Nação Zumbi: crítica de Nação Zumbi (2014)


Dezessete anos depois da morte de Chico Science, seu falecido líder e criador, finalmente a Nação Zumbi parece se sentir à vontade em celebrar o seu legado e as boas memórias deixadas não apenas pelo músico, mas também pelo amigo. O novo disco do grupo, auto-intitulado, oitavo de estúdio em sua carreira, abre com a bela letra de "Cicatriz", celebração às saudades que alguém muito importante deixou.

Lançado exatamente sete anos depois de Fome de Tudo, o seu disco anterior de inéditas, este Nação Zumbi ainda prova a relevância do grupo no cenário brasileiro – embora a sonoridade, aparentemente, tenha ganhado mais colorido mas perdido um pouco da corpulência. É uma Nação que parece carregar muito mais influências diversas, advindas de boa parte dos projetos paralelos nos quais seus integrantes estiveram envolvidos nos últimos anos.

Aqui, a banda flerta com o soul, abre mais espaço para o groove do baixo vibrante do sempre excelente Alexandre Dengue. Mas acaba perdendo aquele peso, aquela poderosa e consistente massa sonora, que a percussão conferia aos seus trabalhos anteriores, do tipo que calava a boca de muito headbanger babaca que ainda insistia em torcer o nariz para eles. Onde foram parar os tambores, onde está o maracatu que pesa uma tonelada? Se sobrou Dengue, faltou Toca Ogan, o homem por trás da massa sonora percussiva do grupo.

Apenas nas últimas canções, é possível sentir a Nação pegando um pouco mais pesado – menos pela percussão e mais pela guitarra de Lúcio Maia, que, com o perdão do trocadilho fácil, incendeia a fervente "Pegando Fogo" e a viajante "Foi de Amor".

Não me entendam mal, no entanto. Nação Zumbi, o disco, está longe de ser uma experiência auditiva frustrante. O pop de arranjos delicados e refinados de faixas como "A Melhor Hora da Praia" e "Um Sonho" é uma delícia de se ouvir, com uma saborosa iluminação. Assim como o doce sabor de psicodelia de "Defeito Perfeito", cuja letra apaixonada casa perfeitamente com a dobradinha que Jorge Du Peixe faz com Laya Lopes, cantora do grupo O Jardim das Horas, e Lula Lira, filha do saudoso Chico Science. E o reggae soturno de "O Que Te Faz Rir", climático e envolvente? Na medida certa.

Um bom retorno, confesso. Mas um retorno que poderia ter aproveitado um pouco mais do potencial que fez da banda o que ela é, nos dias de hoje, para o rock praticado no Brasil. É hora dos nativos revisitarem a sua própria Nação mais uma vez.

Nota 7,5

Faixas:
1. Cicatriz
2. Bala Perdida
3. O Que Te Faz Rir
4. Defeito Perfeito
5. A Melhor Hora da Praia
6. Um Sonho
7. Novas Auroras
8. Nunca Te Vi
9. Foi de Amor
10. Cuidado
11. Pegando Fogo

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Pior disco dos caras na minha opinião. Não é ruim, mas está aquém da discografia impecável e instigante da banda. Legal q tem aparecido mais resenhas de discos nacionais aqui no Collector's. Esse ano nomes importantes da cena brasileira como Inocentes, Ratos de Porão, Mombojó e Project46 tão com disco novo na praça e merecem uma atenção. Sem contar as inúmeras bandas independentes de qualidade como O AMP de Recife, o Dry de Goiânia, entre outras.

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  2. Tô achando 2014 tão fraco em lançamentos. Vinhamos de uma leva ótima com 2011, 2012 e 2013, mas esse ano a coisa tá emperrada.

    Achei péssimo o trecho 2007, 2008, 2009, 2010.

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  3. Eu gosto de Nação Zumbi, muito embora, meu estilo preferido seja de longe o Metal. Não ouvi o disco novo dos pernambucanos por isso não posso tecer maiores comentários. Mas gostaria de entender qual a necessidade de ofender alguns headbangers numa resenha de um disco do Nação Zumbi, eu não consigo sinceramente entender qual o problema do cara gostar de apenas um estilo, ou não gostar de outro. O cara que escreve a resenha parece que se acha a cima de todos porque consegue gostar de tudo, se acha o mais inteligente, o mais culto musicalmente falando... Querem tolerância e respeito vindo dos headbangers mas agem na contramão disso.

    Com esse tipo de atitude o autor da resenha vai minando a audiência do site, vai minando a possibilidade de levar novos sons para os mais radicais, pois muitos acabam se afastando do ótimo Collectors Room por causa de certas criticas desnessárias.

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  4. Sempre ouvi o Nação Zumbi de forma indireta e rápida: No carro de amigos, na academia rs. Sempre curtia, principalmente as mais pesadas. Qual seria o álbum com "aquela poderosa e consistente massa sonora??" Fiquei curioso.

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