Escrita por James Tynion IV (Batman, Something is Killing the Children, O Departamento da Verdade), ilustrada por Álvaro Martínez Bueno (Liga da Justiça, Sandman Universe, O Departamento da Verdade) e colorizada por Jordie Bellaire (Birds of Prey, Superman 78, Batman: O Impostor), A Bela Casa do Lago está sendo publicada em dois volumes no Brasil pela Panini. O primeiro já está disponível, e o segundo será lançado no início de dezembro. A primeira parte vem em capa dura com 192 páginas, e proporciona uma das leituras mais interessantes do ano.
Em sua essência, A Bela Casa do Lago é uma história de terror. O misterioso Walter chama alguns amigos para pequenas férias de uma semana em uma linda casa nas montanhas, todas pessoas que ele conheceu ao longo da vida e que possuem, elas mesmas, diferentes graus de intimidade entre si. E todas têm um ponto em comum: a amizade com o anfitrião. Há os mais diferentes perfis entre os dez convidados para a casa, formando um painel muito interessante de personagens, ainda que eles não tenham todos sido desenvolvidos com mais afinco nesse primeiro encadernado, que reúne as seis primeiras edições da série (acredito que isso será corrigido no segundo volume, que traz as seis edições finais). Logo tudo se revela, e ficamos sabendo que Walter reuniu seus escolhidos na linda casa que dá título ao quadrinho para protegê-los de uma catástrofe de níveis planetários. O local, além de lindo, é protegido e entrega tudo que os moradores necessitam para viver não apenas durante uma semana, mas durante o tempo que for necessário.
O roteiro é muito ágil e dinâmico, mas sobretudo muito competente em prender a atenção do leitor. Ainda que o número elevado de personagens – mais de uma dezena, só lembrando – obrigue o retorno constante às páginas anteriores para relembrar as características de cada um – pelo menos pra mim foi assim -, isso não prejudica a leitura e funciona como recurso para que possamos nos aprofundar ainda na tentativa de desvendar a trama. Tynion usa um método de escrita onde cada capítulo inicia com um desses personagens em destaque, o que coloca o foco da leitura instintivamente nessa pessoa. As alternâncias de tempo – a história se passa no presente, mas temos vislumbres do futuro e retornos ao passado, esses últimos fundamentais para lançar mais luz sobre o contexto e as relações entre os personagens – não são confusas e funcionam como uma eficaz ferramenta narrativa. Há uma tensão quase palpável nas páginas, e que vai crescendo à medida que a leitura avança e o mistério aumenta. Tynion intercala as páginas da HQ com momentos de puro texto, com transcrições de e-mails e outros recursos que acentuam a impressão de estarmos assistindo uma espécie de reality show enquanto lemos o quadrinho.
A arte possui um estilo muito contemporâneo, em uma espécie de aquarela digital que imprime um ar documental para a HQ. As ilustrações de Bueno são muito bem feitas, e o trabalho de colorização de Bellaire é de encher os olhos. A representação da verdadeira face de Walter é ao mesmo tempo bela e perturbadora, exemplificando a dualidade do personagem: afinal, estamos diante de alguém que quer proteger seus amigos de um iminente fim do mundo ou cara a cara com um dos responsáveis por ele?
O resultado é uma história envolvente e que parece apontar para algo muito maior do que aquilo que está sendo efetivamente contado, podendo ser, por exemplo, uma crítica a como enxergamos o mundo através do filtro das redes sociais e acreditamos no que elas nos mostram sem pensar duas vezes. Ou pode ser que essa interpretação seja apenas uma tentativa minha de tentar adivinhar o final de uma história que me entregou uma leitura cativante.
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