o último ... bem melhor. Já é evolução e segurança de que a banda não vai virar degringolar.

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  7. É o melhor desde o Octavarium... o que na minha opinião não quer dizer muita coisa...já que a partir desse álbum a banda caiu em um ciclo de mediocridades que atingiu seu ápice no Black Clouds... Posso estar errado..mas pra mim é mais um álbum que não será destaque na discografia do DT

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  8. Eu arredondaria a nota para 9. Gostei bastante desse disco, principalmente da atuação do Mike Mangini.

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  9. Fiquei impressionado com a The Bigger Picture, tem um feeling que não via a tempos nas músicas do Dream Theater.
    Excelente albúm

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  10. É impressionante como uma banda com instrumentistas tão espetaculares tenha um vocalista tão medíocre e desafinado. Dá vergonha alheia a ladainha do labrega. Mas, apesar disto, é um bom disco, só que não surpreende, eles fazem o que se espera deles e só. Aproveitando, Como todos estão comparando com o Portnoy, o Mangini é talvez mais preciso, mais rápido mas não necessariamente um músico melhor. A virtude do Portnoy é a de ser um grande conhecedor de música e ter talento para criar e juntar outros músicos, e há muitos bateristas melhores do que ele na praça. Mas que não são capazes de criar coisas como o álbum do Winery Dogs, este sim um grande achado, especialmente pelo Kotzen. E ainda há o Transatlantic, o Líquido tension e mais uma dúzia de ótimos projetos do camelo. Vou esperar o próximo do DT e quem sabe não promovem um concurso para vocalista antes...

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  11. Eu realmente acho que está faltando um pouco da "loucura" do Portnoy como na música The Test That Stumped Them All - "The boy is simply crazy..." As participações nos vacais. Faz uma grande falta sim. Enorme falta. Gigantesca ele faz a diferença sim. Mas gostei muito do novo trabalho deles.

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  12. Para mim, o DT parou de lançar bons albuns do Octavarium em diante. Realmente, tentei, mas não consigo escutar esse mais recente som da banda, cujo último album que me atrai é o Train of Througth....vou tentar dar uma sacada nesse novo album, apesar de, como batera, não gostar do estilo do Mangini!!!

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  13. No novo album do DT o som está mais dinâmico. Escutei uma vez e só. Escuto the dance of eternity, strange dejavu, Fatal Tragedy, as i'am e ai noto a falta do feeling do Mike Portnoy na batera, com arranjos e quebradas criativas, além e timbre pesado e presença de palco que envolvia nos shows. Sinceramente, o mangini parece uma metralhadora sem feelling.

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  14. Sinceramente, eu não gostei. Achei as músicas um pouco repetitivas, tanto uma com a outra, quanto dentro de si mesmas. Não é a característica do Dream. Achei o trabalho anterior melhor, mais dinâmico e recheado de elementos diferentes, apesar de ainda aquém do que eu conheço deles.

    Não vou atribuir essa queda à saida do Portnoy, e sim a um marasmo causado por outras milhares de coisas que não convém comentar agora.

    Uma das coisas que mais me chamou atenção foi que "Behind the veil" eh quase uma cópia de "On the backs of Angels", do álbum anterior.

    Para mim, uma tentativa de repetir o estilo do Train of thought misturando com Octavarim, o primeiro particularmente não mexe muito comigo, apesar de ser um bom álbum, e o segundo, uma obra prima. Gosto de coisas mais dinâmicas e constantes mudanças de climas, diferentes texturas. Essa foi uma coisa que não encontrei no Train of Thought, e muito menos no Dream Theater 2013.

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