Discografia Comentada: Bruce Dickinson


Um das maiores vozes da história do rock, Paul Bruce Dickinson nasceu Worksop, Nottinghamshire, em 7 de agosto de 1958. Bruce começou no Samsom e fez história no Iron Maiden, sendo um dos responsáveis pela transformação do grupo inglês em um dos mais importantes e influentes nomes da música pesada em todos os tempos.

Mas o assunto aqui é outro. Vamos falar da carreira solo de Bruce Dickinson, que iniciou em 1990 com Tattooed Millionaire e conta com uma dezena de discos, incluindo trabalhos de estúdio, ao vivo e compilações. Então, apertem os cintos, subam o som e mergulhem comigo na obra desse artista multifacetado e com um talento enorme, como poucos de seus pares.


Tattooed Millionaire (1990) 

A estreia solo de Bruce Dickinson é um competente e cativante álbum de hard rock, repleto de influências de seus heróis setentistas, notadamente grupos como o Deep Purple e o AC/DC. Contando com a participação do Janick Gers, que havia integrado a banda de Ian Gillan e logo depois entraria no Iron Maiden, Bruce compôs um trabalho refrescante, mostrando um lado até então desconhecido dos fãs do Maiden. O som é um hardão poderoso, repleto de riffs e refrãos ganchudos, onde o destaque são faixas como a apoteótica "Son of a Gun" (que abre o disco), "Tattooed Millionaire", a autobiográfica "Born in ´58", a balada "Gypsy Road" e "Zulu Lulu", além da versão para a clássica "All the Young Dudes", imortalizada por David Bowie (nota 8,5)


Balls to Picasso (1994) 

Ao contrário do disco anterior, Balls to Picasso chegou às lojas quando Bruce já não fazia mais parte do Maiden. Lançado em maio de 1994, apresenta influências, ainda que tímidas, do então dominante grunge. Esse álbum marca a primeira colaboração de Bruce com Roy Z, guitarrista e produtor que seria fundamental na carreira solo de Dickinson. Balls to Picasso é lembrado entre os fãs por trazer o maior sucesso solo do vocalista, a belíssima "Tears of the Dragon", mas o álbum contém algumas jóias perdidas como "Cyclops", "Gods of War", "Laughing in the Hidding Bush" e "Shoot at the Clowns", isso sem falar de "Change of Heart", mais uma baladaça composta por Bruce (nota 8)


Alive in Studio A / Alive at the Marquee Club (1995)

Fuja desse disco! Antecipando o caminho que seguiria em Skunkworks, Bruce lançou um álbum duplo ao vivo onde reinterpreta suas composições com um equivocado ranço alternativo. O guitarrista Alex Dickinson - sem nenhuma relação de parentesco com o cantor, apesar do mesmo sobrenome - consegue a proeza de estragar as passagens construídas por Janick Gers e Roy Z nos lançamentos anteriores, principalmente em "Tears of the Dragon". O que ele faz com o solo dessa música já é motivo suficiente para prender o cara em uma solitária por vários meses ... Além disso, apesar de duplo, o álbum traz praticamente o mesmo tracklist, com a diferença de que um disco vem com um show no Marquee Club e outro com uma apresentação no Studio A da BBC. Indicando apenas para colecionadores completistas (nota 4)


Skunkworks (1996) 

Esse é o disco da discórdia. Querendo se mostrar atualizado e livrar-se do estigma de ter sido o vocalista de uma das maiores bandas da história do metal, Bruce Dickinson cortou os longos cabelos e produziu um trabalho com claras influências do som alternativo em voga na época. O álbum caiu como uma bomba no cenário metálico, sendo muito mal recebido tanto pela crítica quanto pelos fãs. Ouvindo-o hoje em dia algumas faixas até passam, como é o caso de "Back from the Edge", "Inertia" e, principalmente, "Solar Confinement", mas o fato é que esse disco não tem nada a ver com Bruce Dickinson, tanto que foi um fracasso de vendas (nota 7)


Accident of Birth (1997) 

O retorno triunfal de Bruce ao metal puro, trazendo Adrian Smith a tiracolo. A dupla, que havia feito história no Iron Maiden durante os anos 1980, reativou aqui a sua parceria criativa, com uma mãozinha muito bem-vinda de Roy Z. Accident of Birth é um grande álbum de heavy metal tradicional, repleto de canções marcantes e melodias cativantes de guitarra. Entre suas músicas, destaque para "Freak" (Bruce aprendeu com Steve Harris uma de suas mais valiosas lições: sempre abra um disco com uma canção de grande impacto!), para o quarteto mágico formado por "Darkside of Aquarius", "Road to Hell", "Man of Sorrows" e "Accident of Birth", e para três pequenas jóias perdidas no final do play: "The Magician", "Omega" e "Arc of Space". Clássico! (nota 9,5)


The Chemical Wedding (1998)

Assim como Accident of Birth marcou o retorno de Bruce ao estilo que o consagrou, The Chemical Wedding provou o quanto ele ainda era importante para o estilo. Inspirado pela ótima receptividade do álbum anterior, o vocalista compôs um disco fantástico, um dos melhores trabalhos do heavy metal contemporâneo. Com os fiéis parceiros Adrian Smith e Roy Z explorando afinações mais baixas, que fizeram o CD soar ainda mais pesado, o álbum é estupendo do início ao fim. "The Tower", a faixa-título, "Killing Floor", "Book of Thel”, “Gates of Urizen”, “Jerusalem”, “The Alchemist" - uma pedrada atrás da outra! O sucesso de The Chemical Wedding, somado ao constrangedor Virtual XI, lançado pelo Iron Maiden no mesmo ano, forçou Steve Harris a dar o braço a torcer e chamar Bruce de volta ao grupo, mas isso fica pra outro dia. Se você ainda não tem, compre agora mesmo, pois estamos falando de um dos melhores discos da história do heavy metal (nota 10)


Scream For Me Brazil (1999) 

Já de volta ao Iron Maiden, Bruce Dickinson passou pelo Brasil na turnê de The Chemical Wedding e registrou esse ótimo ao vivo. Roy coloca um peso absurdo nas guitarras, enquanto Adrian demonstra o talento e a classe habituais. O único ponto negativo de Scream For Me Brazil é a tenebrosa capa, uma tentativa equivocada de situar nosso país através de uma imagem supostamente iconográfica. Esse disco, junto com Alive in Studio A, foi relançado em 2005 em um box triplo chamado Alive. Excelente! (nota 8,5)


The Best of Bruce Dickinson (2001)

Esta coletânea dupla é indicada tanto para quem quer dar os primeiros passos na carreira solo de Bruce quanto para quem já possui todos os discos. A compilação repassa a aventura solo do vocalista, com músicas de todos os discos. Há ainda duas faixas inéditas - as ótimas “Broken” e “Silver Wings”, com uma sonoridade muito similar à de The Chemical Wedding. E, como bônus, um CD extra repleto de faixas raras e b-sides, um verdadeiro objeto de desejo para os fãs. Poucas vezes uma compilação fez tanto jus ao seu título como essa! (nota 9,5


Tyranny of Souls (2005) 

Depois de ajudar a recolocar o Iron Maiden em seu devido lugar no topo do universo metálico, Bruce Dickinson relaxou gravando mais um grande trabalho. Mesmo sem a presença de Adrian Smith - Roy Z assumiu todas as guitarras -, Tyranny of Souls soa como uma mistura entre Accident of Birth e The Chemical Wedding, com boas faixas como "Abduction", "Soul Intruders", a linda balada "Navigate the Seas of the Sun" e as ótimas "River of No Return", "Power of the Sun" e "Devil on a Hog". Cotação? Tem que ter! (nota 8,5)


Scream for Me Saravejo (Music From the Motion Picture) (2018)

Trilha sonora do documentário que mostrou a passagem do vocalista por uma Saravejo em ruínas durante a Guerra dos Bósnia, Scream for Me Saravejo é, na prática, uma bela compilação do trabalho solo de Bruce. A diferença em relação à coletânea lançada em 2001 está na inclusão das inéditas “Strange Death in Paradise” e “Eternal”, além de uma versão ao vivo de “Inertia”. Como The Best of Bruce Dickinson é bastante difícil de encontrar atualmente, eis aqui uma bela porta de entrada para a carreira solo de Bruce, ainda que o tracklist, que privilegia o lado mais contemplativo do vocalista, não conte com diversas faixas marcantes de sua trajetória (nota 8)


Além de todos esses álbuns, a discografia de Bruce Dickinson foi relançada em CDs deluxe em 2005, com todos os álbuns saindo em edições duplas trazendo faixas bônus, com exceção de Tyranny of Souls. Em em 2017 os títulos saíram em um box de vinil chamado Solo Works: 1990-2005. A caixa traz os discos Tattooed Millionaire, Balls to Picasso, Skunkworks, Accident of Birth, The Chemical Wedding e Tyranny of Souls, sendo que os dois últimos saíram pela primeira vez em LP neste box.

Comentários

  1. Dickinson tem uma voz chata.
    Diagnóstico era mais cru,mais feroz. A vantagem de BD é que ele adora o Purple. Tá perdoado.

    ResponderExcluir
  2. Gostei e Bruce além de excelente vocalista possui uma carreira solo que convenceu Steve Harris a chama-lo de volta.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.