O Rock in Rio perdeu o seu impacto?


Nunca fui ao Rock in Rio. Apesar de o festival possuir uma enorme importância na minha vida como ouvinte de música, nunca assisti a uma das edições in loco. Foi com o RiR de 1985 que fui apresentado e me apaixonei pelo rock e pelo metal, assim como uma grande parcela de ouvintes da minha geração. AC/DC, Iron Maiden, Queen, Ozzy, Scorpions: esses nomes entraram na minha vida naquele início de 1985 e nunca mais saíram.

Trinta e dois anos depois, estamos em 2017, na ressaca da sétima edição do festival, que aconteceu nas duas últimas semanas no Rio de Janeiro. E foi uma edição estranha. Após a primeira semana, com o balde de água fria que foi o cancelamento da principal atração pop (Lady Gaga) e shows no mínimo discutíveis de nomes como Maroon 5, Fergie, Shawn Mendes e outros, que tiveram o seu contraponto em apresentações ótimas de gente como Nile Rodgers, Alicia Keys e Justin Timberlake, a pergunta foi ganhando força e ficou no ar: seria a edição de 2017 a pior da história do Rock in Rio?

Esse sentimento diminuiu na segunda semana, onde o rock finalmente entrou na festa e vimos shows excelentes de nomes como Alice Cooper, Aerosmith, Tears for Fears, Alter Bridge, Titãs, The Who, Offspring e Sepultura. E tivemos o Guns N’ Roses com uma performance épica, onde o instrumental brilhou mas foi manchada pelos sempre presentes problemas vocais de Axl Rose, intensificados pela longa turnê de retorno da formação “clássica" e pela decisão de fazer um show com mais de três horas de duração.


Pode ser que eu esteja um pouco cansado, pode ser que o festival tenha perdido um pouco da sua relevância, mas o fato é que, após o final da edição de 2017, a sensação é de que algo está estranho no mundo do Rock in Rio. Muito provavelmente essa sensação passe pelo fato de que muitos dos nomes que pisaram no palco do festival estiveram recentemente no país, outros tantos eram atrações que sempre tocam no RiR e, mais ainda, as principais atrações perderam o ineditismo de tocar apenas no festival. Explico: nos anos anteriores, as bandas vinham para o Brasil na época do RiR e tocavam apenas ali, tornando o festival um momento e uma ocasião especial para assistir a essas atrações. Em um movimento iniciado na edição de 2015 e intensificado nessa, os principais nomes aproveitaram a vinda para o país e tocaram em diversas outras cidades, fazendo com que suas apresentações no Rock in Rio tivessem o seu impacto diminuído. Até mesmo uma espécie de Rock in SP, o São Paulo Trip, se tornou viável e aconteceu com as bandas que foram anunciadas no Rock in Rio.

O festival ainda é um evento único. É grandioso, é gigantesco, é uma festa muito além dos palcos. São inúmeras atrações em suas instalações, de games a parques temáticos e de diversões, em uma estrutura voltada para toda a família. No entanto, o principal atrativo do Rock in Rio, a música, inegavelmente sofreu uma queda nesta edição de 2017. Os shows não tiveram mais o impacto que apresentavam no passado. O Queen fez história em 1985, o Guns N’ Roses fez história em 1991, o Iron Maiden em 2001, o Metallica em 2011, Bruce Springsteen deixou todo mundo boquiaberto em 2013. Em 2015 já havia sido difícil escolher um destaque, e em 2017 o protagonismo foi todo para o The Who, muito pelo fato de a banda inglesa finalmente estrear no Brasil após mais de cinquenta anos de carreira e entregar shows repletos de emoção e energia tanto no Rio quanto em São Paulo.


O Rock in Rio perdeu a relevância? O festival perdeu o seu impacto? A impressão que eu tenho é que sim, a força parece estar diminuindo. E não, não argumente que o pop não deveria estar no line-up do RiR porque ele sempre esteve, inclusive naquelas edições que a sua memória indica terem sido memoráveis (James Taylor, Al Jarreau, Ivan Lins e outros estavam lá em 1985, não se esqueça), mas que também tiveram o rock dividindo espaço com outros gêneros musicais.

Espero que em 2019 tenhamos um festival com mais energia, com shows mais especiais e com atrações que não se repitam tanto, seja no elenco do próprio RiR ou em passagens recentes pelo país. Sei o quanto é difícil montar um line-up para um festival desse porte (tente: são poucos os nomes que se sustentam como headliners em um evento desta magnitude, faça o exercício nos comentários), mas é preciso dar uma balançada nas coisas, Seu Medina. Para o bem do Rock in Rio, para a manutenção de sua bela história e para que mais e mais pessoas se apaixonem pelo mundo maravilhoso da música, vamos colocar a cabeça para funcionar, aprender com os erros e começar desde já a montar uma escalação acima de qualquer para o Rock in Rio 2019.

Comentários

  1. sinceramente acho que o Medina gostaria de trazer mais inovação, mas a impressão que tenho, é que ele não tem muitos nomes no mercado para contratar, afinal de contas ele tem que vender 700 mil ingressos. Se me esforçar não vou citar nomes capazes de vender um festival deste tamanho sem repetir artistas que já foram no festival ou vem sempre no BR.

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  2. Grandes nomes estão se tornando cada vez mais escassos. Porém, os maiores da atualidade ainda não pisaram no RIR, leia-se Rolling Stones e U2. Qualquer um dos dois seria a glória para o evento, apesar de turnês recentes no país. Outro nome, agora no pop, seria a Adele. Depeche Mode e The Cure seriam apostas que poderiam dar muito certo.

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  4. Não é apenas o fato de serem bandas boas ou ruins, mas o festival não trouxe algo que de fato seja realmente impactante, como em várias outras edições.
    Ver o Iron Maiden no auge e no retorno com Bruce, Queen também em seu melhor momento e um Neil Young com um show antológico. Se pararmos pra pensar, surgem diversos exemplos.
    Concordo também que já não há tantos grandes nomes disponíveis. Se pensarmos no Heavy Metal, não vejo nenhuma banda nova desde o Slipknot, capaz de comandar um público tão grande. No Rock, viajando um pouco, uma reunião do Led Zeppelin seria algo avassalador, mas que logicamente, pouco provável. No Pop, penso que a Lady Gaga realmente seria a melhor aposta. É um pouco desanimador. Não coloco a crítica sobre a organização. Acho que dentro do possível eles tentam explorar os diversos estilos, mas não adianta ser ingênuo de achar que diversificar e colocar grupos de pequeno porte diante de cem mil pessoas, seja a
    melhor resposta.

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