A trilha da vida


O Thiago do Judão me desafiou lá no Facebook. O que o ele propôs foi que eu fizesse um post por dia, durante 7 dias, compartilhando e falando sobre minhas músicas favoritas. Uma dessas correntes que aparecem nas redes sociais, mas que, ao contrário da maioria, é divertida e faz a gente pensar.

Tentando responder a pergunta do Cardim, me vi olhando para trás e vasculhando a memória para encontrar qual seria, afinal de contas, a trilha da minha vida. E não é uma resposta fácil. Por mais que algumas canções venham de imediato, outras tantas não surgem assim tão rápido. E, quando emergem, trazem junto lembranças de momentos, pessoas e sentimentos que vivemos, conhecemos e temos saudades.

Nesse exercício, surgiram trinta canções que representam meus dias por aqui. Coisas óbvias como “Stairway to Heaven”, “Tiny Dancer” e “Bohemian Rhapsody”, e outras nem tanto como “Thirteen”, “Thunder Road” e “Nobody Girl”. Olhando para essas três dezenas de lembranças, uma característica veio à tona: a melancolia. Na grande maioria dessas canções que entendo como importantes e marcantes nos meus 43 anos de vida, nessas faixas que me representam, a melancolia bate o ponto de maneira constante. Talvez ela seja a característica que eu associe com a beleza quando o assunto é música, o elemento que faz com que uma canção soe bonita e tocante aos meus ouvidos. Não sei explicar assim de maneira tão simples.

Está sendo um ano difícil. A trilha pela qual a vida está me levando neste 2015 não é das mais agradáveis. Meu pai está internado desde maio. Seis meses preso em uma cama, sem responder, com um fiapo de consciência. Aos 71 anos, está aqui, mas não está. Essa situação mexe com a gente. E de uma maneira que não conseguimos mensurar antes de vivermos nós mesmos algo semelhante. É algo que vai te consumindo, porque não há possibilidade de mudança. Ele não vai levantar, não vai falar, não vai se comunicar novamente. Segue em uma realidade que não sabemos qual é, em um limbo de consciência, esperando o descanso chegar.

Mas a vida segue, em uma realidade que a gente não imagina. Ninguém pensa que isso irá acontecer, mas é a situação que existe e os dias precisam seguir. Tudo isso afeta cada um de maneira diferente. Você passa por diferentes momentos, sempre tendo uma emoção como protagonista. Tem a hora da tristeza, da raiva, da incompreensão. Tem horas em que tudo fica à flor da pele. Até que entende que não adianta, é isso mesmo e deve lidar com tudo. Uma atitude que funciona muito bem no meio de um parágrafo, mas que não é tão simples no dia a dia. E então tudo que você sente começa a se manifestar também fisicamente, seja na imprevisibilidade de suas noites de sono (onde acordar de madrugada já se transformou em um clichê), no ganho ou perda de peso, na tentativa de exercer a sua profissão enquanto o cérebro teima em trazer outro assunto para a ordem do dia.

Moro longe do resto da minha família. Meu irmão também. E isso faz a gente se sentir ainda mais impotente. Não dá pra fazer nada, a não ser ligar todo dia e ver como a sua mãe está, trazendo assuntos diferentes para que a vida de todo mundo siga em frente.

Nessa situação, tudo assume um significado diferente. E claro, as canções que estão ao seu lado durante toda a vida também passam por essa transformação. “Thunder Road” vira sua amiga do peito. “Jesus, etc”, sua confidente. “Stairway”, o caminho que você quer seguir.

É claro que tudo uma hora vai mudar. É inevitável. Enquanto isso, essas trinta e poucas canções e mais aquelas tantas que a gente vai esbarrando pelo caminho, ajudam a vida a seguir em frente.

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