Envelhecendo com dignidade, qualidade e muito rock and roll


2013 trouxe de volta ao topo alguns artistas veteranos que há tempos não lançavam material inédito. Os exemplos mais óbvios foram os retornos do Black Sabbath e de David Bowie com os álbuns 13 e The Next Day. Músicos já rodados, com enorme experiência, chegando perto dos 70 anos e ainda com sede e apetite para compor e entregar aos fãs trabalhos dignos de suas histórias.

Porém, quando penso em músicos que estão envelhecendo com dignidade, o exemplo mais claro que me vem à mente é o de Bruce Springsteen. Nascido em 23 de setembro de 1949, Bruce completou 64 anos na última semana. E, nos últimos anos, lançou alguns dos seus melhores discos. Não está errado quem aponta que Springsteen vive o melhor momento de sua carreira. Quem assistiu ao show que ele fez no Rock in Rio 2013 constatou isso sem maiores esforços. Uma entrega genuína e contagiante, uma performance avassaladora que elevou o nível da expressão “troca de experiências e emoções com o público” a um patamar inédito.

Sou daqueles que amam a produção recente de Bruce Springsteen muito mais do que aquilo que The Boss gravou nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Seus quatro últimos discos, principalmente, me tocaram de maneira profunda, fazendo surgir uma admiração que poucas vezes senti pelo trabalho de um músico. Essa jornada teve início com o sensacional We Shall Overcome: The Seeger Sessions (2006), em que Bruce releu com extrema maestria o catálogo de Pete Seeger, um dos compositores mais importantes da música norte-americana. Se solidificou com o ótimo Magic (2007), um disco que mexe como poucos com as emoções do ouvinte. Se consolidou com Working on a Dream (2009), repleto de canções fortes e cheias de melodia. E se revelou para a vida toda com Wrecking Ball (2012), uma das obras-primas de sua discografia e um dos mais belos discos lançados nos últimos anos.

Mas há, além de Bruce, outros exemplos de músicos que estão sabendo envelhecer com sabedoria e dignidade. Neil Young segue inquieto, jamais repousando sobre o berço esplêndido de sua longa trajetória e sempre surpreendendo com álbuns desafiadores. Paul McCartney ainda mantém o toque raro de ourives da melodia, gravando discos muito bons e fazendo shows com quase três horas de duração e que mostram que o tempo é um conceito relativo. David Gilmour, apesar da produção esparsa, quando resolve entrar em estúdio sempre sai com material de primeira linha. Leonard Cohen e Bob Dylan mantém intactos seus poderes de contadores de histórias, que ficaram ainda mais profundos com o passar dos anos e a chegada da maturidade e da velhice.

Dentro do heavy metal, o exemplo do Iron Maiden é inspirador. A banda, uma das maiores e mais influentes da história do gênero, se reinventou em todos os sentidos desde o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith, em 1999. Desenvolvendo uma sonoridade mais complexa que aquela que conquistou o mundo durante a década de 1980, o Maiden vem gravando discos muito bons nos últimos anos, cuja maior prova é o seu excelente álbum mais recente, The Final Frontier (2010). E toda essa inquietude artística vem acompanhada pelo reconhecimento do público, com o grupo vivendo hoje, em todos os sentidos, o período de maior popularidade de sua história. Basta dar uma olhada nas posições alcançadas pelos seus últimos discos nas paradas e nos resultados financeiros obtidos pela banda nos anos recentes para perceber isso sem maiores dificuldades.

Eu não sei o que a vida me reserva nos próximos anos. Porém, posso desejar que eu consiga me manter ativo, produtivo e inquieto como Bruce, Neil, Paul, Bob, David, Leonard e meus companheiros de toda a vida, a Donzela de Ferro. Se conseguir alcançar isso, serei uma pessoa feliz.

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. O maior problema que vejo é o Mick Jagger fez 70 agora. A idade vai cobrar, como tá sendo pra Chuck Berry e BB King. Daqui uns 10 ou 15 anos quando toda essa galera começar a morrer, como vai ser? Tipo MTV Brasil?

    Fico pensando que a indústria realmente tem que renovar um lapso nas gerações de rock. Já se vão 20 anos do Britpop, Grunge, dentre outras coisas. Será que o rock vai conseguir envelhecer bem? Toda a situação atual da MTV me traz esses questionamentos.

    Agora, Iron Maiden é sinistro.
    O Bruce tem a voz intacta. Soube controlar muito bem os prejuízos que bebida, fumo, esforço repetitivo e idade fazem à voz. Por outro lado, Axl Rose, Dave Mustaine e Robert Plant perderam muito.

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  2. Yo, a última ''renovação'' que aconteceu com o Rock foi nos anos 00's, com o indie rock/alternativo, com os Strokes, The Killers, Arctic Monkeys, Muse,Jack White e suas bandas, Kings Of Leon e até os coxinhas do Coldplay. Foi como o britpop, só que da geração 00's.

    Isso no rock básico. No metal, surgiu coisas como o Linkin Park, System Of A Down, Korn, Avenged (um pouco depois).

    Acredito que essas vão ser as bandas 'grandes headliners' dos festivais quando a velharada (Stones, Bruce, Iron, Sabbath) se aposentar. A maior prova disso foi o Muse de headliner do Rock In Rio desse ano (para surpresa de muitos, inclusive minha) e o Arctic Monkeys como headliner do Glastonbury desse ano, o Coldplay, The Killers tocando em estádios mundo a fora e etc.

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  3. Bruce Dickinson é um monstro, mas o show do Iron Maiden no RiR 2013 foi capenga. Não consigo ver mais "tesão" na banda. Os caras visivelmente não tocam com o prazer que tocavam até pouco tempo atrás, como na "Somewhere back in time" tour. Talvez o problema seja comigo, mas acho que eles precisam de férias, tocar seus projetos pessoais, sei lá...

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  4. O pior é ter que aguentar, seres como o baterista do Angra falarem que está na hora do Iron e Jethro Tull se aposentarem rsss.

    No mais, o show do Bruce Springsteen me surpreendeu, eu nunca vi um sujeito tão disposição num palco. O cara é f*** pra c***

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  5. Matheus,
    valeu pelos dados.
    Mas eu quis dizer do grunge e britpop como HEGEMÔNICOS na indústria fonográfica, mandando.

    Quando esse pessoal indie aí apareceu quem COMANDAVA era o Hip Hop.

    Vc está certo e concordo contigo, mas essa leva aí de roqueiros ela existiu de forma periférica e subsidiária no showbizz. Não é questão de falar quem é melhor ou pior. Longe disso. Ou primeiros e últimos cronologicamente. Mas falar de influência como um todo no showbizz.

    Quis falar do rock como majoritário, hegemônico e em primeiro escalão, número 1 nas paradas, nos clipes, nas revistas, nos orçamentos, em tudo.

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  6. Yo, entendi cara...É, isso realmente está longe da realidade dos últimos anos...Infelizmente.

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  7. É Matheus, também acho uma pena.
    Mas o rock ainda vai ter sua vez de novo ... não é possível mais o hip hop e esse pop de menina de hoje em dia. Tomara que algo aconteça.

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