As Novas Caras Do Metal - Parte 23


Realmente inovadores ou apenas rearranjando as mesmas sonoridades já feitas ao longo das décadas, a verdade é que bandas novas surgem a cada dia (algumas com assombrosa qualidade, outras definitivamente sem nada que as destaque). E como já vimos na parte anterior da série As Novas Caras do Metal, muitos grupos lançaram seus trabalhos de estreia em 2013.


Dando continuidade, apresentamos mais 10 nomes e seus álbuns que podem trazer algo de completamente inédito, ou podem ser uma versão revisada dos clássicos. Mas o mais importante, e independente disso, são bandas que comprovam que material de qualidade continua a chegar até nós ininterruptamente, com todas elas tendo algo a dizer.

Altars


Da mesma forma que a música extrema está em ascensão nos Estados Unidos, algo semelhante também ocorre na Austrália, em menor escala, mas com a mesma versatilidade. O Altars é um dos nomes mais comentados no underground do país, algo explicável ao conferir a produção cristalina da agressão contida em Paramnesia, seu primeiro disco, pela Nuclear Winter Records. Seguindo a linha da escola americana do death metal, não é tarefa das mais árduas encontrar as influências de Morbid Angel, Cannibal Corpse e Immolation, ao mesmo tempo em que os temas e a atmosfera parecem reverenciar nomes como Behemoth e Belphegor. Absurdamente pesado e épico.




Black Willows


Apesar de o stoner rock, no geral, ter entrado recentemente em um ciclo vicioso (muitas bandas surgindo com discursos e ideias pouco memoráveis e com menos ainda a acrescentar), basta pesquisar um pouco para encontrar aqueles que ainda conseguem trazer novas ideias e enriquecer o estilo. E este é o caso do suíço Black Willows e o seu perfeitamente nomeado álbum Haze. O torpor que as composições do quarteto trazem cria uma atmosfera enevoada cheirando a incenso, graças às tendências psicodélicas combinadas com música ambiente, noise e raga rock. Se o Black Sabbath e o Led Zeppelin passassem um tempo meditando na Índia, talvez esta fosse uma de suas crias.




Capa


Imagine um híbrido entre o black metal americano atual com o sludge. Agora, acrescente uma produção equilibradíssima, interlúdios de música ambiente e aquele clima proporcionado por trilhas sonoras de filmes antigos de nenhum orçamento sobre assuntos abissais e aterrorizantes. O resultado final talvez chegue ligeiramente perto do que este quarteto americano da Pensilvânia fez em seu primeiro álbum completo, This is the Dead Land This is Cactus Land. Blackgaze, post-black metal, chame como quiser – o Capa possivelmente fez deste trabalho uma das grandes obras do metal extremo em 2013.




Grey Season


Uma banda que tenta afastar aquele sentido mais manchado sobre ser um grupo “progressivo” (auto-indulgência e virtuose sem sentido, leia-se) e levar para um significado relativo ao experimental, sobre a busca por algo novo. E os alemães do Grey Season cumprem de forma belíssima o seu objetivo logo cedo com o disco Septem, apresentando oito faixas que vagueiam por extremos como djent, mathcore e passagens que beiram o industrial, o post-metal e a música clássica, tornando difícil compará-los com qualquer outro grupo. A única semelhança talvez esteja na voz de Blazej Lominski, que lembra vagamente a de Matthew Heafy.




Haapoja


Diferentemente do que ocorria há alguns anos, quando a Finlândia era referência no famigerado power metal (ou metal melódico, como preferir), a história musical recente do país viu o levante de uma nova geração de bandas voltadas para a sonoridade mais extrema e suja, do punk ao grindcore, sempre envolta por aquela veia gélida. E o Haapoja se encontra entre estes grupos, que com background muito mais ligado ao heavy metal de seus jovens integrantes, torna a música de seu álbum de estreia autointitulado uma miscelânea de influências que vai do crust ao black metal com tendências sludge e progressivas. Uma mescla entre o Converge e o Kvelertak, com certa dose de melancolia cantada em seu idioma natal.




Ishmael


Ao ouvir o som do Ishmael durante alguns segundos, você pode acreditar estar ouvindo uma daquelas bandas de eventos da alta sociedade. Mas a proposta deste trio nova-iorquino vai além, graças à proposta das mais contemplativas, com influências que vão desde o post-rock e o jazz até o rock progressivo setentista (há algo de Peter Gabriel e Jon Anderson por aqui) e a apurada técnica do prog metal utilizada sutilmente à bem da música em si. Lotic é um trabalho indicadíssimo para quem aprecia os momentos mais tranquilos do Porcupine Tree e do Anathema, por exemplo.




Nomadic Rituals


A Irlanda pode ser a terra de inúmeros grupos de punk, mas o trio Nomadic Rituals foge completamente a regra – e não apenas isso, parece ir completamente na direção oposta com as cinco faixas que compõe os quase cinquenta minutos de Holy Giants. Andamentos lentíssimos de um doom metal dopado, assombrado por uma brutalidade rastejante que faria bandas como Electric Wizard e Ahab soarem excessivamente velozes, e abrilhantado por sutis toques de space e stoner rock. Para apreciar sem a menor pressa.




Palms


Chino Moreno é um sujeito a ser respeitado. Não apenas o frontman de uma das mais bem sucedidas bandas do metal americano alternativo dos anos noventa, como também está envolvido nos interessantes Crosses e Team Sleep. Em 2011, então, ele começou a trabalhar com três membros do recém encerrado Isis (Jeff Caxide, Aaron Harris e Bryant Clifford Meyer) para formar o Palms, resultando em sua sonoridade definida como uma amálgama entre o mais recente Deftones e o mais atmosférico do próprio Isis, unida por uma fina aura de shoegaze.




Stolas


Aos amantes daquele post hardcore com severas facetas progressivas e exageradamente técnicas, no melhor estilo Protest The Hero e Exotic Animal Petting Zoo, este grupo de Las Vegas e seu debut Living Creatures podem ser de absoluta serventia. Afinal de contas, desde os aspectos visuais, às estruturas musicais e ao conteúdo lírico, não sobra espaço para nenhum segredo sobre quais são as fontes da banda. Ensurdecedor e confuso no primeiro instante, o que torna ainda mais gratificante quando compreende-se cada uma das loucuras contidas aqui.




The Moth Gatherer


Segundo Victor Wegebron e Alex Stjernfeldt, o duo sueco por trás das composições do The Moth Gatherer, a banda foi formada em 2009 para ser uma espécie de terapia para que ambos conseguissem lidar com certas frustrações e perdas pessoais em suas vidas. E isto é, no mínimo, essencial para compreender de onde todo o sentimento carregado, pesaroso e brutal que assombra as cinco músicas em A Bright Celestial Light tem sua origem. Uma aposta certeira da Agonia Records, este disco pode se encaixar como uma das melhores estreias de uma banda de sludge (com certa veia experimental) dos últimos anos, e aos que já apreciam sons como Cult of Luna e The Ocean, podem vir a pensar o mesmo.




Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Sensacional esse tipo de compilação, facilita muito a nossa vida.

    Vou selecionar uma banda de cada lista, pra ouvir com atenção e não ficar perdido no meio de tanta coisa. Dessa vez, escolhi o Stolas. Que banda foda!

    Valeu,

    Vinícius Gomes - Florianópolis/SC

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  2. Interessante, vou procurar algumas dessas.

    Agora cá entre nós, o Stoner Rock/Sludge/Whatever é o novo "famigerado" Power Metal. Poucos anos depois do boom e já está saturadíssimo. Confesso que ando fugindo das bandas com esse rótulo.

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  3. Qual é a onda atual? Shoegaze/blackgaze? Occult rock também já passou ...

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  4. Talvez Ricardo. Eu não sei, estou sempre um passo atrás dessas coisas. Quando do boom do stoner, eu ignorei completamente.
    Daí comecei a ouvir várias bandas recomendadas do estilo, garimpando em vários sites, blogs, etc. Mas são tantas que dei um pause nisso.

    O Occult Rock tem uma vantagem, já que o que une essas bandas é a temática, implicando em sonoridades mais diversas, o que ajuda a evitar a saturação do ouvinte.

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  5. Como sempre boas dicas de albuns. Dessa vez vou de Altars e Capa. Realmente nesse mar de stoner/sludge, shoegaze/post-rock/post-black metal, é dificil ter tempo de ouvir tantas bandas. Só garimpando mesmo. Valeu pelas dicas, estou sempre acompanhando esta coluna.

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  6. Olha, eu tb acho que essa onda Sludge/Stoner está super saturada. Existem 2 extremos que estão indo super bem lá fora e que nao vejo por aqui (nao com tanta frequencia): a cena Djent e a cena melodic Rock. Que tal cobrir um pouco bandas como The Kindred, Alaya, Tides of Man, Degreed, Vega, W.E.T. etc..

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  7. Se aceitarem sugestões, dois pitacos de bandas:
    - DEATH TOLL 80K (grindcore da Finlândia): tem um álbum (Harsh Realities) e um punhado de splits, mas nesse estilo que costuma apresentar certa limitação eles apresentam coisas acima da média. Essa ano vão estar no Maryland Death Fest.
    https://www.facebook.com/pages/Death-Toll-80k/200505546660944?fref=ts
    - TORTURE DIVISION (death metal sueco): tem uma proposta que não tinha visto antes: eles não tem gravadora, tudo o que criam - geralmente com produção do Dan Swano - é postado no site "de grátis" em troca de incentivo no merchandising.
    http://www.torturedivision.net/
    https://www.facebook.com/torturedivisionsweden?fref=ts

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