Desde que comecei a me interessar por música, fazia visitas frequentes a Passo Fundo para comprar discos. Não havia loja de discos em Espumoso, então precisava me deslocar até onde elas estavam. Encarava 2 horas de viagem em um ônibus “pinga-pinga” (que é como chamávamos as linhas que não eram diretas e faziam diversas paradas ao longo do trajeto) até chegar e sair em busca de novidades para minha coleção.
Foi em uma dessas primeiras incursões que conheci o Black Sabbath. Já havia lido algo sobre a banda em alguma revista cujo título não lembro mais, mas ainda não havia escutado o som. Passando pelo centro da cidade, entrei em uma loja de sapatos que, casualmente, também vendia LPs. Eles deviam ter uns dez discos expostos em uma estante lá no final do corredor, e um deles me chamou a atenção. Era o Paranoid, segundo do Sabbath, estalando de novo, na edição brasileira lançada pela RGE. Comprei na hora.
Comentei com um amigo, que respondeu: “É, o problema de ouvir Black Sabbath é que a gente não consegue parar de escutar tão cedo”. E sim, era isso mesmo. O primeiro contato com os riffs de Tony Iommi é como um rito de passagem na vida de quem gosta de música. Aquele som muda a sua percepção das coisas de forma definitiva.
Logo depois do Paranoid fui atrás de outros discos, e peguei o primeirão da banda. Na contracapa, o vocalista era apresentado como Ossie Osbourne, ao invés do popular Ozzy que conhecemos. E a música era ainda mais sombria e assustadora. Aquilo era do mal com nada havia sido antes. Pirei em “The Wizard” e, principalmente, em “N.I.B.”, que me soava familiar pela semelhança com o riff de “Cocaine”.
Ao longo da adolescência fui entrando em contato com outros álbuns do grupo. Master of Reality (1971) e seu peso e carisma cativantes. Never Say Die! (1978) com a belíssima “Air Dance”. Mob Rules (1981) com o metal puro e a voz divina de Ronnie James Dio. Seventh Star (1986) e suas músicas diferentes, mas mesmo assim ótimas, cantadas pela voz incrível de Glenn Hughes. E até mesmo The Eternal Idol (1987), cuja faixa de abertura, “The Shining”, logo se tornou uma das minhas favoritas.
Mas daí chegou uma época em que meio me afastei do Black Sabbath. Eram tantas bandas interessantes chegando e me cercando por todos os lados, que o apetite e curiosidade para degustar tudo aquilo me fez colocar de lado o que eu achava que já conhecia.
Hoje, a coleção do Black Sabbath ocupa lugar de destaque em minha estante, como uma espécie de base que não apenas sustenta tudo o que veio depois, mas também serve de refúgio quando estou cansado e quero apenas me sentir confortável em um lugar que conheço muito bem.
O Black Sabbath também serviu de ponto de partida para que o Matias, do alto dos seus 3 anos, construísse um raciocínio interessante. Ele já conhecia outras bandas, e as dividiu em duas categorias: rock feliz e rock brabo. No rock feliz, nomes como Beatles, Stones e AC/DC. Já no rock brabo, Black Sabbath, Iron Maiden e Kiss. Uma boa definição e que, na inocência e ingenuidade de uma criança, reduz tudo à sua essência.
O resumo disso tudo é que, mesmo passados mais de 40 anos do lançamento do primeiro LP do Black Sabbath, a sua música continua incrível. É tanto riff empolgante que não há como passar pelo som dos caras sem sentir alguma coisa. Tudo que importa no heavy metal, no rock, está ali: um vocalista carismático e que canta com a alma, um guitarrista que despeja riffs compulsivamente, um baixo pesado que reforça tudo e uma bateria quase primal, conduzida não pela técnica, mas pelo feeling puro.
Vai chegar uma hora em que o Matias vai entender o Black Sabbath em sua plenitude. E, quando isso acontecer, ele vai sentir a mesma sensação que eu, você e todo mundo naquela primeira vez: não tem como parar de ouvir. É hipnótico, mágico, uma experiência quase sobrenatural. É o rock em sua essência.
Por Ricardo Seelig
Aonde está escrito Junior's dance não seria Junior's eyes?
ResponderExcluirEu consigo ouvir até o famigerado "Forbidden", mas o "Never Say Die" eu não consigo. É o único álbum do Sabbath que eu realmente não gosto de nada dele, odeio inclusive a faixa-título alegrinha pra cacete hehe
ResponderExcluirO legal disso é que cada um lembre quando escutou essas bandas pela primeira vez. Um momento único realmente. Mais recentemente, quando escutei o Crack the Skye pela primeira vez, senti essa mesma loucura dessas bandas clássicas. A vontade era de ouvir o disco o tempo todo, o dia inteiro e saber de cara, que aquilo me acompanharia o resto da vida.
ResponderExcluirObrigado Ricardo por partilhar isto com os leitores.
ResponderExcluirAlém de um excelente gosto musical, gosto de ler as suas criticas, embora e como é natural não concorde com todas, mas respeito.
Esta adoro é precisamente o que eu sinto sobre Sabbath, no entanto o mais importante é o que você está passando para o seu filho e é nisto precisamente que eu quero fazer para o meu com 4 anos.
valeu obrigado