Poucos autores conseguiram capturar com tanta sensibilidade os pequenos dramas da vida cotidiana quanto o canadense Michel Rabagliati. Sua série Paul , iniciada em 1999 e ainda em andamento, é um testemunho da força narrativa dos quadrinhos quando voltam o olhar para a vida comum, com seus dilemas familiares, memórias nostálgicas, fracassos silenciosos e alegrias discretas. Embora no Brasil ainda seja pouco conhecido, Rabagliati já é considerado um dos grandes nomes da chamada “autobiografia ficcionalizada” nas HQs — uma vertente que mistura vivências pessoais com liberdade narrativa. Seu alter ego, Paul, aparece em todos os volumes da série como protagonista ou observador. Por meio dele, o autor reconstrói episódios marcantes de sua vida e do Canadá francófono, especialmente da cidade de Montreal. O traço limpo e expressivo, quase cartunesco, remete ao estilo da linha clara europeia, mas com toques muito pessoais. A narrativa é sempre fluida, e o texto, equilibrado entre o humor l...