História: Iron Maiden e o épico The Book of Souls


Décimo sexto-álbum do Iron Maiden.

Lançado dia 4 de setembro de 2015.

Gravado entre setembro e dezembro de 2014 no Guillaume Tell Studios, em Paris, mesmo local onde a banda gravou o Brave New World (2000).

Produção mais uma vez da dupla Kevin Shirley e Steve Harris, que assinou a produção de todos os discos da banda desde que ela se transformou em um sexteto, a partir de Brave New World.

O álbum já estava pronto e gravado quando Bruce Dickinson foi diagnosticado com um câncer na garganta.

Por esse motivo, o lançamento e a turnê de promoção foram adiados por tempo indeterminado, até que o vocalista se recuperasse.

Esse tempo acabou sendo de nove meses, com o disco chegando às lojas em setembro de 2015.


É o primeiro álbum duplo de estúdio da banda.

E o disco mais longo da carreira do Iron Maiden, com 92 minutos de duração.
Contém a música mais longa da carreira da banda, a épica “Empire of the Clouds”, com mais de 18 minutos, superando “Rime of the Ancient Mariner”, que tem 13:45.

Marca o maior intervalo entre um álbum do Maiden e outro, pois seu antecessor, The Final Frontier, saiu em agosto de 2010.

É o primeiro álbum de estúdio do Maiden a usar o logotipo original da banda desde The X Factor (1995).

Essa logo já havia retornado nos ao vivos Maiden England ‘88 (2013) e Flight 666 (2009), que trazem setlists dos anos 1980, e na coletânea Somewhere Back in Time (2008).

Primeiro álbum da banda pela sua nova gravadora, a Parlophone. Todos os anteriores saíram pela EMI, que teve a banda sob contrato por mais de trinta anos.


Não é um álbum conceitual, porém várias letras abordam temas como alma e mortalidade, e a capa traz um tema inspirado na civilização maia.

A capa foi criada por Mark Wilkinson, que já havia trabalhado com a banda nas capas de Live at Donington (1993, na versão remaster de 1998) e Best of the B Sides (2002), e nas capas dos singles de” The Wicker Man” e “Out of the Silent Planet”, ambos do álbum Brave New World.

Segundo Steve Harris, a arte da capa está ligada à faixa título, que, como já mencionado, fala sobre a civilização maia.

Para dar ainda mais autenticidade à obra, a banda contratou o estudioso Simon Martin, especialista na cultura maia, que traduziu os títulos das músicas para hieróglifos maias e supervisionou toda a arte do álbum.

A banda adotou uma abordagem mais espontânea no estúdio.

Antes da gravação passaram semanas ensaiando, e quando finalmente foram para o estúdio finalizaram várias músicas lá mesmo, chegando até mesmo a compor algumas dentro do estúdio e gravarem logo em seguida, com as ideias ainda frescas. A ideia era aumentar a espontaneidade e a sensação de “ao vivo” no estúdio.


“Shadows of the Valley”, “Death or Glory”, “Speed of Light” e” If Eternity Should Fail” foram as primeiras a serem compostas para o álbum.

“If Eternity Should Fail” é uma composição de Bruce Dickinson e iria entrar em um futuro álbum solo do vocalista, que não lança nada inédito desde Tyranny of Souls (2005), mas acabou vindo pra cá.

“Speed of Light” e “Death or Glory” marcam as primeiras colaborações entre Bruce Dickinson e Adrian Smith, sem a presença de Steve Harris, desde que ambos voltaram ao Maiden em fevereiro de 1999. Vale lembrar que a dupla é autora de clássicos como “2 Minutes to Midnight”, “Flight of Icarus” e “Moonchild”.

É um trabalho que tem a participação de toda a banda na composição, ao contrário dos dois anteriores, onde Steve Harris monopolizou as ideias.

“Empire of the Clouds” foi composta totalmente por Bruce ao piano, e na hora de gravar ele comandou a banda ao lado de Kevin Shirley, orientando para onde cada instrumentista deveria seguir.


“If Eternity Should Fail” abre o disco de maneira sensacional e tem uma letra que fala sobre um personagem fictício chamado Doutor Necrópolis, que cria uma máquina capaz de roubar as almas dos seres humanos.

“Speed of Light” fala literalmente sobre a velocidade da luz e traz em sua letra muitas citações à física. O clipe, com Eddie passando por diversas fases de um videogame, é sensacional.

“The Great Unknown” fala sobre como o mundo tem se tornado um lugar repleto de egoísmo, violência, vingança e dor e como estamos caminhando para o “grande desconhecido”, que pode ser interpretado como a morte.

“The Red and the Black”, liricamente, é uma espécie de continuação de “The Angel and the Gambler”, do Virtual XI (1998), já que retoma na letra o tema das jogos de azar, principalmente os jogos de cartas. A música também tem o mesmo título de um livro do escritor francês Henri-Marie Beyle e que é uma crônica da sociedade francesa repleta de hipocrisia, traições e morte. Tanto o filme quanto o livro saíram no Brasil com o título de O Vermelho e o Negro.

“When the River Runs Deep” é uma reflexão sobre o dia em que a morte baterá na nossa porta, o que é inevitável para cada um de nós. Para alguns fãs, a letra traz trechos que mostram a banda lamentando as mortes do baterista Clive Burr e do tecladista Jon Lord, falecidos no período entre The Final Frontier e The Book of Souls. Além disso, Steve perdeu um amigo próximo e um membro da família durante o período de composição do disco, intensificando o tema de luto da faixa.


“The Book of Souls” fala sobre os maias. A civilização maia foi uma das mais avançadas do seu tempo e viveu entre 2000 A.C. e os anos 1600, quando foram conquistados pelos espanhóis. Ao lado dos incas e dos astecas, formam o trio de civilizações pré-colombianas extremamente avançadas e intelectualizadas que habitaram as Américas antes do descobrimento, e sua influência é sentida até hoje em todo o continente. O Livro das Almas citado no título aparentemente não existe e é uma alusão da banda aos inúmeros escritos deixados pelos maias documentando o seu conhecimento.

“Death or Glory” fala sobre a primeira guerra mundial e os aviões triplanos, e cita o piloto alemão Manfred Von Richthofen, o famoso Barão Vermelho, na letra.

“Shadows of the Valley” traz uma letra inspirada na Bíblia, mais especificamente no trecho que fala sobre o Vale das Sombras e da Morte.


“Tears of the Clown” foi inspirada no ator Robin Williams, de Sociedade dos Poetas Mortos e outros sucessos, um dos mais conhecidos comediantes norte-americanos, morte em 2014 após cometer suicídio. A música é a melhor do álbum na opinião de Bruce Dickinson.

“The Man of Sorrows” traz um título quase idêntico a uma música presente em Accident of Birth, álbum solo de Bruce lançada em 1997. A canção de Bruce fala sobre o mago e ocultista inglês Aleister Crowley, mas aqui estamos falando de uma música de Steve e Dave inspirada em uma das imagens mais icônicas do cristianismo, representando Jesus com as chagas da crucificação carregando o peso das transgressões da humanidade.

E “Empire of the Clouds” fecha o disco com uma letra sobre o dirigível R101. A idéia inicial nasceu de uma parceria não concretizada entre Bruce e Jon Lord, tecladista do Deep Purple, falecido em julho de 2012. O dirigível foi a maior embarcação construída pelo homem até então, tanto para o ar quanto para a terra, mas acabou caindo dia 5 de outubro de 1930 matando 48 dos 54 passageiros e tripulantes, em um dos acidentes aéreos mais famosos de todos os tempos.


The Book of Souls foi recebido com elogios pela crítica.

A Classic Rock Magazine deu nota 9 de 10 e disse que é difícil pensar em outra banda dessa geração que soe tão inspirada.

Kerrang e Metal Hammer deram nota máxima para o disco. A Kerrang afirmou que é um disco com uma visão extraordinária e a Metal Hammer escreveu que o álbum é uma jornada emocional gigantesca através de algumas das melhores performances da carreira da banda.

O Blabbermouth deu nota 9,5 e considerou o disco mais abrangente e confiante da banda desde Brave New World e um dos melhores álbuns de toda a trajetória do grupo.

O PopMatters deu nota 9 e elogiou o Maiden por retornar ao topo de uma maneira que não era vista desde 1988 com Seventh Son of a Seventh Son.

O AllMusic deu nota 4 de 5 que ao ouvir o disco algumas vezes, ele ganha espaço na prateleira dos melhores álbuns do Iron Maiden.

A Billboard afirmou que o álbum é longo demais, porém surpreendentemente envolvente de forma geral.

A Paste deu nota 8 e disse que The Book of Souls é uma obra impressionante mas que às vezes acaba atolada na própria ambição da banda.

The Book of Souls foi eleito o álbum do ano pela Classic Rock Magazine, Loudwire e Metal Hammer e ficou com o quinto lugar na lista de melhores discos de metal de 2015 da Rolling Stone.


O disco chegou ao número 1 em 24 países.

Foi o quinto álbum do Maiden a chegar ao primeiro lugar na Inglaterra, fazendo companhia a The Number of the Beast (1982), Seventh Son of a Seventh Son (1988), Fear of the Dark (1992) e The Final Frontier (2010).

Chegou ao quarto lugar na Billboard, melhor posição da história da banda no mercado norte-americano e igualando a marca do trabalho anterior, The Final Frontier.

Vendeu 100 mil cópias na Inglaterra e na Alemanha, e 40 mil cópias no Brasil.

Ganhou Disco de Ouro em 13 países e Disco de Platina em dois: Hungria e Brasil.


A turnê gerou o duplo ao vivo The Book of Souls: Live Chapter, lançado em 17 de novembro de 2017. O material foi disponibilizado em áudio e vídeo, porém o vídeo não teve formato físico, apenas digital nos canais oficiais da banda.
Este é o décimo-segundo álbum ao vivo do Iron Maiden e traz duas músicas gravadas no Brasil: “Fear of the Dark” na Arena Castelão, em Fortaleza, e “Wasted Years” no HSBC Arena, no Rio de Janeiro.


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