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Mostrando postagens de setembro, 2021

Iron Maiden, Senjutsu e uma reflexão sobre longevidade

2021, e eis que mais uma vez o mundo do heavy metal interrompe a programação normal para saudar a vinda de mais um álbum do Iron Maiden. Quando o Iron Maiden lança um disco novo, esse disco se torna praticamente a coisa mais importante da vida do fã por um tempo. Todo mundo que ama a banda, incluindo os fãs que amam reclamar da fase atual, sabe exatamente do que eu estou falando. Dentro desse mundo, não há banda que mobilize semelhante comoção. Dias antes do 3 de setembro, data do lançamento oficial de Senjutsu , o décimo sétimo álbum de estúdio do Maiden, lojistas já comercializavam o lançamento em mídia física, o que resultou no vazamento prematuro do material, satisfazendo uma demanda voraz e global. Em poucas horas, meu feed no YouTube já anunciava vídeo resenhas apaixonadas. Nos fóruns de discussão já se via animadíssimas tentativas de avaliar o álbum dentro do contexto geral da obra do conjunto britânico - algo que, nem é preciso dizer, os fãs conhecem de dentro para fora. ...

Review: Raven – Party Killers (2015, edição brasileira de 2021)

Quando se fala da família Gallagher na música, os fãs de rock clássico lembram do grande bluesman irlandês Rory. Já os mais jovens provavelmente pensarão que trata-se de alguma referência a Liam e Noel, os irmãos ingleses por trás do Oasis. E quem curte metal tradicional vai direto em John e Mark, brothers ingleses que formaram o trio Raven na cidade de Newcastle em 1974 – o baterista Joe Hasselvander completa o line-up. Um dos nomes mais icônicos do metal inglês, o Raven possui uma carreira pra lá de longa e que conta com doze álbuns de estúdio, dois ao vivo, duas compilações e mais um monte de material. Um dos mais legais é o álbum de covers Party Killers , lançado originalmente em 2015 e que chegou ao Brasil em 2021 em uma edição slipcase via Hellion Records. O disco traz onze releituras para canções de artistas e bandas predominantemente britânicas (as únicas exceções são Cheap Trick e a Edgar Winter Band). O clima é festivo e o tracklist funciona como uma ótima jukebox com poder...

Review: Night – Hight Tides, Distant Skies (2020)

O Night é o meu tipo de banda. Eles fazem exatamente o som que eu gosto de ouvir, e muito bem. O quarteto sueco – de onde mais seriam? – chega ao seu quarto álbum com High Tides – Distant Skies , lançado na Europa em 2020 e sucessor de Raft of the World (2017). Ambos os discos ganharam bonitas edições nacionais pela Hellion Records. O som do Night é um hard construído sobre baldes de melodia provenientes das guitarras, que trabalham harmonias e solos que mostram influências de bandas excelentes como Thin Lizzy, Wishbone Ash e Blue Öyster Cult. O clima predominante é de um som pesado meio setentista, com os vocais da dupla Oskar Andersson e Sammy Ouirra soando suaves e cristalinos. Essas caraterísticas, que são trabalhadas com primor em um processo de composição muito bem feito, geram composições cativantes e álbuns com potencial para conquistar novos fãs, como foi o caso de Raft of the World e acontece novamente com High Tides – Distant Skies . As nove faixas do disco são todas n...

Review: Iron Maiden – Senjutsu (2021)

O Iron Maiden conseguiu fazer de Senjutsu , seu décimo-sétimo álbum de estúdio, um acontecimento. Uma bem elaborada estratégia online colocou as expectativas nas alturas, que foi atendida com a divulgação dos dois primeiros singles, “The Writing on the Wall” e “Stratego”. O lançamento, no último dia 3 de setembro, causou a comoção de sempre: reações apaixonadas dos fãs e críticas sendo derramadas na mesma proporção. O fato é que o Iron Maiden conseguiu fazer de Senjutsu um álbum único em sua carreira. Poucos discos da banda soam tão únicos, tão diferentes, tão singulares. Nesse aspecto, o álbum é um ponto fora da curva da discografia dos ingleses assim como The X Factor (1995) e A Matter of Life and Death (2006) também foram em seu próprio tempo. Não há nada igual a esses três discos na carreira do Iron Maiden, e isso por si só já diz muito da qualidade de Senjutsu e do foco puramente musical do trabalho. Sem abrir concessões, a banda gravou o disco que queria gravar. Produzido...

Livro: Quando o Som Bate no Peito, de Márcio Grings (2021, Memorabilia)

Escrever sobre música não é uma ciência exata. Porém, poucos dominam essa arte tão bem como Márcio Grings. O jornalista e colecionador gaúcho, que atua também como produtor cultural e já escreveu vários livros, mostra todos os seus dons em Quando o Som Bate no Peito , seu novo lançamento. A ideia da obra é relatar a experiência sem igual de assistir a um show ao vivo, de estar frente a frente com o seu ídolo e apreciar toda a força de sua música em cima de um palco. É nesse momento que o som bate no peito, toma conta do corpo e transforma a experiência musical em algo único e difícil de explicar. Mas que Grings, com a experiência de quem consome música há década, ouvidos experientes e alta rodagem sensorial conseguiu traduzir em uma obra que agradará em cheio toda pessoa como eu e você, que ama a música. Ao todo o livro conta com a análise de 34 shows assistidos in loco por Márcio Grings entre 1998 e 2019, de nomes lendários como Rolling Stones, The Who, Bob Dylan, Paul McCartney, ...

Livro: Lords of Chaos, de Michael Moynihan e Didrik Søderlind (2021, Estética Torta)

A cena black metal norueguesa foi um dos fenômenos socioculturais mais intensos da história da música. Ao mesmo tempo que foram capazes de produzir obras de qualidade musical indiscutível e que deram origem a todo um novo gênero musical – o black metal propriamente dito, que antes disso vinha se desenvolvendo gradativamente através de bandas como Venom, Hellhammer e, principalmente, o Bathory -, os integrantes da cena também eram pródigos em cometer atos que chocaram a sociedade de seu país como queimas de igrejas históricas e assassinatos, com direito a dezenas de declarações pra lá de polêmicas e extremamente discutíveis em suas entrevistas. Toda essa história já foi contada inúmeras vezes em matérias, documentários, filmes e livros. Mas mesmo com a farta produção dedicada a esmiuçar as origens, causas e efeitos do cenário da música extrema nórdica daquela época, nenhuma obra alcançou um impacto cultural e documental tão grande quanto Lords of Chaos , livro escrito pela dupla Micha...

Review: Gary Moore – How Blue Can You Get (2021)

How Blue Can You Get vem direto dos arquivos de Gary Moore e reúne quatro covers e quatro canções próprias do vocalista e guitarrista norte-irlandês, falecido precocemente em 2011 com apenas 58 anos vítima de um ataque cardíaco causado pelo consumo excessivo de álcool. O álbum é o primeiro de Moore desde Bad For You Baby , que saiu em 2011. Ouvir esses discos de músicos que não estão mais entre a gente sempre traz uma carga extra de emoções e sentimentos, principalmente quando fica clara a qualidade do material e a falta que esse músico faz. É o caso de Gary Moore em How Blue Can You Get . Sua guitarra e sua voz tocam profundamente o coração, e o resultado é um álbum que ganha uma dimensão única. O CD abre com uma releitura estupenda para “I'm Tore Down”, de Freddie King, aqui transformada em um blues turbinado por um groove arrasador. Moore revisita também “Stepping Out”, de Memphis Slim, um dos standards instrumentais mais antológicos do blues e que ganha uma versão com a peg...