Korn: crítica de The Paradigm Shift (2013)


Em uma época em que alguns dos maiores ícones do rock e heavy metal estavam com suas estruturas terrivelmente abaladas, quando o mundo ainda estava aos prantos pelo Nirvana, o Metallica parecia cada vez mais perdido e o Pantera demonstrava os primeiros sinais de implosão, os Estados Unidos presenciaram o surgimento de toda uma nova geração de bandas que rapidamente foi classificada (e erroneamente simplificada) como o controverso nu metal. E para o bem ou para o mal, o Korn sempre foi um dos alicerces do estilo e influência primordial para todos os que vieram a seguir.


Do som único de seus primeiros álbuns, passando pelo megalomaníaco sucesso comercial atingido com Follow the Leader, até os seus mais recentes e elaborados trabalhos, o grupo completa duas décadas de existência em 2013, e, como que para marcar sua trajetória, lança The Paradigm Shift, seu décimo-primeiro disco de estúdio. Produzido por Don Gilmore, não apenas vem com a promessa de resgatar seu som primordial, como é também o primeiro com o guitarrista fundador Brian “Head” Welch em oito anos.


Promessas à parte, logo nos absurdamente pesados primeiros segundos de “Prey For Me” já é possível notar que algo realmente está diferente: saem as alucinantes programações artificiais de dubstep e a guitarra volta a ser o principal elemento condutor da música, ao lado do sempre característico trabalho da cozinha. Isso invariavelmente reflete em todo o álbum, com faixas soando mais básicas, bem definidas principalmente pelas melodias muito mais simples e marcantes.


E não apenas isso, mas aquela atmosfera carregadíssima, ruidosa, volta a se manifestar tanto em “Love & Meth” quanto em “What We Do”, e aliado ao brutal conteúdo lírico explica muito bem sobre o porquê de o Korn ter conseguido se estabelecer como um dos pilares de toda uma vertente. Da mesma forma, “Spike in My Veins” traz mais uma vez aquele arrastado groove marcante dos americanos, deixando um bom espaço para sutis inserções eletrônicas, podendo até ter estado no último álbum deles.


A seguinte, “Mass Hysteria”, também não foge muito desse padrão, mostrando que eles definitivamente encontraram meios de incorporar os elementos de dubstep ao seu som, sem tirar qualquer outro traço marcante. Outra prova desse equilíbrio está em “Paranoid and Aroused”, que consegue soar atual mesmo com uma aura instrumental que remete diretamente a algum lugar no final da década de noventa.


“Never Never”, por outro lado, é totalmente artificial, mais exagerada inclusive que muitas faixas de The Path of Totality, o que deixou muita gente que esperava a famigerada “volta às raízes” um tanto quanto intrigada. No fim das contas, ela pode facilmente ser encarada como o single do álbum, e apesar de bem diferente do restante, não compromete em nada o fluxo como um todo. Até mesmo porque “Punishment Time” traz uma série de mudanças de andamento bem inesperadas, sendo um dos momentos mais interessantes do disco, ao lado da lenta e desesperadora balada “Lullaby For A Sadist”.


Esse sentimento, aliás, continua na tensíssima “Victimized”, que apesar de um início excessivamente padrão, cresce aos poucos graças às inserções de pequenos detalhes ao longo de poucos minutos e consegue fugir um pouco do esperado. “It’s All Wrong”, porém, encerra o álbum com riffs cadenciados e sem grandes novidades, bem diferente do que vinha sendo apresentado nas últimas faixas.


Contudo, o saldo de The Paradigm Shift é mais do que positivo: o fato de ter de volta um de seus membros originais não fez com que o Korn abandonasse tudo o que foi construído ao longo da última década, mas pelo contrário, usufruiu de toda a maturidade e experiência adquirida nesse meio tempo para compor um trabalho que sim, de fato remete aos seus primeiros álbuns, mas não de forma forçada ou simplesmente tentando reutilizar as mesmas fórmulas. Além disso, é importante notar que o experimento com diversos produtores e as novas ideias apresentadas no disco anterior não foram um evento isolado, mas algo que definitivamente estabeleceu (mais uma vez) todo um novo horizonte à banda.


E o equilíbrio musical aqui é como uma fórmula aprimorada por todo o dinamismo que eles tentaram em seus álbuns anteriores (em especial o presente em Untouchables e Take a Look in the Mirror, os dois últimos com Brian Welch, na década passada), que não redefine mais uma vez apenas a sua própria identidade, mas resulta em um álbum que facilmente figura como um dos pontos altos de sua discografia.


The Paradigm Shift é um genuíno álbum de nu metal. Em pleno 2013. E extremamente confortável e condizente com isso.


Nota 8


Faixas:
01. Prey For Me
02. Love & Meth
03. What We Do
04. Spike In My Veins
05. Mass Hysteria
06. Paranoid and Aroused
07. Never Never
08. Punishment Time
09. Lullaby For A Sadist
10. Victimized
11. It’s All Wrong


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Que capa legal, e que banda boa pra caramba! Ótimo texto.

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  2. não conheço quase nada da banda, vou atrás ouvir. Valeu.

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  3. Sempre fui implicado com New Metal. Foi meio que o esconderijo do rock no fim dos anos 90 quando tudo virou eletrônica. E depois ainda degringolou alguns elementos pro Emo. Mas, sempre dei muito valor no Deftones, que eu acho disparado a melhor banda do gênero.

    O Korn eu gostava, mas nunca foi nada demais. Entretanto, achei eles muito corajosos com o disco recente de dubstep. Apesar de não ser um disco que vc volte pra casa com aquele ar de "vou escutar essa parada hoje", foi um disco corajoso e que mostrou um valor experimental muito bom. Não é zona de conforto e tem algumas músicas muito boas. Não tudo, mas algumas. Outro momento legal foi no acústico fazendo parceria com o Robert Smith (Cure). Moral eterna comigo por causa disso.

    Korn - In Between Days (feat Robert Smith)
    http://www.youtube.com/watch?v=15CXQAriqI8

    Acho que esse disco atual se resumo a uma palavra: MATURIDADE. Depois dos tempos instáveis dos anos 2000, eu acho que a banda conseguiu realmente se achar. Estão mais ESTÁVEIS, muito diferente do Limp Biskit, que está mais perdido que cego em tiroteio.

    Uma banda de New Metal legal que voltou pra shows e poderia lançar algo novo é o Coal Chamber, que já teve colaboração até com o Ozzy.

    Nunca vou ser um fan de Korn, mas já fui ouvinte da banda por bom tempo e recomendo esse disco atual.

    Fotos interessantes:

    http://mamarracho.tumblr.com/post/25272126220/rob-zombie-ozzy-osbourne-jonathan-davis-fred

    http://www.wireimage.com.pt/imagens-celebridades/Rob-Zombie-Ozzy-Osbourne-Jonathan-Davis-and-Fred-Durst/85485256

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  4. Também nunca fui fã deles, mas conseguiram minha atenção ao recrutarem Terry Bozzio para gravar o Untitled. E gostei muito desse álbum justamente pelo seu caráter experimental, aliado a uma atmosfera densa e caótica que eu não esperava do Korn. De lá pra cá os acompanho com mais atenção e também por isso concordo com o texto do Rodrigo. The Paradigm Shift é muito bom, acessível e mais direto que os últimos trabalhos. Aprovado!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Muito bom os comentários e críticas sobre o ultimo trabalho do korn. Porem ficou faltando os comentários e listagem de duas faixas do album: 12-Wish I Wasn t Born Today e 13-Tell Me What You Want. A 12° com um som mais "cru", o baixo se destaca com suas batidas percussivas , bem característico em outros trabalhos do Korn, porem não muito evidente em The Paradigm shiftc,achei essa faixa foda. A 13° e ultima faixa, eu particularmente curti a batera bem alternada e o peso do vocal, a música é repetitiva mas agrada. O ALBUM FICOU NOTA 100000000 \m/

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  7. Paradigm shift: maturidade, criatividade e evolução musical.

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