O rock, a música e a vida


Em 13 de julho será comemorado mais um Dia Mundial do Rock, data criada na década de 1980 em homenagem ao Band Aid, iniciativa idealizada pelo músico Bob Geldolf e que reuniu diversos grandes nomes do rock inglês no single beneficente “Do They Know It’s Christmas?”, lançado em 1984 e o precursor das reuniões de artistas em prol de uma causa - o USA for Africa e seu “We Are the World” chegaram às lojas um ano depois, em 1985.

Inspirado pela data, olhei para o passado e mergulhei fundo na memória buscando lembranças, experiências e momentos que explicam a minha relação com o rock. E fazendo esse exercício consegui pinçar aquelas que foram as bandas e artistas mais importantes na minha imersão seguida de paixão à primeira vista e convertida, rápida e definitivamente, em amor para toda a vida.

O relato a seguir não possui nenhum valor científico, tampouco busca ser minimamente definitivo, afinal, como você bem sabe, música é algo subjetivo, que está ligado intimamente à memória afetiva e às experiências de cada um. Pra mim foi assim, mas para você, tenho certeza, foi ou será diferente.

Quando era adolescente, eu só ouvia heavy metal. Aí conheci os Beatles e percebi que havia muito mais além daquele mundo cercado por peso e camisetas pretas. John, Paul, George e Ringo me apresentaram um novo mundo, onde não havia limites entre gêneros e estilos. Assim, ainda em choque, bati de frente com o Led Zeppelin e os poucos preconceitos que ainda tentava conservar com afinco caíram por terra e nunca mais voltaram a ver a luz do dia. A banda era tão intensa, tão forte, que durante anos e ainda hoje, ao escutar seus discos, sinto um pontapé violento no peito. Sensação semelhante a que me foi proporcionada ao ouvir pela primeira vez o Black Sabbath ainda com o rosto cheio de espinhas, e ficar fascinado por aquele mundo construído por riffs contagiantes e por uma voz desafinada, mas cheia de carisma. Se o heavy metal continua fazendo parte dos meus dias no alto dos meus mais de 40 anos, eis aí os culpados.

Então, como um sopro de renovação e uma cachoeira multi-colorida, mergulhei no oceano sem fundo do Pink Floyd, entrando em transe e liberando doses maciças de dopamina a cada audição. Bem estar que foi intensificado ao conhecer, meio sem querer mas sem querer abrir mão desde então, o rock de cabaré movido a piano e exageros de Freedie Mercury e o Queen. Quem nunca se emocionou ao ouvir “Bohemian Rhapsody” jamais experimentou o poder inebriante da música.

Força essa responsável não apenas por manter os Rolling Stones na estrada desde o início dos tempos, como também o combustível que queima e mantém aceso infinitamente o apelo cativante das canções destes ingleses há séculos. Experimente mostrar “Satisfaction” para uma criança e você verá. Jagger e Richards deram ao mundo a mais perfeita definição do rock and roll, ainda que os irmãos Young e seu AC/DC há tempos dividam o posto e são merecedores da mesma definição que acabei de atribuir a Mick e Keith.

Mas, sem aviso e de surpresa, Eric Patrick Clapton repentinamente revelou que as seis cordas da guitarra poderiam fazer surgir sons impossíveis, característica que seu fã, um jovem negro norte-americano chamado James Marshall Hendrix, levou muito além, colocando o mundo aos seus pés com experimentos e um talento único e jamais visto desde então.

E tudo não estaria completo sem uma viagem pelas estradas norte-americanas, partindo da Califórnia e chegando na Flórida, mais precisamente à pequena Jacksonville, terra natal de uma das mais emblemáticas bandas e do mais impressionante trio de guitarras já visto nesse e em todos os outros mundos. É claro que estou falando do Lynyrd Skynyrd e suas imortais criações como “Free Bird”, “Simple Man”, “Sweet Home Alabama” e “That Smell”.

E no caminho, parando para comer algo e beber a sempre bem-vinda cerveja gelada, cruzamentos marcantes com gênios como Elton John, David Bowie, Bob Dylan, Chuck Berry, Elvis Presley e Neil Young, além de diversão infinita com nomes que fazem parte da minha, da sua e da vida do inconsciente coletivo como The Who, The Doors, The Byrds, Creedence Clearwater Revival, Allman Brothers, Deep Purple, Eagles e mais um monte de gente boa.

Sem aviso e sempre refrescantes, os desvios e atalhos que surgiram pelo caminho me levaram para outros universos que hoje soam indispensáveis e complementares uns aos outros, como o jazz de um certo Miles, o blues certeiro do amigo Muddy, o funk de Herbie e o soul de Sam, Otis, Wilson e Aretha.

O bom disso tudo é que a estrada está longe, bem longe, de terminar. Há apenas um belo e longo horizonte à frente, me levando em alguns momentos para o futuro, em outros para o passado, mas sempre naquela que parece não apenas a direção certa, mas a sonoridade que a minha vida e o meu espírito precisam ouvir naquele período.

Por tudo isso e mais um pouco, a música é a companhia constante, a amiga presente, a conselheira experiente, a amante insaciável, o beijo arrebatador e o colo reconfortante. Sem ela os dias ficariam sem graça e o mundo não faria sentido.

Em apenas uma frase, tudo e nada além: MÚSICA É VIDA.

Comentários

  1. Este amigo que vos escreve...que iniciou sua jornada com o Zeppelin de Chumbo...nao poderia deixar de postar um comentario parabenizando e celebrando esse belissimo texto sobre a nossa companheira inseparavel, amiga de todas as horas.
    Musica de qualidade vai bem sempre...
    Valeu Ricardo.

    Grande Abraco !!!

    Vagner NC

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  2. ...''MÚSICA É VIDA'' ... Vida é movimento... E música tá eternamente em vida, VIVO!PULSANDO! em gerundio. Parabéns caro Ricardo (C#R) Seelig por + um texto n ROLL! ROCKnize-SE.

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  3. Belo texto !!!
    Comecei com o Arise do Sepultura e a discografia do Iron Maiden...mas rapidamente fui conquistado pelo Trio de ferro dos 70: LED,SABBATH e PURPLE ...tanto que passei muitos anos achando que a música que prestava era SÓ desta década. Ainda bem que isso passou...ouço muita coisa e de diferentes estilos hj em dia e para mim todos os anos são ótimos. Música e preconceito não combinam....arte é pra abrir a cabeça e não fechar.

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  4. Que belo texto! Foi divertido lê-lo!!!
    E pensar que já fui do "Necroticism: Descanting The Insalubrious" do Carcass ao "Aqualung" do Jethro Tull sentindo o mesmo arrepio na pele!

    Viva o Rock!!! Viva o Metal!!! Viva a Música!!! Viva a Vida!!!

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  5. Belo texto. Ainda tenho lembranças de como propriamente comecei a mergulhar no rock. A paixão começou quando eu colocava um show do Iron Maiden pra tocar alto na sala de estar. E fui conhecendo grandes clássicos... expandi os horizontes e fiquei quase 4 anos ouvindo apenas heavy metal, do power ao brutal death/black. Hoje, me libertei de qualquer preconceito (ou quase todo) que eu julgava importante ter, e como foi dito no texto, hoje escuto o que o meu espírito inquietante anseia. O amor à música é implacável!

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  6. Comecei quando um tio mudou-se para minha casa.

    Tinha uns 30 LPs de rock. Led Zep, Rush, Stones, Purple, AcDc, Aerosmith, Rory Gallagher e mais alguns.

    Detestava aquele tipo de música barulhenta. Tinha 10 anos.

    O Zeppelin me chamou a atenção. Quando ouvi pela primeira vez detestei. Ouvi pela segunda odiei.

    Ouvi pela terceira vez e me apaixonei. Hoje tenho todos os vinis, cds e etc.

    O meu tio se mudou um ano depois para estudar em uma universidade perto da cidade aonde eu estava e deixou os discos comigo. Estão comigo até hoje e os meus amigos o conhecem como "tio Zep". Rsrsrs

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  7. Muitas vezes fui questionado do porque da minha relação com o Rock e Heavy Metal! Hoje tenho 46 anos paixão iniciada com 12 anos durante a primeira vinda do Kiss ao Brasil. Então ouvi Paranoid do já saudoso e eterno Black Sábado! Desde la nunca mais parou mas com certeza é uma da declarações mais apaixonadas que tive a oportunidade de ler ou ouvir e hoje consigo entenderam pouco do meu próprio sentimento em relação a este tipo de música! Valeu!

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