Nota: 8
Não
espere uma audição fácil ao dar play em Lulu, álbum da
parceria entre a maior banda de heavy metal do planeta – Metallica
– e um dos ícones do rock “com cérebro” - Lou Reed. Concebido
para ser uma espécie de trilha-sonora para o teatro de vanguarda,
preenchendo o espaço que antes era ocupado por trilhas orquestradas
e clássicas, o disco soa como uma espécie de ópera, alternando
momentos mais “visuais” com outros mais palatáveis ao ouvinte
“normal” de música.
Conceitual,
o trabalho conta a história de Lulu, personagem criada pelo ator e
dramaturgo alemão Benjamin Franklin Wedekind, uma jovem dona de um
desejo sexual infinito e sem restrições que a conduz através de
uma jornada repleta de prazer e sangue. Reed havia escrito as letras
das canções há alguns anos atrás para uma montagem
norte-americana da peça, que acabou não saindo. Agora, essas mesmas
letras ganharam o acompanhamento instrumental do Metallica,
alcançando um resultado final, no mínimo, controverso.
Pra
começo de conversa, é preciso deixar claro que Lulu não é
o novo álbum nem do Metallica nem de Lou Reed. O disco é a estreia
da parceria entre ambos, portanto não espere encontrar aqui o que o
Metallica fez em Death Magnetic (2008), por exemplo. Grande
parte da força do trabalho está nas letras de Reed, que serão
ignoradas pela imensa parcela dos ouvintes que não domina a língua
inglesa. Assim, o que importa, para grande parte do público, é a
música propriamente dita.
O
Metallica soa de maneira inédita em Lulu. No lugar dos riffs
thrash, temos a predominância de jams, ruídos e passagens
construídas a partir de feedbacks. Não há o formato clássico do
heavy metal, e nem do rock, na parte instrumental do disco. Salvo
algumas exceções - como “Mistress Dread”, onde a banda soa mais
próxima do que os seus fãs estão acostumados -, a maioria das
músicas caminha por sons que causarão estranhamento ao ouvinte
tradicional de heavy metal. Isso, aliado à maneira peculiar de
cantar de Reed – recitando as letras, como se estivesse falando -,
realça ainda mais essa sensação. Pra fechar, a duração das
músicas – todas longas -, faz com que se feche um casulo em torno
dos músicos, impenetrável na maioria das vezes.
Ainda
assim, algumas faixas funcionam. É o caso de “The View”,
primeiro single, onde o Metallica soa bastante similar aos álbuns
Load e Reload. Já em “Iced Honey” o que temos é
um hard rock interessante, que remete ao ótimo New York,
lançado por Lou Reed em 1989.
O
que torna a audição do álbum difícil é o excesso de
experimentalismo de algumas faixas. Entendendo o objetivo dos músicos
– criar uma trilha para uma peça de teatro, traduzindo nas faixas
os diferentes momentos e emoções do roteiro -, fica mais fácil
absorver as composições. No entanto, algumas delas simplesmente não
funcionam sozinhas, sem o acompanhamento de atores em um palco
imaginário, por mais fértil que possa ser a imaginação de quem
está escutando o disco. É o caso de “Pumping Blood” e
“Frustration”.
Entretanto,
em alguns momentos a transição é feita de maneira suave, sem a
exigência de uma barreira intransponível entre a música e o
ouvinte. Quando isso acontece, somos brindados por boas faixas como
“Cheat On Me” - uma tour de force de mais de 11 minutos -,
“Dragon” e “Junior Dad”, que não só encerra o trabalho como
funciona como um fechamento de tudo o que ele propõe.
Lulu
não é um disco fácil. Ele não foi feito para ser ouvido de
maneira casual. É preciso se concentrar, deixar-se levar pelas mãos
de Hetfield e Reed através de suas composições. Desafiador, erra
em alguns momentos e acerta em outros. É uma espécie de sinfonia
repleta de pretensão, que, definitivamente, não será assimilada
por quem vive em um universo musical formado somente por rock e heavy
metal. Os ouvintes mais curiosos e já habituados com a música
clássica, por exemplo, absorverão muito melhor as ideias propostas,
já que elas estão muito mais próximas dos conceitos e variações
desenvolvidos pelo gênero do que do formato padrão do metal e do
rock.
Vai
gerar discussão? Vai. Vai receber críticas negativas? Sim, a
maioria. Lulu mostra que o Metallica, inquieto por natureza
mesmo com os milhões de dólares de suas contas bancárias, continua
buscando desafios criativos em sua carreira. Essa atitude, que muitas
vezes não é entendida pelos fãs, é extremamente saudável, pois
mantém a banda viva artisticamente e não apenas como uma enorme
empresa da indústria musical, como muitos gigantes por aí. No
final, o Metallica sai ganhando ao experimentar novas sonoridades,
assim como Reed, que teve um acompanhamento literalmente de peso para
as suas letras.
Ouça,
e tire as suas próprias conclusões. Para mim, o saldo é mais
positivo do que negativo.
Faixas:
CD
1
- Brandenburg Gate
- The View
- Pumping Blood
- Mistress Dread
- Iced Honey
- Cheat On Me
CD
2
- Frustration
- Little Dog
- Dragon
- Junior Dad
Não deu para segurar a risada quando Lou Reed começa a "cantar" na primeira música.
ResponderExcluirBOM DISCO, ABSTRATO....GOSTEI, SÓ UMA PERGUNTA, POR QUE ISSO ACONTECEU COMIGO.....VC CONSEGUIU OUVIR "LITTLE DOG" SEM ESPUMAR PELA BOCA????, NÃO COMENTO AS PROXIMAS QUE AINDA ESTOU NO MEIO DA AUDIÇÃO, ESTOU AGORA OUVINDO DRAGON, MAS O DISCO ME AGRADOU SIM, E A RESENHA TBM....PARABENS!!!!!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCurti o disco, ouvi mais por curiosidade mas o resultado foi bem legal.
ResponderExcluirBom.... eu adorei o disco...
ResponderExcluiré soturno, depressivo, cheio de climas.... mas realmente é pra poucos... tem que gostar deste tipo de música....
Eu achei o casamento entre o instrumental e o vocal declamado do Lou Red quase perfeito.... apenas em alguns momentos os refrões cantados (se é que podemos chamar de refrões) pelo James ficaram meio deslocados ...
É engraçado como vai de gosto...duas faixas que o Cadão citou que não funcionaram acabaram sendo das minhas preferidas...
Enfim...parabens para o Metallica e para o Red ..... o disco certamente será odiado por muitos...
Mas eu entro na lista de fãs...
Nota 8.5/10
Acabei de ouvir Lulu inteiro e achei muito bom. Não achei tao difícil a assimilação do álbum, pois já sou acostumado a ouvir todos os estilos musicais, a pesar de preferir mesmo o bom e velho Rock n Roll e Metal. Acho que depois de outras audições vou achar cada vez melhor. Não sei qual a nota dou para essa parceria, mas acho pouco o 7 que o Ricardo Seelig deu.
ResponderExcluirSó ouvi os preview, e como não dou onda à banda desde 1995 (não, não vou entrar ou causar polêmicas), achei o disco bem fraquinho pelo que ouvi.
ResponderExcluirAgora, uma citação que Cadão fez tem destaque e é uma verdade absoluta: este disco não é fácil de ser digerido, então, indico a todos mais umas ouvidas, inclusive eu mesmo, para uma análise mais profunda.
Ricardo foi generoso em dar nota 7 pro disco, 5 está de bom tamanho!
ResponderExcluirO disco não é difícil, é chato. Aliás, é mais chato que dançar com a irmã!
Schoenberg é difícil, Zappa é difícil...até Arrigo Barnabé é difícl e não são chatos (quer dizer, às vezes), mas "Lulu" é bem chato, salvo alguns momentos...Sorte nossa que sabemos que Lou Reed e Metallica são muito mais que isso...