Discoteca Básica Bizz #073: Chic - The Best of Chic (1979)


Du-tu-ru-dum... não, não dá. Eu queria tentar descrever no papel uma linha de baixo do Chic, a coisa inacreditável que é, o que faz em você. Mas é inútil, só ouvindo. Vejamos, "Everybody Dance", por aproximação: uma jamanta acelerando, estacionada, para em seguida disparar em alta velocidade, passando por dentro de sua cabeça como um tiro, dar um cavalo-de-pau mais adiante e voltar com o mesmo impacto. E assim por diante. Como todo hit do Chic contido nesta coleção, a linha de baixo é um caso de polícia.

O baixo gigante, com vida própria, nasceu nos anos 1960, graças a dois fatores. Primeiro: James Brown diminuiu a porcentagem de quase tudo - metais, guitarras - para um mínimo necessário em favor do ritmo bruto do baixo e da bateria. Segundo: a Motown inventou a linha independente de baixo. Repare: antes dela todo baixo corria juntinho com a batida como suporte. Ouça músicas como "You Can't Hurry Love", das Supremes, e sinta aquelas quatro cordas grossas percorrendo um caminho todo delas.

O Chic juntou o ritmo realçado e mínimo de James Brown com a vida própria dos baixos da Motown e voilá, temos as melhores faixas rítmicas da história, sem discussão! É claro que alguns já haviam feito a junção antes, mas ninguém fez tão bem como o Chic. Afinal, além do dono do baixo, Bernard Edwards, dois itens fechavam um trio que nem Deus de bom humor teria concebido melhor: a guitarra precisa de Nile Rodgers - que, junto com Edwards, dividia as composições - e a máquina de bater baquetas Tony Thompson. Os esplêndidos vocais, teclados e violinos eram a cobertura e as cerejas perfeitas para a massa sublime.

Os três formaram a banda em 1977. Edwards e Rodgers conheceram-se numa agência dos correios de Nova York e formaram a Big Apple Band, com Thompson, ex-Labelle. Inicialmente foram por um sólido hard rock bem ritmado. Rodgers, previamente, havia participado de bandas que iam do folk ao punk (!).


A Big Apple Band logo virou Chic, graças ao bom gosto e a um homônimo já existente. Norma Jean Wright - depois substituída por Luci Martin - e Alfa Anderson entraram para os vocais. O som do Chic era disco - o que toda gravadora procurava no momento -, mas tinha um peso e uma densidade que o gênero nunca havia experimentado. Além de James Brown, havia aqui uma evidente influência da fase roqueira. Por isso, gravadora atrás de gravadora rejeitou sua demo, até que a Atlantic resolveu arriscar. Palpite certo. O single de estreia, "Dance, Dance, Dance", lançado em 1977, foi um sucesso e de cara os estabeleceu como hitmakers.

Seguiram-se os megassucessos mundiais "Le Freak", "Everybody Dance", "Good Times", "I Want Your Love", "Chic Cheer" e "My Feet Keep Dancing", todas nesta coleção. É música para trançar suas pernas e induzi-lo a um transe como um rinoceronte hipnotizando alguém durante um terremoto.

A influência é evidente em todo o pop dos anos 1980 em diante: dance music é a conexão mais óbvia, mas há ainda o funk pop inglês de bandas do início da década (ABC, Spandau Ballet, Duran Duran), as inúmeras produções do próprio Nile Rodgers (Sister Sledge, Diana Ross, David Bowie, Madonna) e - por que não? - roqueiros como o Living Colour. Além disso, considerando o gênero disco, o Chic é o único da área a angariar veneração de todo mundo no pop, de Robert Plant aos B-52's. Agora, pode se entregar.

Texto escrito por Camilo Rocha e publicado na Bizz #073, de agosto de 1991

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