História: Metallica e o fim de uma era em Reload


Sétimo disco do Metallica, lançado dia 18 de novembro de 1997.

Gravado entre maio de 1995 e outubro de 1997 no The Plant Studios, na California, junto com o seu irmão gêmeo Load, lançado um ano antes.

Produção de Bob Rock com James Hetfield e Lars Ulrich.

É o último disco de estúdio do Metallica a contar com o baixista Jason Newsted, que sairia da banda em janeiro de 2001.

Garage Inc. (1998) é um álbum de covers e em todo estudo sobre a discografia do Metallica ele é sempre citado como uma compilação e não como um álbum de estúdio propriamente dito.

Então o último disco de estúdio do Metallica com Jason é Reload e o último lançamento com o baixista é Garage Inc.

A ideia da banda era lançar Load e Reload como um álbum duplo com 27 músicas, mas a proposta não foi bem aceita pela gravadora. Além disso, o quarteto demorou mais do que esperado para conseguir gravar todas as composições que tinha, e por fim decidiu lançar o projeto em dois álbuns separados.

As canções que não entraram em Load foram então refinadas durante mais um tempo e acabaram sendo lançadas em Reload.

Muita gente pensa que Reload é um disco de sobras de Load, mas isso não é verdade. O projeto foi pensado como um só álbum duplo e acabou sendo dividido em dois por diversos motivos, principalmente a pressão da gravadora. O conceito original da banda sempre foi lançar um álbum duplo na linha dos Use Your Illusion (1991) do Guns N’ Roses.

Kirk Hammett falou sobre isso em uma entrevista na época do lançamento de Reload: “Nós faríamos os dois como um álbum duplo, mas não queríamos passar tanto tempo no estúdio. Além disso, se fizéssemos um disco duplo, teria sido muito mais material para as pessoas digerirem e parte das músicas poderia se perder no meio de tantas faixas”.


A foto da capa traz mais uma vez uma imagem do fotógrafo norte-americano Andres Serrano, desta vez intitulada Mijo e Sangue XXVI, onde ele misturou sangue bovino com a sua própria urina.

Já as fotos do encarte trazem a banda no palco pelas lentes do fotógrafo Anton Corbijn.

Serrano e Corbijn foram os responsáveis por todo esse aspecto visual tanto de Load quanto Reload, seguindo as orientações de Kirk e, principalmente, Lars Ulrich.

Das treze músicas do disco, apenas seis foram tocadas ao vivo: “Fuel”, “The Memory Remains”, “Devil’s Dance”, “The Unforgiven II”, “Carpe Diem Baby” e “Low Man’s Lyric”.

Duas delas, “Fuel” e “The Memory Remains”, continuam no setlist até hoje e estão entre as favoritas dos fãs, como mostram os shows da turnê de 2019 pela Europa disponíveis no YouTube, cancelada devido à entrada de James na reabilitação.

As demais faixas nunca foram executadas ao vivo.


Musicalmente, Reload compartilha o mesmo direcionamento musical de seu irmão LoadAmbos são sequências naturais do Black Album (1991) e intensificam o afastamento da banda do metal mais agressivo, com riffs que partem de uma abordagem mais voltada para o blues e não seguem a linha dos discos iniciais.

Há elementos de hard rock, rock alternativo e música norte-americana como southern rock, country, blues e folk nas canções, o que o torna também um trabalho bastante variado musicalmente.

“Fuel” abre o álbum com uma letra que mostra todo o amor de James por carros clássicos e pela velocidade.

“The Memory Remains” traz a participação de Marianne Faithfull, musa dos Rolling Stones nas décadas de 1960 e 1970, e sua letra fala sobre alguém que tenta continuar vivendo de maneira natural após atingir a fama, mas acaba se isolando.

“Devil’s Dance” fala sobre as formas com que o demônio tenta conseguir novos adeptos.

“The Unforgiven II” segue o mesmo caminho da sua irmã presente no Black Album e a letra fala pessoas mais fortes que tentam controlar a vida das mais fracas.


“Better Than You” fala sobre alguém obcecado em ser melhor do que os outros.

“Slither” traz uma letra que parece ser sobre heróis perdidos e a decepção que eles trazem.

“Carpe Diem Baby” fala sobre viver o dia de hoje como se fosse o último da sua vida.

“Bad Seed” traz uma letra que pode ser interpretada como a visão da banda sobre a história de Adão e Eva.

“Where the Wild Things Are” critica a situação do mundo naquele ano de 1997 e a omissão da juventude, que deveria se unir para mudar as coisas e fazer o mundo melhor.

“Prince Charming” conta a história de uma pessoa que foi rejeitada pelos pais e desconta a sua raiva nas pessoas que se aproximam de sua vida.

“Low Man’s Lyric” fala sobre os pensamentos e devaneios de um sem teto. A canção possui instrumentos pouco vistos na sonoridade do Metallica, como um hurdy gurdy, que é uma espécie de pré-banjo, e um violino.

“Attitude” fala sobre o desejo de quebrar as regras em busca de diversão.

E “Fixxxer” descreve uma pessoa, representada por um boneco de vodu, que foi torturara pelo seu pai e por Deus.


A reação da crítica foi positiva, após a divisão de opiniões em relação a Load.

O AllMusic deu nota 3 de 5 e classificou Reload como um álbum que vale a pena, destacando a influência de southern rock que permeia o trabalho.

O Entertainment Weekly disso que o álbum continua a jornada do Metallica para a maturidade despojada enquanto brinca com novas texturas melódicas e renuncia ainda mais ao peso.

A Rolling Stone deu nota 3 de 5 e avaliou o disco como enraizado no heavy metal, apesar de algumas músicas serem influenciadas pelo blues e rock and roll. Para a revista, Reload é mais uma etapa na construção do legado do Metallica.

O jornalista canadense Martin Popoff lamentou a composição monótona e inacabada em muitas músicas, mas elogiou a produção e o ritmo do álbum.

Reload vendeu 436 mil cópias na primeira semana e estreou na primeira posição da Billboard, onde permaneceu durante 75 semanas.

O disco vendeu mais de 4 milhões de cópias nos Estados Unidos e aproximadamente 11 milhões em todo o mundo.

O trabalho rendeu três singles: “The Memory Remains”, “The Unforgiven II” e “Fuel”, todos devidamente acompanhados por clipes.

A banda ganhou em 1998 o Grammy de Melhor Performance de Metal por “Better Than You” e foi indicada com “Fuel” para Melhor Performance de Hard Rock, perdendo para Jimmy Page e Robert Plant com a música “Most Hight”, do álbum Walking Into Clarksdale.


MINHA OPINIÃO

Sempre gostei mais de Reload do que de Load, mas ouvindo ambos novamente mudei de opinião.

Load é um disco muito mais redondo, mas Reload também tem qualidade. De modo geral os dois são muito bons para quem entende que o Metallica olhou para a frente e não espera que a banda fique presa sempre aos seus quatro primeiros álbuns.

“Fuel” e “The Memory Remains” entraram de maneira definitiva no setlists dos shows da banda, o que nenhuma música de Load conseguiu.

“The Memory Remains” é uma música que gosto muito, a participação de Marianne Faithful representa bem o que está sendo cantado na letra e dá um toque único. E o clipe é demais! Além disso, conta com a participação maciça do público nos shows, como mostram os shows da turnê de 2019 do quarteto.


“Devil’s Dance” acho ótima e é uma música que gostaria que o Metallica voltasse a tocar ao vivo.

“The Unforgiven II” a princípio parece desnecessária e oportunista, mas ouvindo você percebe que ela tem vida própria e traz um dos melhores refrãos do disco.

“Slither” e “Carpe Diem Baby” trazem uma evidente influência do Alice in Chains, mas em “Carpe Diem Baby” ela é melhor explorada, o que faz da música uma das melhores do álbum.

“Low Man’s Lyric” é uma das músicas mais singulares e bonitas da carreira do Metallica, com um arranjo ascendente e um clima agreste acentuado pela presença de instrumentos como hurdy gurdy e violino. Sempre amei essa música e ela continua soando especial aos meus ouvidos, mostrando o quanto a banda consegue dar passos certeiros muito além da sua zona de conforto. As linhas vocais são belíssimas, e James mostra como se transformou em um vocalista incrível.

A dupla final puxa o álbum para cima. “Attitude” é rock and roll puro e possui um belo riff, enquanto “Fixxxer”, assim como “The Outlaw Torn” de Load, é uma faixa longa com andamento mais cadenciado, com uma parte instrumental que parece uma jam. O efeito no vocal dá um clima psicodélico unido à influência do Black Sabbath, em uma receita que gerou uma excelente música mas que nunca mais foi usada pelo Metallica em momento algum

É o fim da segunda fase da carreira do Metallica, iniciada no Black Album e desenvolvida em Load e Reload, onde a banda caminha para além do metal e alcança resultados, na minha opinião, muito bons.


Comentários

  1. Pô, sempre pensei o mesmo, que são grandes álbums, no entanto desagradáveis aos ouvidos daqueles circunscritos ao universo metálico. Tem uns caras que ouvem músicas por princípios, eu sempre ouvi por beleza! Se o cara não ouve os álbuns porque não gostou das músicas, altamente respeitável. Mas porque não se encaixam no universo em que ele se enclausurou? Aí é foda! Essa dupla aí é riquíssima musicalmente, mas tomou porrada à beça porque não é Thrash! Loucura né Cadão? Quem sabe sua lente aí ajude a amplificar as qualidades destes discos e traga-lhe novos adeptos!

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  2. Na verdade o último lançamento com o Jason foi o S&M, não?

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  3. Sempre gostei muito dos dois álbuns, neles realmente mostra uma nova pegada, sendo mais leve, mas ao mesmo tempo mais madura, mais espontânea, e também com uma sonoridade mais profunda e experiente!

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  4. Concordo plenamente com o que você disse! Sem tirar nem por.

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