Iron Maiden - El Dorado (2010)


Por Igor Z. Martins
Colecionador
Whiplash! Rock e Heavy Metal


Minha relação com o Iron Maiden, que já tem mais de dez anos, nos últimos tempos tem sido marcada pela "linha fina entre o amor e o ódio”. Apaixonado pela banda desde os 12 anos de idade, cresci vestindo camisetas que ostentavam diferentes tipos de Eddies, comprando os discos da banda e pregando que não havia nada melhor no mundo do rock que o Iron Maiden.

No entanto, nos últimos tempos, mais especificamente após o lançamento de Dance of Death (2003), comecei a implicar com o fanatismo dos fãs do grupo – talvez porque minha adolescência já havia ido embora junto com o fanatismo que, nem sempre, em se tratando de fãs do Iron Maiden, deixa de existir após os 20 anos de idade – e com a total falta de capacidade de se reinventar que o time de Steve Harris demonstrava.

Quando saiu seu último álbum de estúdio, A Matter of Life and Death (2006), eu odiei até as minhas entranhas. No entanto, há alguns meses ouvi novamente o disco e cheguei, inclusive, a escrever uma resenha na qual falava sobre os pontos positivos do trabalho. A principal tecla na qual batia era a mesmice da banda, a falta de peito para fazer algo inusitado, além do exagero de dedilhados de baixo de Steve Harris no início das canções e da performance demasiada, e consequentemente irritante, de Bruce Dickinson.

Então, quando há alguns meses o Iron Maiden anunciou um novo álbum, prontamente fiz minhas preces para que o trabalho fosse algo realmente digno de uma banda que é aclamada com a melhor do heavy metal. Eu espero, ardentemente, que aí venha um disco “destruidor”, criativo, corajoso, um álbum que aponte para o futuro e não para o passado da banda.

E, após o suspense feito por uma contagem regressiva no site oficial, o grupo liberou para download uma nova canção chamada “El Dorado”, primeiro single e amostra do que será The Final Frontier, o aguardado novo álbum. O site também disponibilizou a arte gráfica do single. Achei as artes das capas do álbum e do single bem legais. São diferentes, mas nada de obras de arte como Seventh Son of a Seventh Son (1998), por exemplo.

Mas vamos ao que interessa: a canção! Quando apertei o play senti um termor congelante de que fosse ouvir um dedilhado de Steve Harris! Para minha surpresa e felicidade, não havia dedilhados nem arpejos irritantes, tão presentes nos últimos discos. Quando Bruce Dickinson entrou cantando, meu coração também se encheu de alegria, porque ele não estava gritando desesperadamente como tem feito ultimamente. Dickinson pegou a mania, parece-me, de querer provar ao mundo que ainda sabe cantar e, para tal, eleva exageradamente o tom das canções, fazendo com que sua performance se assemelhe a uma choradeira desesperada.

O andamento de “El Dorado”, ainda que tenha marcas registradas da banda como o baixo cavalgado, é um tanto atípico. A canção é mais pesada que o usual, e a progressão das notas não se situa no manjado “dó-ré-mi”, outra marca registrada do Maiden – e do punk rock! Apenas no refrão Bruce eleva sua voz, o que é compreensível, já que os refrões da banda são historicamente marcantes, altos e melódicos.

Posso dizer que o que mais me chamou a atenção nessa nova canção, além do peso extra, foi a performance de Bruce, muito semelhante ao que ele fazia em seus álbuns solo, pelos quais sou realmente apaixonado. Aquela coisa de tons mais médios e um tanto agressivos, incluindo risadas diabólicas como as que aparecem em canções como “Welcome to the Pit” e “Trumpets of Jericho”.

O trabalho das guitarras também é bastante interessante, diferente. Não há na música aquelas melodias felizes e manjadas, daí o peso e a característica “rocker” da faixa.

O problema, todavia, é que a canção, por não ser estilisticamente exatamente igual a músicas de outras épocas do Maiden, tende a não agradar os fãs tradicionais do grupo. Se o álbum seguir o estilo de “El Dorado”, então nós teremos aí outro Fear of the Dark (1992) ou The X Factor (1994), discos que trazem uma proposta diferente e que, por isso, desagradaram, e ainda desagradam, boa parte dos fãs.

Eu vou continuar torcendo para The Final Frontier seja diferente, ousado e criativo. Assim, as chances de não agradar os fanáticos será grande! O que é sinônimo de brilhantismo e quebra de paradigmas, atributos que os fanáticos mais desprezam.


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