Lançado em 23 de maio de 1987, Keeper of the Seven Keys Part I é o álbum que criou as bases do power metal melódico europeu. Misturando velocidade, melodia, fantasia e técnica, o Helloween entregou uma obra que mudou o rumo do heavy metal e influenciou gerações ao redor do mundo.
Até ali, o Helloween era uma banda de speed metal agressivo, como mostrado no debut Walls of Jericho (1985). O som era cru, rápido e técnico – mas ainda limitado em alcance melódico. A mudança crucial veio com a entrada do vocalista Michael Kiske, de apenas 18 anos, cuja voz poderosa e cristalina permitiu que o grupo explorasse novos horizontes musicais.
Com Kiske assumindo os vocais, Kai Hansen – até então guitarrista e vocalista – pôde se concentrar nas seis cordas ao lado de Michael Weikath, abrindo espaço para composições mais ambiciosas e estruturadas. A banda estava pronta para algo maior.
O som apresentado em Keeper I é resultado de um caldeirão de influências. O Helloween bebeu da fonte do Iron Maiden (nas estruturas épicas e temáticas líricas), do Judas Priest (no peso e nas guitarras afiadas), do Queen (nos vocais elaborados e no senso de espetáculo), no Rainbow e Scorpions (na melodia e na ambição de soar grandioso) e no Uriah Heep e Deep Purple (no uso de elementos do rock progressivo e hard setentista). Além disso, o grupo incorporou traços da música clássica e do hard rock europeu, resultando em um som único: rápido, técnico e melódico, mas sempre acessível.
O disco traz um conceito lírico baseado em fantasia medieval, com letras que falam de batalhas entre luz e trevas, jornadas heroicas e a luta pela salvação. A mitologia criada se completaria no álbum seguinte - Keeper of the Seven Keys Part II (1988) -, mas aqui já temos a introdução de uma narrativa maior, quase como uma saga em capítulos.
A abertura orquestrada com “Initiation” leva direto à explosão energética de "I'm Alive", uma afirmação de identidade e poder. Kiske brilha logo de cara, com vocais que combinam alcance e emoção. "Future World" tem um riff cativante, refrão inesquecível e uma letra que mistura otimismo com ficção científica. A música é um dos maiores hits da história da banda. "Twilight of the Gods" é rápida, técnica e cheia de mudanças de andamento, e mistura peso e melodia de forma precisa. E "Halloween", com 13 minutos de duração, é o épico central do disco. Dividida em diversas seções, tem riffs marcantes, solos complexos, vocais teatrais e ambientações climáticas. Uma mini ópera metálica que representa tudo que o Helloween viria a ser dali em diante.
Keeper of the Seven Keys Part I não apenas consolidou o Helloween como um dos maiores nomes do metal europeu – ele também deu início ao que hoje chamamos de power metal melódico. Combinando a energia do metal com melodias grudentas e temas épicos, o disco criou uma fórmula que influenciaria bandas como Gamma Ray (fundada pelo próprio Kai Hansen após deixar o Helloween), Blind Guardian, Stratovarius, Angra, Rhapsody e muitas outras. Além disso, o álbum teve impacto direto no Japão e na Europa, abrindo portas para uma nova cena metálica que prosperaria nos anos 1990 e 2000.
Quase quatro décadas após seu lançamento, Keeper I continua sendo referência. Seja pelo talento dos músicos, pela produção ousada para a época ou pelo espírito aventureiro, o disco permanece como um dos pilares do metal melódico mundial – e um marco incontornável na discografia do Helloween.
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