Nightwish: crítica de 'Imaginaerum' (2011)


Nota: 8,5

Após o polêmico Dark Passion Play (2007), que marcou a estreia de Anette Olzon no lugar de Tarja Turunen e não foi muito bem recebido pelos fãs e pela crítica, o Nightwish retorna com Imaginaerum, um trabalho surpreendente. A banda afastou-se consideravelmente do pop metal com toques góticos e sinfônicos que vinha fazendo em seus últimos discos – característica que alcançou seu ápice no excelente Once (2004), mas soou apenas repetitiva em Dark Passion Play – e gravou um álbum impressionante.

Extremamente visual e cinematográfico, Imaginaerum soa como uma espécie de trilha sonora para um espetáculo do Cirque Du Soleil escrito por Tim Burton. O próprio Tuomas Holopainen (tecladista e principal compositor do grupo) declarou que Burton – diretor de filmes como Edward Mãos de Tesoura (1990), Peixe Grande (2003), Sweeney Todd (2007) e Alice no País das Maravilhas (2010), além do remake de A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) -, ao lado de Neil Gaiman (escritor inglês que ficou famoso ao dar nova cara ao personagem Sandman, além de ser o autor de dezenas de outras histórias em quadrinhos clássicas) e do pintor surrealista catalão Salvador Dalí, foram as principais inspirações e influências para a composição de Imaginaerum. Além do universo fantástico desses três, explorado nas letras, a parte instrumental traz características do trabalho de Ennio Morricone, Danny Helfman e Hans Zimmer, três dos principais compositores de trilhas para o cinema e grandes ídolos de Tuomas.

Mas o ponto-chave é outro. Ao contrário do trabalho anterior, que pareceu ser gravado às pressas para apresentar a nova integrante, aqui o papo é diferente. Em Imaginaerum, a banda soube dar segurança para a sua vocalista. Anette está visivelmente confortável na função. Mais solta e sem o peso interno da comparação com Tarja, canta com liberdade e desenvoltura, e consegue algo até então impensável: fazer com que não nos lembremos de Tarja Turunen.

A razão para isso passa por um conjunto de fatores. Além da performance excelente de Anette, Imaginaerum vem carregado não apenas de grandes composições, mas, principalmente, de ideias inovadoras e inesperadas, que pegam o ouvinte de surpresa. Os arranjos não trazem mais aquela grandiosidade gratuita de outrora. Tuomas entendeu que, para o seu estilo, é fundamental que os instrumentos construam paisagens sonoras que transportem o ouvinte para dentro de cada canção. E, ao abrir mão dos exageros e focar em passagens climáticas, o tecladista acerta a mão como poucas vezes fez antes.

A audição do primeiro single do disco, a grudenta “Storytime”, não revela o que é o álbum. Imaginaerum é um trabalho profundo e nada superficial, que demonstra com eficiência as aspirações artísticas da banda. O Nightwish tinha tudo para ser muito maior do que já é, mas a saída de Tarja abalou a banda. Agora, com distanciamento, o grupo soube reencontrar a sua essência e gravou um álbum que está entre os seus melhores trabalhos.

Imaginaerum funciona, e marca o retorno em grande estilo de uma das bandas de heavy metal de maior sucesso da última década. Ouça!


Faixas:
  1. Taikatalvi
  2. Storytime
  3. Ghost River
  4. Slow, Love, Slow
  5. I Want My Tears Back
  6. Scaretale
  7. Arabesque
  8. Turn Loose the Mermaids
  9. Rest Calm
  10. The Crow, The Owl and The Dove
  11. Last Ride of the Day
  12. Song of Myself
  13. Imaginaerum


Comentários

  1. Excelente resenha. Me surpreende o fato de você ter gostado do CD, já que pelo o que eu sei você não gosta da Annete Olzon e o Symphonic Metal não é um dos estilos, que você mais aprecia

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  2. Rubens, quais estilos você acha que eu curto?

    Realmente o metal sinfônico não é muito a minha praia, mas eu sempre gostei do Nightwish.

    Obrigado pelo comentário.

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  3. É muito engraçado quando alguém faz um comentário insinuando que conhece os gostos do Seelig. Ele fica todo irritadinho.

    Aconteceu o mesmo com um moça que estava postando um comentários bem inteligentes alguns dias atrás... mas foi comentar algo sobre o "provável" gosto musical do Ricardo, que o mesmo praticamente expulsou a guria do blog.

    Ora, Ricardo, nossos "achometros" sobre o que você gosta ou não são baseados pelos seus textos e comentários. Você quase nunca esconde sua admiração ou desgosto por determinada banda ou estilo.

    Só não precisa ficar na defensiva toda vez alguém se manifestar.

    Eu mesmo já li aqui mais de uma vez que você não gosta (ou não gostava) da nova vocalista do Nightwish.

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  4. Rodrigo, perguntei por curiosidade, justamente para entender o que as pessoas acham que eu gosto. Pura curiosidade, só isso.

    Obrigado pelo comentário.

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  5. Eu me irritei com a moça, admito, e foi pelos seus comentários na postagem do Tony Monteiro.

    Estou fazendo a minha lista agora, daqui uns dias ela entra.

    Abraço,

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  6. Ricardo, você gosta de vários estilos musicais não estando preso somente ao Metal e o Rock, uma prova disso é que o disco "21" da Adele, provavelmente figurará o seu top 10 final.

    Dentre esses estilos que você gosta vejo uma preferencia pelo: Samba, Rock Alternativo, Pop, Jazz e Blues.


    Eu sei que você não tem muita afinidade com o Metal sinfônico por suas resenhas quase não abordarem o estilo, motivo que o levou a ignorar o novo disco do Within Temptation que é o melhor do gênero nesse ano.

    Eu sabia que você gostava do Nightwish, mas você me disse um dia que depois da saida de Tarja, tinha parado de acompanhar a banda. Por esse motivo fiquei até surpreso por você ter feito essa resenha.

    Eu queria sua opinião sobre uma banda Sueca chamada Amaranthe, que assim como o Mastodon e o Machine Head possui uma proposta bem interessante.

    Aqui fica uma música do grupo http://www.youtube.com/watch?v=9y25snz83ms

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  7. Rubens, diria que o meu gosto é baseado no heavy metal, com fases de encantamento por outros estilos.

    Conheço o Amaranthe, e gostei bastante. Pesado, moderno, e com um vocal feminino que foge do operístico padrão. Boa banda!

    Sobre o Within' Temptation, resenharia o disco se alguma gravadora o tivesse enviado para cá. Como ninguém fez isso, acabei absorvido por outros álbuns, até um amigo me recomendar muito o trabalho. Ouvi e gostei, é realmente excelente.

    E sobre o Nightwish, havia parado de acompanhar a banda, como comentei com você. Fui ouvir esse novo álbum por curiosidade, e me surprendi muito, como a resenha comprova.

    Abraço, e obrigado pelo comentário.

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  8. Pensei que não conhecia o Amaranthe, porque apesar dos elogios que a banda vem recebendo ela ainda permanece desconhecida.

    A proposito vou aproveitar esse momento para parabenizar o post sobre o Heavy Metal atual, ouvi algumas indicadas e gostei de quase todas, com exceção do, Samsara Blues Experiment, que é uma boa banda, mas é muito "viajante" para mim.

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  9. Eu gosto do Samsara justamente por ser mais viajante. O Amaranthe, se não me engano, foi ou será lançado no Brasil pela Hellion.

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  10. Já eu, acho Amaranthe uma das bandas mais descartáveis da atualidade, feita para vender, sem identidade própria.

    3 vocalistas: uma mulher gata para atrair os marmanjos, um "screaming guy" para atrair trolls e um vocal limpo bonitinho para atrair as fãs, tudo misturado num som totalmente pasteurizado com letras da profundidade de um pires.

    Não que a vocalista não cante bem, mas como banda de METAL não serve.

    Isto tudo, é claro, baseado na minha opinião de quem baixou, escutou e logo em seguida apagou.

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  11. Já dizia Darwin, sobrevive não aquele que é mais forte ou mais inteligente, e sim aquele que se adéqua melhor as mudanças.
    A banda mudou sim e se ela não tivesse mudado (com a saída da Tarja) a banda já teria morrido.
    Concordo plenamente com quase tudo que li, de menos com a citação " Nightwish tinha tudo para ser muito maior do que já é, mas a saída de Tarja abalou a banda." Acredito que é este fato q proporciona o crescimento. "São perdas necessárias".
    Bem digo isso pelo menos do ponto de vista psicológico (sou psicologo em formação).
    Excelente crítica =)

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