Metal Open Air: há cinco anos acontecia a maior picaretagem do metal nacional


Era para ser um festival histórico. Mais de 40 bandas tocando em três dias em São Luiz, no Maranhão, no maior evento dedicado ao heavy metal já realizado no Brasil, tendo como mestre de cerimônias o ator Charlie Sheen e a presença de bandas como Megadeth, Symphony X, Exodus, Destruction, Blind Guardian, Grave Digger, Anthrax, Rock and Roll All Stars, Obituary, Fear Factory, Saxon, Venom e outras. Mas é o Brasil, né, então tudo é possível - menos o que foi anunciado.

Sem receber o pagamento previamente combinado, as bandas começaram a cancelar suas apresentações no MOA por não terem recebido o cachê. Já os fãs, as chegarem no local do show, vendido como um ambiente diferenciado e com ótimas acomodações, foram surpreendidos, entre outros absurdos, com um camping montado dentro de um estábulo e com o cheiro de excrementos de cavalo impregnado em cada centímetro quadrado. 

O Metal Open Air foi promovido por Felipe Negri, da Negri Concerts, e pela Lamparina Produções. A Lamparina era uma produtora maranhense com operação regional e que ficou responsável pelo sistema de som - que não funcionou, e teve que ser substituído às pressas por equipamentos locados de bandas de forró locais. Já a Negri Concerts era, em 2012, uma das maiores produtoras e agências de casting de shows internacionais do país. Localizada em São Paulo, tinha relação próxima com toda a cena de metal brasileira, incluindo aí bandas, revistas, sites, jornalistas e todo aquele povo que troca opiniões isentas por credenciais para shows.

As coisas começaram a sair dos trilhos dois dias antes do início do festival, com a chegada dos primeiros fãs em São Luiz e a constatação, in loco, de que tudo que havia sido vendido não passava de uma ilusão. Simultaneamente, as bandas começaram a cancelar os seus shows em um efeito cascata. Dia 19 de abril de 2012, um dia antes do início do MOA, publicamos este texto, que recebeu inúmeras críticas de outros veículos por “não estar apoiando a cena nacional”. E aqui é importante citar um ponto crucial: até o cancelamento do festival, ocorrido somente no sábado, dia 21/04, NENHUM veículo do jornalismo musical especializado em heavy metal aqui no Brasil estava publicando nada sobre o absurdo que estava ocorrendo no Maranhão. As únicas excessões eram a Collectors Room e a Van do Halen - não por acaso, dois sites cujas redações ficam distantes do principal centro metálico do país, São Paulo (a CR em Florianópolis e a Van no interior do RS), e longe da influência e da política “uma mão lava a outra” da qual o senhor Felipe Negri e seus brothers eram tão fãs.

Dia 20/04 explicitamos todos os problemas que estavam acontecendo no MOA, com relatos que recebemos de amigos que haviam se deslocado e viajado milhares de quilômetros para assistor ao festival. Tudo está neste texto aqui, não apenas um dos mais acessados mas também um dos mais importantes da história do site. À medida que mais informações iam chegando, seguimos informando nossos leitores com uma série de posts relatando as condições do local e como os fãs estavam sendo tratados - leia aqui e aqui.

A cobertura de todos os acontecimentos que aconteceram no Metal Open Air em primeira mão foi um dos pontos mais importantes da trajetória da Collectors Room nestes quase dez anos de vida, mas, acreditem ou não, gerou grandes dores de cabeça para o site. Um texto escrito pelo amigo Bruno Sanchez criticando a postura dos vocalistas Thiago Bianchi e Edu Falaschi sobre o evento - ambos se divertiam pra valer e faziam posts em suas redes sociais elogiando o festival enquanto os fãs cheiravam a merda de cavalo na frente do palco - teve que ser retirado do ar após recebermos uma intimação judicial movida por ambos os vocalistas, onde nos ameaçavam de processo caso não calássemos a boca. Diversos jornalistas da cena de São Paulo, amigos do queridão Felipe Negri e que até então tinham uma relação amistosa com a CR, fecharam a cara e começaram a fazer campanha contra o site, cujo ponto alto foi uma peregrinação pelos selos e gravadoras especializados em metal aqui no Brasil solicitando que essas empresas não se relacionassem mais conosco (uma prévia do nós ou eles tão em voga no Brasil atualmente) - fato que nos foi relatado pelos próprios lojistas da Galeria do Rock e por donos de gravadoras amigos nossos.

Hoje, olhando para trás, fica claro que tudo o que aconteceu há cinco anos pode acontecer novamente. E a razão é bem simples: praticamente nada mudou desde então. A política de uma mão lava a outra segue firme e forte. A principal revista especializada em metal do Brasil, ainda que tenha evoluído nos últimos meses, segue oferecendo planos de mídia promocionais onde a compra de um pacote de anúncios em suas páginas garante um nota elogiosa em uma futura resenha. E uma parcela dos fãs, que foram os principais prejudicados por tudo isso, ainda prega que “ao menos foi legal assistir aos show que rolaram, valeu muito a pena, cara …”. Isso sem falar no inócuo Felipe Negri, cuja Negri Concerts fechou as portas mas tentou voltar alguns meses depois com uma empresa batizada de maneira prepotente como Indestructible Productions mas foi descoberto pelos fãs. E que, quero estar enganado, acredito piamente que segue operando na cena acobertado pelos brothers que, como dito antes, seguem vendendo a opinião por meras credenciais para shows.

Infelizmente, ainda seguem sendo poucos os veículos sérios e isentos na imprensa que cobre o heavy metal aqui no Brasil. A Collectors Room teve suas idas e vindas, e segue em frente como pode. A Van do Halen, ao que tudo indica, encerrará as suas atividades nos próximos meses. Poucas novas opções tem surgido nos últimos anos, e a renovação no modo de cobrir a cena é necessária, sempre. Um novo olhar sobre o nosso cotidiano se faz necessário.

Há cinco anos, um enorme capítulo negativo marcou o metal nacional. Passados quase 2 mil dias, pouca gente lembra, pouca gente se importa sobre o que aconteceu e, mais alarmante do que tudo, pouca coisa mudou desde então. Na boa, né gente: dá pra fazer tudo isso com menos jeitinho brasileiro e seguindo práticas mais corretas.

Até lá, o conto do vigário do metau nassionau segue firme e forte …


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