Pouca coisa soa mais verdadeira e pura do que uma homenagem honesta às pessoas que serviram de inspiração para o seu trabalho. O préstimo de reconhecimento aqueles que motivaram e serviram de base para o seu trabalho é algo admirável e digno de nota. Entretanto, em muitos casos é tênue o limiar que separa a homenagem honesta e orgânica do mero plágio, da cópia mercenária e preguiçosa a que muitos se prestam. Felizmente, a banda Blues Funeral pertence ao primeiro grupo e poucos soarão mais verdadeiros e puros que eles nesse ano.
O quarteto texano composto por três membros egressos da banda de heavy/doom metal Sanctus Bellum (Maurice Eggenschwiller, Jan Kimmel e Cory Cousins) e mais Gabe Katz faz nesse seu álbum de estreia, The Search, uma incursão prazerosa e valorosa pelos caminhos do hard rock e do heavy metal, explorando diversas nuances e características inerentes ao rock dos anos 1960 e 1970, passando pelo rock progressivo, pelo rock psicodélico e pelo proto-metal.
O trabalho é diversificado e referências honrosas a diversas bandas podem ser encontradas aqui e ali: Thin Lizzy, Iron Maiden, Black Sabbath, Scorpions, Deep Purple, King Crimson e outras podem ser notadas compondo o painel musical construído meticulosamente e de forma orgânica pelo Blues Funeral. Entretanto, é fundamental ressaltar que, acima de tudo, o heavy metal é a alma e a essência permeando e construindo a atmosfera da sonoridade dos caras. Certamente, bandas como Thin Lizzy e Iron Maiden, acima de todas as outras, se sentiriam orgulhosas do que os texanos construíram aqui.
Há algo verdadeiramente épico e clássico em Blues Funeral, característica que pode ser notada em The Search, principalmente na parte vocal e também em diversos momentos nas construções instrumentais. Esse elemento pode ser notado de forma contundente nas duas primeiras faixas, "Autumn Dreams" e "Harbinger". Enquanto "Autumn Dreams" é uma canção climática e com ótima atmosfera introdutória dividida igualmente entre o hard rock blueseiro e o heavy metal clássico e tradicional, a excelente "Harbinger" traz as guitarras gritando e anunciando uma peça mais densa, trovejante, que por vezes parece puxar consigo algo da linha Sanctus Bellum e tem um andamento mais profundo, sem abrir mão, entretanto, do aspecto épico citado anteriormente. Em ambas as faixas, impossível deixar de mencionar os ótimos e enérgicos solos de guitarra.
"Planet Void" é uma verdadeira homenagem à NWOBHM e uma canção que até mesmo o Iron Maiden adoraria ter composto, diria eu. Refrão grudento, ótima linha vocal, daquelas perfeitas para serem entoadas como hino em um show. Se não conhecesse a Blues Funeral e não soubesse que essa canção pertence a eles, certamente diria se tratar de algum clássico de uma banda de metal clássica. Apresenta uma demonstração clara e precisa da habilidade de cada um dos integrantes com suas funções, total domínio sobre suas capacidades, tanto de composição quanto de execução.
"Paragon of Virtue" foi a primeira faixa que ouvi desse álbum, a primeira liberada, e imediatamente ficou no coração. Provavelmente é a música que mais destoa do álbum como um todo, tendo uma cadência mais puxada para o hard rock progressivo e com uma presença "sabbathica" conspirando a seu favor em sua atmosfera, a qual também é carregada de pinceladas de rock progressivo e uma certa dose de psicodelia. Conta com uma presença marcante do teclado contribuindo para compor a teia musical da canção, ajudando a construir a que talvez seja a melhor música do disco. Destaque também para o ótimo solo final.
A faixa-título "The Search" é outra das canções mais marcantes do álbum. Com uma veia hard rock setentista pulsante e toques vibrantes de rock progressivo, traz em sua essência uma verdadeira volta ao passado à medida em que vai sendo desvelada. A presença marcante do teclado novamente é vista e tem sua apoteose com um solo de um minuto e meio após os seis minutos da canção! Sim, um incrível solo de teclado de El Janni com um minuto e meio, é teclado pra ninguém botar defeito e só engrandece a canção
Para encerrar de forma primorosa, "Palmdale" retoma novamente à veia heavy metal e carrega também uma dose de doom rock em sua alma. Talvez seja a canção mais carregada e densa do álbum, uma verdadeira martelada e direcionada ao headbanging, sem sombra de dúvidas! É a cereja do bolo de The Search.
The Search certamente não te levará de volta ao passado, não literalmente. Mas comprovadamente proporcionará uma viagem afetiva musical através de décadas passadas, relembrando bons momentos do desenvolvimento do hard rock e do heavy metal, reverenciando vários ícones dos gêneros e fazendo com que você tenha cerca de 41 minutos de puro deleite sonoro. De forma natural, orgânica e fluída, o Blues Funeral tem um começo brilhante e nos apresenta um dos grandes albums de estreia de nossa época.
Por Matheus Jacques
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