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Mostrando postagens de julho, 2025

Paul, de Michel Rabagliati: a vida comum transformada em grande literatura em quadrinhos

Poucos autores conseguiram capturar com tanta sensibilidade os pequenos dramas da vida cotidiana quanto o canadense Michel Rabagliati. Sua série Paul , iniciada em 1999 e ainda em andamento, é um testemunho da força narrativa dos quadrinhos quando voltam o olhar para a vida comum, com seus dilemas familiares, memórias nostálgicas, fracassos silenciosos e alegrias discretas. Embora no Brasil ainda seja pouco conhecido, Rabagliati já é considerado um dos grandes nomes da chamada “autobiografia ficcionalizada” nas HQs — uma vertente que mistura vivências pessoais com liberdade narrativa. Seu alter ego, Paul, aparece em todos os volumes da série como protagonista ou observador. Por meio dele, o autor reconstrói episódios marcantes de sua vida e do Canadá francófono, especialmente da cidade de Montreal. O traço limpo e expressivo, quase cartunesco, remete ao estilo da linha clara europeia, mas com toques muito pessoais. A narrativa é sempre fluida, e o texto, equilibrado entre o humor l...

Como começar a colecionar CDs de rock e metal sem gastar uma fortuna

Colecionar CDs de rock e metal é uma paixão que atravessa gerações, e que segue firme mesmo na era do streaming. Mas quem está começando agora pode se assustar com preços altos, edições raras e a falsa ideia de que só colecionador veterano tem vez. A boa notícia? Dá pra montar uma coleção sólida, cheia de clássicos e boas descobertas, gastando pouco. Aqui vão algumas dicas práticas (e realistas) para quem quer começar do zero sem comprometer o orçamento: 1. Comece com o básico: os clássicos acessíveis Todo colecionador precisa de uma base sólida, e a boa notícia é que muitos clássicos estão disponíveis a preços baixos. Selos como Roadrunner, Century Media, Nuclear Blast e SPV relançaram álbuns essenciais em grandes tiragens nas décadas de 1990 e 2000. Esses títulos são fáceis de encontrar em sebos físicos e online por valores que não assustam. 2. Sebos são minas de ouro Explore os sebos da sua cidade e marketplaces como OLX, Shopee, Enjoei e Mercado Livre. Muitos vendedores s...

A Canção de Roland: uma HQ sobre família, despedidas e o que permanece (Michel Rabagliati, 2019, Comix Zone)

Publicado originalmente com o título de Paul à Québec , A Canção de Roland é uma das obras mais aclamadas do canadense Michel Rabagliati — e também o título que inaugurou o catálogo da editora Comix Zone, em 2019. Com traço simples, narrativa delicada e grande apelo emocional, a HQ oferece uma leitura tocante sobre laços familiares, envelhecimento e luto. Na trama, acompanhamos Paul — alter ego recorrente de Rabagliati — durante visitas frequentes à casa dos sogros no interior do Québec. O cotidiano tranquilo e divertido da família ganha um tom mais denso quando Roland, o sogro, é diagnosticado com um câncer terminal. A partir desse ponto, o quadrinho se transforma em uma reflexão sobre a finitude da vida, abordada com extrema sensibilidade, sem apelar ao melodrama. Um dos grandes méritos da obra está na forma como o autor conduz a narrativa. Entre silêncios visuais, momentos cômicos e cenas carregadas de emoção, Rabagliati constrói uma história profundamente humana. O traço limpo...

Ramones em It's Alive (1979): o maior álbum ao vivo do punk rock

O melhor álbum ao vivo do punk? Muitos fãs e críticos diriam que sim — e não estão exagerando. It's Alive , lançado pelos Ramones em abril de 1979, é uma aula de energia crua, velocidade absurda e atitude destilada no seu estado mais puro. Gravado em 31 de dezembro de 1977 no Rainbow Theatre, em Londres, o disco captura a banda no auge dos primeiros anos, sintetizando como poucos registros o espírito do punk em sua forma mais explosiva. It's Alive compila nada menos que 28 faixas executadas em sequência vertiginosa, sem respiro e com uma urgência quase sobre-humana. Era o fim de um dos anos mais importantes para a história do punk, e os Ramones consolidavam-se como os padrinhos do movimento. Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy (em sua última turnê com o grupo) tocavam como se estivessem numa missão: provar que o rock não precisava de solos, de pompa ou de virtuosismo. Bastava energia, honestidade e volume no talo. As influências do grupo — do rock dos anos 1950 à invasão britâni...

Ghost World, Daniel Clowes e o desencanto de crescer (2017, Nemo)

Você já se sentiu deslocado no mundo, como se estivesse preso entre o fim da adolescência e o começo da vida adulta, sem saber muito bem para onde ir? Essa sensação desconfortável, cheia de sarcasmo, insegurança e silêncio, é o cerne de Ghost World , talvez a obra mais conhecida do quadrinista norte-americano Daniel Clowes. Publicada originalmente entre 1993 e 1997 nas páginas da revista Eightball , a HQ se tornou um marco dos quadrinhos alternativos e segue ressoando com leitores de diferentes gerações — em especial aqueles que, como suas protagonistas, transitam por paisagens urbanas com um olhar cético e uma solidão mal disfarçada. Ambientada em uma cidade sem nome, Ghost World acompanha Enid Coleslaw e Rebecca Doppelmeyer, duas amigas inseparáveis que enfrentam o limbo entre a adolescência e a vida adulta. A história se desenrola em pequenos episódios — fragmentos de conversas afiadas, encontros aleatórios e situações aparentemente banais que, juntas, constroem um retrato dolor...

Rádio Pirata Ao Vivo (1986): o auge e a queda meteórica do RPM

O maior disco da história do pop brasileiro? Para muitos, Rádio Pirata Ao Vivo , lançado pelo RPM em 1986, ocupa esse posto, e não apenas por seu sucesso comercial estrondoso. Gravado nos dias 12 e 13 de maio daquele ano, em São Paulo, o álbum capturou uma banda no auge da popularidade, da energia e da ambição, transformando-se rapidamente em um fenômeno cultural. Com mais de 3,7 milhões de cópias vendidas, Rádio Pirata Ao Vivo é até hoje o álbum mais vendido da história do rock brasileiro. O sucesso não surgiu do nada. Em 1985, o RPM havia lançado seu primeiro álbum, Revoluções por Minuto , que chamou atenção com sua sonoridade moderna, letras politizadas e apelo pop. Mas foi com Rádio Pirata Ao Vivo que o grupo explodiu de vez, beneficiando-se de uma estrutura de show inovadora para a época, com cenários, iluminação teatral e uma performance intensa que mesclava rock, synthpop e estética new wave. Musicalmente, o disco é uma síntese precisa das influências que moldaram o RPM: o...

Dylan Dog Gigante #1: três facetas do horror, três olhares sobre a condição humana (2025, Editora Lorentz)

Publicado originalmente em janeiro de 1993, Dylan Dog Gigante #1 é mais do que uma simples expansão do universo do Investigador do Pesadelo: trata-se de uma antologia densa, melancólica e por vezes absurda, que sintetiza os principais elementos que fizeram de Dylan Dog uma das criações mais cultuadas da escola italiana de quadrinhos. Com roteiro de Tiziano Sclavi — criador do personagem — e participação de Mauro Marcheselli em uma das histórias, o volume é ilustrado por três artistas essenciais da série: Giampiero Casertano, Bruno Brindisi e Ugolino Cossu. O resultado é um mergulho profundo nas diferentes formas que o horror pode assumir quando confrontado com os dilemas humanos. Inspirada no tradicional formato Tex Gigante, publicação anual de histórias completas com o ranger mais famoso da Bonelli, a série Dylan Dog Gigante manteve o espírito inquieto e reflexivo que caracteriza o personagem e foi tão bem-sucedida que se manteve por mais de duas décadas: até o momento, conta com ...

Antes da lenda: as origens do Motörhead em The Manticore Tapes (2025)

E se te dissessem que o Motörhead já nasceu pronto para explodir tudo? Pois The Manticore Tapes é a prova disso. Lançado mundialmente em 27 de junho de 2025 — com edição brasileira saindo no mesmo dia pela Wikimetal —, o álbum reúne gravações feitas em estúdio em 1976, antes do lançamento do disco de estreia (que sairia no ano seguinte), em um período inicial e mais amador, em um registro histórico da formação clássica do Motörhead, com Lemmy Kilmister no baixo e vocais, "Fast" Eddie Clarke na guitarra e Phil "Philthy Animal" Taylor na bateria. É o som do caos sendo moldado com precisão e fúria, ainda antes da banda atingir seu auge criativo em álbuns como Overkill (1979) e Ace of Spades (1980) . As faixas de The Manticore Tapes capturam a essência bruta do Motörhead no início de sua trajetória: pesadas, rápidas e afiadas como navalha. Elas soam como tiros diretos, antecipando o que viria a se tornar uma revolução no hard rock e no heavy metal. O álbum mostra ...

A Lua e a Serpente – Almanaque de Magia, de Alan Moore & Steve Moore (2025, Devir)

Alan Moore nunca foi um autor convencional. Reconhecido mundialmente por obras que redefiniram os quadrinhos como Watchmen , Do Inferno e A Liga Extraordinária , Moore é também um praticante confesso de magia há quase três décadas. Com A Lua e a Serpente – Almanaque d e Magia , o autor britânico une sua genialidade literária com sua devoção ao ocultismo em uma obra singular, complexa e desafiadora. Concebido em parceria com seu amigo de longa data, o roteirista e ocultista Steve Moore (falecido em 2014), o livro é mais do que um almanaque: é uma celebração da magia enquanto linguagem, arte, história, experiência e transformação. O título remete à fictícia Ordem da Lua e da Serpente, uma espécie de metáfora viva para o modo como os autores compreendem a prática mágica – como uma forma radical de imaginação e criação. O conteúdo é tão variado quanto fascinante. Há ensaios que investigam a história da magia em diferentes tradições culturais; há quadrinhos com temas esotéricos ilustr...

Back in Black (1980): o disco que salvou o AC/DC e dominou o mundo

Lançado em 25 de julho de 1980, Back in Black não é apenas o álbum mais conhecido do AC/DC: é uma verdadeira lenda da música, com vendas estimadas em mais de 50 milhões de cópias no mundo todo, sendo um dos discos mais vendidos da história, em qualquer gênero. Uma façanha ainda mais impressionante quando se considera o contexto de sua criação. A banda australiana vinha em uma crescente com o vocalista Bon Scott, que havia se tornado um ícone do hard rock graças à sua presença de palco e seu vocal inconfundível. Mas, em fevereiro de 1980, Bon foi encontrado morto em Londres, aos 33 anos. A tragédia poderia ter encerrado a trajetória da banda — e muitos pensaram que encerraria. Mas o AC/DC não apenas sobreviveu: ressurgiu com ainda mais força. Poucos meses após a morte de Scott, o grupo anunciou Brian Johnson, vocalista da banda britânica Geordie. Com produção de Robert John “Mutt” Lange (o mesmo de Highway to Hell ), a banda mergulhou nos estúdios nas Bahamas e gravou aquele que se...

Kill 'Em All (1983) e como o Metallica mudou o metal para sempre

Em 1983, o Metallica lançou Kill 'Em All e mudou o rumo da música pesada para sempre. Considerado por muitos como o marco zero do thrash metal, o disco nasceu da fusão entre a agressividade do punk, a complexidade do heavy metal britânico e a urgência juvenil de quatro garotos determinados a fazer barulho — muito barulho. O cenário era o underground da costa oeste dos Estados Unidos, onde bandas como Exodus, Slayer e Metallica começavam a moldar um novo som: mais rápido, mais pesado, mais agressivo. Kill 'Em All foi o primeiro registro oficial dessa revolução. Suas composições trouxeram uma estrutura inovadora: riffs cortantes com pegada hardcore, passagens instrumentais que lembravam o virtuosismo do metal clássico e mudanças de andamento que mantinham o ouvinte em constante tensão. Músicas como “Hit the Lights”, “Whiplash” e “Metal Militia” são explosões de energia crua, enquanto “The Four Horsemen” e “Seek & Destroy” apresentam uma sofisticação que apontava o caminho...

Music Bank – The Videos (2001): os vídeos que traduziram a estética sombria do Alice in Chains

O Alice in Chains foi a banda mais sombria e cinematográfica do grunge? Basta assistir a Music Bank – The Videos para entender por que essa afirmação faz tanto sentido. Lançado originalmente em 1999 em VHS e depois relançado em DVD em 2001, esse compilado de videoclipes revela como o Alice in Chains traduziu visualmente toda a angústia, densidade e inquietação que moldaram sua sonoridade. Com 16 vídeos que cobrem todo o período com o vocalista Layne Staley, falecido em 2002, Music Bank é um mergulho intenso na estética visual do grupo. Aqui, não se trata apenas de performance musical, mas de narrativas visuais carregadas de simbolismo, decadência e poesia sombria. Cada clipe é um retrato fiel da alma torturada de uma das bandas mais marcantes dos anos 1990. Entre os destaques, o vídeo de “Man in the Box”, dirigido por Paul Rachman, foi o cartão de visitas que projetou o Alice in Chains ao mainstream. Com imagens cruas, religiosas e perturbadoras, o clipe capturou perfeitamente a ...

Tex, O Grande!, de Claudio Nizzi e Guido Buzzelli (2025, Mythos Editora)

Lançado originalmente na Itália em junho de 1988, Tex, O Grande! marcou a estreia da coleção Tex Gigante — também conhecida como Texone — criada para comemorar os 40 anos do famoso ranger. A proposta da Sergio Bonelli Editore era ousada: publicar aventuras fechadas em grande formato, com arte de renomados desenhistas italianos e internacionais. A edição inaugural ficou a cargo de Claudio Nizzi no roteiro e Guido Buzzelli na arte, resultando em uma HQ singular tanto no conteúdo quanto na forma. No Brasil, a história foi publicada pela primeira vez em 1988, pela Editora Globo. Desde então, ganhou outras edições, com destaque para a versão colorida lançada em 2014. Agora, em 2025, a Mythos Editora inicia uma elogiável republicação da coleção em papel offset, preservando o traço dos artistas com mais fidelidade e oferecendo ao público uma versão mais durável e atraente. A trama se passa no Oregon, onde misteriosos acidentes em uma madeireira levantam suspeitas de sabotagem. Pat Mac Ry...

Ozzy Osbourne morre aos 76 anos e deixa legado imortal no rock e no heavy metal

Morreu nesta terça-feira, 22 de julho de 2025, Ozzy Osbourne, aos 76 anos. O cantor britânico faleceu em Londres, cercado por sua família, conforme comunicado oficial. Diagnosticado com Parkinson desde 2019 e com saúde fragilizada nos últimos anos, Ozzy havia se despedido dos palcos no início deste mês com o show histórico Back to the Beginning , ao lado da formação clássica do Black Sabbath, em Birmingham. Figura central na história do heavy metal e do rock mundial, Ozzy Osbourne construiu uma carreira marcada por excessos, reinvenções e, acima de tudo, por uma discografia icônica. Conhecido como o Príncipe das Trevas, ele foi um dos criadores do heavy metal ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward no Black Sabbath, banda nascida no final dos anos 1960 que deu uma nova forma à música pesada — sombria, densa e existencial. Ao longo dos anos 1970, o Black Sabbath lançou álbuns fundamentais como Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol. 4 (1972...

Final Cut: a nova obra-prima do autor do clássico Black Hole (2025, Darkside)

Obra mais recente de Charles Burns, Final Cut é a síntese madura e inquietante de temas que o autor norte-americano vem desenvolvendo ao longo de sua carreira. Publicada no Brasil pela DarkSide em uma luxuosa edição de capa dura, a HQ é uma exploração visual e emocional do poder da arte — e de seus limites — frente à fragilidade humana. Protagonizada por Brian, um jovem introspectivo que busca expressar sua criatividade por meio de filmes caseiros, a narrativa gira em torno da relação intensa e silenciosa que ele estabelece com Laurie, sua musa e atriz. Enquanto Brian tenta capturar uma espécie de versão idealizada do amor através da lente da câmera, a realidade escapa por entre os dedos — seja na forma de desejos não correspondidos, seja na incapacidade de lidar com o mundo fora do universo que ele mesmo cria. Burns constrói essa jornada com uma linguagem visual precisa, marcada por linhas limpas e sombras densas, evocando simultaneamente os quadrinhos europeus de linha clara e ...

Blues Breakers with Eric Clapton (1966): o disco que fez Clapton se tornar deus

Em 1966, Blues Breakers with Eric Clapton — também conhecido como The Beano Album — não apenas consolidou a reputação de John Mayall como uma figura central do renascimento do blues britânico, mas, principalmente, transformou Eric Clapton em uma lenda viva da guitarra. Foi a partir deste disco que pichações como “Clapton is God” começaram a aparecer pelos muros de Londres, e não era exagero: ali nascia um novo padrão de excelência no blues elétrico. O álbum surgiu em um momento de efervescência musical no Reino Unido. Jovens músicos ingleses estavam redescobrindo o blues norte-americano e o reinventando com intensidade e volume. Após sua saída precoce dos Yardbirds — por considerar a banda comercial demais —, Clapton mergulhou no blues puro ao lado de John Mayall, e o resultado foi explosivo. Com a produção de Mike Vernon e o apoio da Decca Records, Blues Breakers with Eric Clapton foi gravado em poucas sessões, mas o impacto foi duradouro. A grande inovação de Clapton no álbum ...

Tenebrosa: a fábula sombria de Hubert e Vincent Mallié (2025, Comix Zone)

Lançada originalmente na França em dois volumes, Tenebrosa , HQ escrita por Hubert e ilustrada por Vincent Mallié, chega ao Brasil em edição única pela Comix Zone. A obra condensa o talento de dois grandes nomes da cena europeia em uma narrativa madura, melancólica e visualmente arrebatadora — um conto de fantasia sombria que desafia arquétipos e mergulha em dilemas morais universais. O enredo gira em torno de Arzhur, um cavaleiro caído em desgraça, marcado por escolhas erradas e uma existência sem rumo. Contratado por três figuras misteriosas para resgatar a jovem Islen, ele vê a missão como uma chance de redenção. No entanto, o que parecia uma clássica jornada heroica rapidamente se transforma em um mergulho no desconhecido. Islen não é a princesa indefesa dos contos tradicionais: carrega em si um poder antigo, enigmático e inquietante, e desafia constantemente a lógica das aparências e o papel que lhe foi imposto. A narrativa de Hubert é uma poderosa alegoria sobre culpa, destin...

Black Sabbath, Master of Reality (1971) e o álbum mais importante da história do metal

Master of Reality é o álbum mais importante da história do heavy metal? A pergunta pode parecer exagerada, mas basta uma audição atenta —ou uma olhada no impacto cultural gerado por Master of Reality desde seu lançamento em julho de 1971 — para perceber que não se trata de mera provocação. Terceiro disco do Black Sabbath, a obra não apenas consolida o som pesado que a banda vinha moldando desde seu debut, como amplia de forma surpreendente os caminhos possíveis para o metal. É, muito provavelmente, o álbum mais diverso e influente da discografia do grupo. Gravado em apenas 30 dias no estúdio Island, em Londres, Master of Reality é o primeiro disco em que Tony Iommi passou a afinar sua guitarra um tom e meio abaixo, para aliviar a dor nos dedos — consequência de um acidente sofrido ainda na adolescência. Essa decisão técnica teve consequências estéticas profundas: o som do Sabbath se tornou ainda mais denso, grave e ameaçador. E dessa afinação nascem as sementes de gêneros como doo...