Review: Blind Guardian – The God Machine (2022)


O Blind Guardian é mais um caso de uma banda que ficou presa à sua própria fórmula. Explico: os alemães alcançaram o topo do mundo e se transformaram em uma das maiores bandas de metal do planeta com os clássicos Imaginations From the Other Side (1995) e Nightfall in Middle-Earth (1998), álbuns brilhantes que apresentaram um som intrincado, épico e grandioso, banhado por doses generosas de melodia e agressividade e adornado por letras inspiradas no universo fantástico de J.R.R. Tolkien, o genial escritor inglês autor da trilogia O Senhor dos Anéis.

No entanto, é preciso admitir que, após esses dois discos, o Blind Guardian caminhou em direção a um som que ficou mais grandiloquente a cada disco, indo do excelente A Night at the Opera (2002) até Beyond the Red Mirror (2015), período onde, ainda que a banda continuasse lançando bons álbuns, a fórmula musical dos alemães foi se mostrando cada vez mais desgastada e, em certos aspectos, até mesmo esgotada. A cereja do bolo, pelo menos para uma parcela considerável dos fãs, foi o belíssimo Legacy of the Dark Lands (2019), álbum totalmente orquestrado e que não tem nada a ver não só com o som tradicional do quarteto alemão mas também com o próprio heavy metal, tanto que foi creditado para a Blind Guardian Twilight Orchestra.

Dentro de todo esse contexto, The God Machine funciona como uma espécie de reset. Décimo segundo disco do grupo, na prática é o primeiro com material “metálico” inédito em sete anos, desde Beyond the Black Mirror. A banda limou diversos aspectos da fórmula seguida a partir de Imaginations e Nightfall, e o resultado é um som mais direto e que remete aos primeiros álbuns. Isso se traduz não apenas em peso e agressividade, mas também em frescor e vitalidade, algo que os álbuns recentes do Blind Guardian não estavam conseguindo entregar.

Produzido pelo veterano Charlie Bauerfeind (Angra, Helloween, HammerFall), The God Machine vem com nove faixas em pouco mais de cinquenta minutos. No álbum, o quarteto formado por Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich (guitarra), Marcus Siepen (guitarra) e Frederik Ehmke (bateria) – além dos músicos convidados Barend Courbois (baixo) e Thomas Geiger (teclado) – mostra porque esteve na liderança do power metal por longos anos e retoma a sua majestade em um trabalho como há anos os fãs estavam esperando ouvir.

O tracklist é sólido e traz composições ótimas como “Deliver Us From Evil”, “Violent Shadows”, “Life Beyond the Spheres”, “Secrets of the American Gods” e “Blood of the Elves”, todas com as características que tornam o som do Blind Guardian único: peso, agressividade e melodia em doses certeiras, com coros encorpando os refrãos e as interpretações magistrais de Hansi Kürsch.

Tem horas que tudo que uma banda precisa é retornar às suas raízes. O Blind Guardian fez isso e o resultado foi ótimo.


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