Trivium: crítica de Vengeance Falls (2013)

Vengeance Falls, sexto álbum do quarteto norte-americano Trivium, tem um ponto em comum e outro nem tanto com o último disco do grupo, In Waves (2011). O ponto em comum é que, mais uma vez, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Matt Heafy gravou um trabalho de qualidade superior, que beira e namora a nota máxima. Já o aspecto que difere o novo álbum do anterior é, justamente, uma de suas maiores qualidades: a melodia. Enquanto no disco de 2011 havia um foco maior na agressividade, em Vengeance Falls a melodia retorna em pé de igualdade, com linhas vocais cativantes, solos que grudam no ouvido e refrões feitos sob medida.

Produzido por David Draiman (vocalista do Disturbed e do Device), Vengeance Falls abre com um trio poderoso de faixas. “Brave This Storm” tem força para se transformar, provavelmente, em uma das prediletas dos fãs. Já a música que dá nome ao álbum derrama baldes de melodia sobre o ouvinte e faz a ponte entre aquele tipo de som que o In Flames fazia no início de sua carreira e a sonoridade característica do Trivium. Excelente composição!

Enquanto isso, “Strife” abre com guitarras que emocionam qualquer fã de metal das antigas, principalmente aqueles como eu, criados a doses fartas de NWOBHM e Iron Maiden. E, depois dessa intro, evolui em um andamento com influências de hard rock, explodindo em refrão não menos que memorável.

E daí, quando você pensa que vai ter um tempo para respirar, segue sendo bombardeado por uma leva impressionante de boas composições. A influência do In Flames dos primeiros anos pode ser sentida, mais uma vez, em “No Way to Heal”, música que mostra que Heafy e companhia andaram ouvindo muito discos como Colony (1999) e Clayman (2000). Já “At the End of This War” inicia com um trecho acústico, desenvolvendo-se em uma sonoridade que mescla a sidentidade própria da banda a algo que vai em uma linha semelhante ao último álbum do Machine Head, o fenomenal Unto the Locust (2012).

O bom gosto que o Trivium apresenta em Vengeance Falls, indo de melodias bem pensadas a arranjos muito bem construídos, fica evidente em faixas como “Villainy Trives”, cujas camadas vão se desdobrando sobre o ouvinte até desembocarem em um dos mais fortes refrões do álbum.

Com riffs fortes e entrelaçando-se de maneira afiada, as guitarras de Heafy e Corey Beaulieu estão entre as qualidades mais evidentes do trabalho. A dupla formada pelo baixista Paolo Gregoletto e pelo baterista Nick Augusto (que estrou no álbum anterior) também se destaca, com uma performance dinâmica e uma interação acima de qualquer suspeita. Aliás, Gregoletto até um solo de baixo entrega em “Inicineration: The Broken World”.

No entanto, o protagonismo do Trivium segue todo com Matt Heafy. O líder, vocalista e guitarrista segue impressionando. Fazendo uma comparação com o universo dos super-heróis, Heafy está no auge dos seus poderes. Cantando muito, variando com precisão seu timbre limpo com trechos guturais, é o responsável principal por colocar o Trivium em um nível superior ocupado por pouquíssimas bandas no metal atual. O crescimento que o grupo apresentou em toda a sua carreira, o pulo evolutivo que a banda deu em todos os seus discos, principalmente nos dois últimos trabalhos, faz os ouvidos e o coração de quem aprecia e estuda o metal pulsarem de alegria. Ao lado de outros nomes que apresentaram discos magníficos nos últimos anos - coloque aí bandas como Machine Head, Mastodon, Lamb of God, Gojira, Opeth e mais alguns poucos nomes -, o Trivium vai escrevendo a sua história com cores cada vez mais fortes e sólidas, história essa que, a julgar por tudo o que foi feito até agora, caminha para apenas um destino: a consolidação da banda como uma das mais sólidas e criativas formações do heavy metal contemporâneo.

Vengeance Falls é um dos melhores discos do Trivium, o que o coloca, com folga, também na lista dos melhores lançamentos do ano. Sólido e consistente, mostra uma banda faminta e feroz, muito distante do metalcore que a revelou ao mundo, nos brindando com uma música complexa, agressiva e atual, escalando com velocidade a estrada que leva ao topo da hierarquia do metal.

Excelente, mais uma vez!

Nota 9

Faixas:
1 Brave This Storm
2 Vengeance Falls
3 Strife
4 No Way to Heal
5 To Believe
6 At the End of This War
7 Through Blood and Dirt and Bone
8 Villainy Thrives
9 Incineration: The Broken World
10 Wake (The End is Nigh)

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Concordando aqui em gênero, número e grau com o texto. Não a toa, toda a minha lista de álbuns está parada, já que não consigo parar de ouvir Vengeance Falls em loop desde sexta-feira.

    Apenas uma nota de rodapé, mais uma vez o Trivium pensa a frente, e coloca como bônus da edição especial três faixas que são simplesmente espetaculares. "No Hope For The Human Race", "As I Am Exploding" e as versões de "Skulls" e "We Are 138", do Misfits, são excelentes, e não meras sobras de estúdio ou versões acústicas melosas que outras bandas insistem em lançar como algo a mais.

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  2. Curti muito esse álbum, estou ouvindo sem parar. É o primeiro do Trivium que me agrada!

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  3. Gostei muito do disco.
    Mas confesso que achei que o equilíbrio da banda ficou no In Waves. Nem é questão da agressividade em sí.
    Não tinha parado pra pensar nessa ponte com o In flames, faz certo sentido...
    Na verdade o que me incomodou um pouco no disco foi a clara influência do David Draiman na maneira como Matt cantava. Achei desnecessário, tirou um pouco da identidade que a banda vinha construindo, a melodia dos vocais ficou muito parecida com as do Disturbed. Uma pena, porque a banda por si só está destruindo!O solo de baixo em Inicineration: The Broken World ficou animal!
    De cara já curti o albúm, mas preciso degustar mais.
    Agora fiquei curioso pra ouvir o cover de Loosing my religion do R.E.M que saiu na edição japonesa!

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  4. Vengeance Falls é um dos melhores discos do Trivium, o que o coloca, com folga, também na lista dos melhores lançamentos do ano. = concordo 100%.

    Atropelou o meu tempo pra ouvir o Dream Theather. Não consigo para com o Trivium pra olhar o DT.

    Essa banda sempre tira um coelho da cartola e surpreende. Gosto disso.

    Na fila, estou esperando o volume 2 do Five Finger Death Punch.

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  5. Olha, esse dava para dar nota 10 fácil!!!

    Afinal, estamos falando de três álbuns acima da média seguidos!!!

    Coisa de anos 80 isso!!

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  6. nunca curti a banda mas acho que tem potencial; vou ouvir!

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  7. Não curti muito "In Waves", mas este aqui é sensacional. Tem uma salutar influência da NWOBHM, especialmente Judas Priest. Na minha opinião, dá de 10 a 0 no Unto The Locust, do Machine Head.
    A propósito Ricardo, vocês vão fazer uma resenha do novo álbum da Anjo Gabriel? O disco é espetacular!

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  8. Eu discordo de quem comentou sobre o vocal. Achei espetacular. Os guturais são legais e tal, mas a evolução dele é impressionante, tá cantando melhor a cada disco. Esse disco e o do Carcass são meus preferidos do ano. Fico feliz de poder ouvir uma banda como o Trivium, gravando álbuns cada vez melhores.

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  9. Pretendo ter esse disco! Gosto muito do Trivium, pena que eles não tem o destaque me merecem aqui no Brasil. Tem muito "metaleiro" que fica com mi mi mi com os caras...

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  10. Putz, vcs falaram tão, mas tão bem do disco que fiquei curioso.

    Baixei, ouvi e sinceramente não gostei nem um pouco. Esse estilo não me desce de jeito nenhum.

    Bom, mas ninguém pode me acusar de ser "fechado". Baixei, parei tudo que estava fazendo e ouvi com atenção, do início ao fim.

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  11. De longe um dos melhores albuns do ano!
    O Trivium já deixou o metalcore à tempos e só vem evoluindo, já passou por várias vertentes e vem criando um estilo próprio nos últimos anos, sem falar que é um grupo muito enérgico e profissional o que dá pra perceber claramente ao vivo.
    Se os caras continuarem assim vão longe!

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  12. Não achei nada de esplêndido , segue a mesma linha do IN WAVES. Ascendancy, The Crusade e Shogun são infinitamente melhores que estes dois últimos.

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  13. O cd é muito bom. Usa de elementos do metalcore que não eram tão usados anteriormente(como muitos breakdowns), bem como outras influências de metal moderno e clássico. E também, a influência do Disturbed (do produtor e vocalista David Drainman) foi muito bem absorvida e é bem visível em músicas como Vengeance Falls e principalmente To Believe, que podia muito bem ser uma música do Disturbed (embora tenha também nela o toque pessoal do Trivium).

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