Review: Dorsal Atlântica – Pandemia (2021)


Quando Carlos Lopes anunciou que a Dorsal lançaria um novo álbum conceitual, havia uma grande expectativa em relação ao que viria depois de Canudos (2017), um trabalho inovador que alia peso e muita melodia a uma forte carga de brasilidade. Pois bem, Pandemia representa um passo adiante nessa proposta.

As composições partem de uma desconstrução do rock pesado, da música armorial, do canto do candomblé, em alguns momentos até mesmo do soul, extraindo seus elementos e os recombinando para contar essa fábula sombria sobre o Brasil atual.

O resultado é um fortíssimo conjunto de canções que seguem caminhos diferentes dos quais nossos ouvidos estão acostumados, subvertendo a gramática do metal pesado. A base sólida de Braulio Drumond e Claudio Lopes dá o ritmo de uma densa narrativa musical que fala sobre como um jumento toma o poder e governa com ajuda de equinos e gorilas, contaminando a população com o vírus da burrice.

A guitarra baiana de Carlos é uma usina antropofágica que cria as atmosferas exigidas por cada momento dessa história, desde vinhetas gélidas que poderiam estar em um álbum de black metal escandinavo até melodias que remetem à música armorial, passando por uma profusão de inspirados riffs baseados no thrash. Essa afirmação também vale para os vocais: Carlos nunca cantou tão bem e com tanta versatilidade, ora acentuando o sotaque nordestino, ora adotando um tom irônico e/ou áspero típico do punk e do hardcore.

A boa produção deixou os timbres bem claros, e o trabalho gráfico é de encher os olhos, com lindas ilustrações na capa, contracapa e no miolo do CD.

Pandemia representa um dos pontos mais altos da trajetória da Dorsal Atlântica, um álbum desafiador que exige imersão para ser compreendido. Mas a recompensa é altamente gratificante.

Por Pedro Junior da Luz Teixeira


Comentários

  1. Digitei uma frase errada... Ali em "seguem caminhos diferentes dos quais nossos ouvidos estão acostumados", o correto seria "diferentes daqueles aos quais nosso ouvidos estão acostumados". Desculpem!

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  2. Não gostei dos vocais. Destaque para as letras que são muito boas.

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  3. Adorei o álbum e estou gostando dele a cada audição.

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  4. Como fã das antigas eu achei o ultimo disco do Dorsal foi simplesmente uma obra de arte completa, som,trabalho gráfico, mixagem, instrumentos e vocalização, agora aguardo ansioso para comprar esse ultimo. PS: o disco Canudos
    eu mostrei para muitos amigos e todos elogiaram o nível do trabalho ali apresentado..

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  5. Eu achei que seria dificil superar o Canudos ! Mas aí vem o Carlos e solta essa obra de arte !

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  6. Esse e um disco pra escutar varias vezes , para entender a visão do Dorsal, disco muito bom !!!

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  7. Uma verdadeira obra de arte. Tudo o mais que eu disser torna-se redundante.

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  8. O Brasil todo cabe dentro do Carlos Lopes. É impressionante como é um cara, que apesar de já ter todo um legado, está sempre se desafiando e indo além.

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