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Mostrando postagens de agosto, 2019

Review: Tool – Fear Inoculum (2019)

Não sei se em algum momento de sua longa carreira a banda norte-americana Tool pôde ser definida como heavy metal. Ou melhor: se o heavy metal é suficiente para abarcar todos os caminhos que a música do quarteto formado por Maynard James Keenan (vocal), Adam Jones (guitarra), Justin Chancellor (baixo) e Danny Carey (bateria) transita. A resposta é, sem medo de errar, um grande NÃO. Fear Inoculum , primeiro álbum do grupo em treze anos e sucessor de 10,000 Days (2006), ratifica essa conclusão. O Tool, na verdade, não só não se enquadra dentro dos limites do metal como é difícil de encaixar em diversos outros gêneros. O mais adequado seria classificá-los como rock progressivo, mas também não há uma exatidão nessa definição. E por mais que você possa estar pensando algo como “ tá, mas e daí, o que importa é o som e não esses adjetivos ”, eles são essenciais para localizar o leitor sobre o que ele ouvirá ao colocar um disco da banda para tocar. As sete músicas de Fear Inocul...

Review: Bang – The Maze (2004, reedição 2019)

Após retornar com o controverso Return to Zero em 1999, o Bang soltou The Maze em 2004. E aqui, ao contrário do disco anterior, temos a banda soando como seus trabalhos iniciais, onde chegaram a ganhar a alcunha de “ Black Sabbath norte-americano ” devido ao peso e à semelhança com uma certa banda natural de Birmingham. The Maze acaba de ser lançado pela primeira vez em edição nacional pelas mãos da Hellion Records e traz quinze faixas espalhadas por pouco mais de uma hora. O álbum estava fora de catálogo até no exterior, assim como o anterior, e esse resgate do grupo tem importância para repercutir não apenas entre colecionadores brasileiros, mas também de todo o mundo. Contando com Frank Ferrara (vocal e baixo), Frank Gilcken (guitarra), Rick Bowen (teclado) e Mark Vaquer (bateria) – Ferrara e Gilcken são integrantes originais -, o Bang fez um disco na medida pra quem curte a sonoridade poeirenta do rock pesado produzido durante a década de 1970. O som é calcado em ...

Quadrinhos: Blue Note, de Mikael Bourgouin e Mathieu Mariolle (2018, Mythos)

O blues é algo difícil de se conhecer. É como a morte. Quando você se sente triste, você pode dizer ao mundo inteiro que você tem o blues. Lightnin’ Hopkins Lançada em agosto de 2018 sob o selo Gold Edition (quadrinhos europeus com acabamento de luxo) da Mythos Editora e com formato álbum (24x31 centímetros), Blue Note – Os Últimos Dias da Lei Seca , dos franceses Mikael Bourgouin e Mathieu Mariolle , nos apresenta um conto de máfia com trilha sonora de blues. Dividida em dois capítulos, a HQ é uma visão clássica e tradicional de uma das épocas mais romantizadas da história americana: a Proibição ou Lei Seca (1920-1933). O primeiro capítulo conta a história de Jack Doyle, um boxeador veterano que, ao retornar aos ringues, é manipulado pela máfia e convencido a participar de lutas ilegais. Uma ótima história de redenção. O segundo capítulo tem como protagonista um jovem e talentoso bluesman, R.J., recém-chegado a Nova York e que, como todo músico, deseja fazer sucesso e g...

Discoteca Básica Bizz #197: Chico Buarque - Construção (1971)

Construção  representa um foco múltiplo de inflexão na carreira de Chico Buarque. O ano é 1971 e Chico tinha acabado de passar por um perrengue sério com a censura meses antes com a proibição de "Apesar de Você", canção lançada em compacto que, depois de vender 100 mil cópias, foi recolhido. A música, um samba animado e esperançoso, era um exemplo típico de sua habilidade de fazer canções com alto teor político mas sem o panfletarismo que estava associado ao gênero de protesto nos festivais. A obra de Chico durante todos os anos 1970 seria marcada pela infatigável perseguição da censura e pela quase que equivalente habilidade crescente em driblá-la. Foi uma década de intensa experimentação estilística, em que Chico cunhou uma expressão ao mesmo tempo tributária da tradição, mas de uma coragem autoral ímpar. Construção  representa uma espécie de balão de ensaio de todos esses vetores. Para começo de conversa, Chico está com raiva - e essa raiva emerge em quase ...

Review: Bang – Return to Zero (1999, reedição 2019)

Entre quem coleciona, pesquisa e se interessa pelo hard rock produzido durante a década de 1970, o Bang possui o carinhoso apelido de “ o Black Sabbath norte-americano ”. Essa alcunha surgiu devido à semelhança evidente entre a auto intitulada estréia dos ianques, que saiu em 1971, e o que o Black Sabbath fazia naquela época. Ou seja: um som pesado, carregado de riffs e com uma energia onipresente. No entanto, a carreira do Bang não foi tão exitosa quando a do Sabbath. Enquanto os ingleses se transformaram em uma das maiores e mais influentes bandas de todos os tempos, seu “clone” norte-americano explorou outros caminhos e acabou não chegando a lugar nenhum. A banda acabou em meados dos anos 1970 e retornou no final da década de 1990 com esse Return to Zero , seu quarto álbum. E o som, infelizmente, não tem nada a ver com o mitológico primeiro registro. O que se ouve nas quinze faixas de Return to Zero é um pop rock adocicado e que parece ter sido gravado por out...

Meu Led Zeppelin: as três músicas favoritas de cada álbum

O Led Zeppelin é, provavelmente, a banda mais importante da minha vida. Não foi a que mais ouvi – esse título é do Iron Maiden -, mas certamente foi a que mais impacto teve sobre a minha cabeça adolescente.  Com o Led, deixei de ser um headbanger radical que atendia pela alcunha de Ricardo Heavy Seelig e iniciei um processo de evolução como ouvinte. Sob o comando de Jimmy Page e sua turma tive contato com sonoridades variadas e que atiçaram a minha curiosidade, fazendo que fosse atrás de novas bandas, artistas e discos. Fazendo uma alusão à capa do clássico Physical Graffiti , o Led Zeppelin abriu todas as janelas da minha mente. A playlist abaixo é ao mesmo tempo um exercício de escolha e um reencontro com canções que fazem parte dessa minha passagem por este plano. Elas estão organizadas em ordem cronológica, três por cada um dos discos de estúdio lançados pela banda, e são as que mais curto do quarteto Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham. Ouça aba...

Review: Attack – The Secret Place (1995, reedição 2019)

O Attack foi formado em Hannover em 1983 e é considerado uma das bandas pioneiras do metal alemão. Com uma discografia relativamente pequena – apenas cinco discos -, o grupo acaba de ter o seu trabalho mais recente lançado no Brasil pela Hellion Records. The Secret Place chegou às lojas em setembro de 1995 e traz um power metal bem executado, que alterna momentos de peso com outros mais suaves, onde a bela voz do também baixista Ricky Van Helden se destaca. Lançado em meio ao domínio do grunge e de música alternativa que protagonizou a década de 1990, The Secret Place é um disco muito bem feito e que teria tudo para alcançar resultados melhores caso tivesse chegado às lojas alguns anos antes ou até mesmo um pouco mais tarde, quando o metal retomou o merecido destaque no início dos anos 2000. O som traz influências de nomes como Queensrÿche equilibradas à pegada tradicional alemã, resultando em um metal ao mesmo tempo técnico e pesado, que cativa rapidamente o ouvinte. ...

Review: Sacred Reich – Awakening (2019)

Todo mundo tem uma lista de bandas injustiçadas, e a minha é encabeçada pelo Sacred Reich. Liderada pelo carismático baixista e vocalista Phil Rind, a banda surgiu em 1985 com Jeff Martinek (que seria substituido por Wiley Arnett) e Jason Rainey nas guitarras, mais o grande Greg Hall na bateria. Foram quatro álbuns desde sua estreia: Ignorance (1987), The American Way  (1990), Independent (1993) e Heal (1996), esse sendo o mais fraco. Em meio a isso o grupo ainda soltou o clássico EP Surf Nicaragua em 1988. A banda encerrou suas atividades após o lançamento do álbum Heal e retornou pra algumas apresentações em 2007. Enfim, após 23 anos de seu último disco de estúdio o quarteto apresenta Awakening , lançado no último dia 23 de agosto. O novo álbum traz Phil Rind, Joey Radziwill e Wiley Arnett nas guitarras e o gigante Dave McClain na bateria, em seu primeiro trabalho após sair do Machine Head. McClain retorna à banda, visto que foi dono das baquetas entre 1991 e 1...

Review: Slayer – Divine Intervention (1994)

Em 1992, Dave Lombardo, um dos maiores bateristas de thrash metal de todos os tempos, deixou o Slayer pela segunda vez (a primeira foi em 1986 e levou alguns meses apenas). O substituto foi Paul Bostaph (ex-Forbidden), cuja estreia em estúdio com a banda foi participando da gravação de “Disorder”, um medley de músicas do Exploited que entrou na trilha sonora do filme Judgment Night e conta com a parceria do rapper Ice-T. Lançado em 27 de setembro de 1994, Divine Intervention é o sexto álbum da banda e o primeiro a contar com Bostaph nas baquetas. O disco abre com “Killing Fields” e sua introdução espetacular e extremamente técnica de bateria, para mostrar aos fãs que o novo integrante não estava para brincadeira. Várias alternâncias rítmicas se fazem presentes durante a música, culminando em uma parte rápida no final. O oficial nazista Reinhard Heydrich foi um dos principais arquitetos do Holocausto e a faixa “SS-3” fala sobre ele. Adolf Hitler descreveu-o como " ...

Review: Paragon – Controlled Demolition (2019)

O negócio aqui é heavy metal. Tradicional, pesado, cheio de riifs, com algumas pitadas de thrash, influenciado pelo Accept e perfeito para quem curte um som mais ortodoxo. Resumindo: este é um CD de metal puro, simples e eficiente. Décimo-segundo álbum da banda alemã Paragon, Controlled Demolition foi lançado em abril na Europa e acaba de chegar ao Brasil pelas mãos sempre competentes da Hellion Records. O disco vem com onze músicas espalhadas por cinquenta minutos e é uma delícia pra quem curte um som mais convencional e distante das múltiplas inovações que surgiram no metal nas últimas décadas – muitas delas ótimas, outras nem tanto, diga-se de passagem. Apesar de manter os pés em caminho seguro, o Paragon não soa datado, muito pelo contrário. O grupo liderado pelo guitarrista Martin Christian soa atual e contemporâneo sem deixar de lado suas principais características. De modo geral o som é semelhante ao do Accept atual, há uma inegável similaridade entre os timbres ...

Discoteca Básica Bizz #196: Black Uhuru - Sinsemilla (1980)

Há incontáveis razões que fazem de  Sinsemilla , estreia internacional do Black Uhuru, um álbum como nenhum outro. Emblemático, foi lançado no começo de uma década crucial para o reggae, pouco antes da morte de Bob Marley (1981), e também antecedendo o surgimento do dancehall e sua variação toast,o ragga (1985) - gêneros que seguramente devem sua existência à liberdade estética trazida por essa obra angular. Estranho, apresentava um reggae seco e pesado, de outra ordem ou categoria, ainda que bastasse juntar as peças para perceber ali as melhores escolas do ska, do rock steady, do dub, assim como do funk, do soul e do rock. Dá pra dizer que o melhor da música jamaicana dos anos 1960 e 1970, bem como outras influências que bateram na ilha, estava ali resumido e embrulhado para presente. Por trás desse resultado faiscante estavam Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo), os embaixadores do groove jamaicano, que a partir daí consolidaram internacionalmente sua ...

Quadrinhos: Nada a Perder, de Jeff Lemire (2019, Nemo)

O quadrinista canadense Jeff Lemire possui algumas características marcantes em suas obras. Dramas familiares passados em cidades interioranas com paisagens bucólicas estão entre elas. Esse é o pano de fundo de  Black Hammer e  Gideon Falls , duas de suas obras recentes mais celebradas, e também de  Nada a Perder , quadrinho publicado no Brasil pela editora Nemo em 2018 e que acaba de ganhar sua primeira reimpressão. Em Nada a Perder conhecemos um ex-jogador de hóquei que tinha tudo para se transformar em uma estrela do esporte, mas que acabou não alcançando todo o seu potencial devido a alguns problemas pelo caminho. Ao invés disso, Derek Ouelette, o personagem central da obra, é apenas um cara fracassado que sobrevive como pode em uma minúscula cidade do interior gelado do Canadá. E, enquanto faz isso, bebe litros de álcool e arruma confusão com praticamente todo mundo. As coisas mudam de figura quando sua irmã retorna após muitos anos fora e traz junto consigo...

Review: Amon Amarth – The Pursuit of Vikings (2018)

Grandes álbuns ao vivo transformam bandas em lendas. Made in Japan fez isso com o Deep Purple em 1972. Alive! mostrou a incrível força do Kiss em 1975. Live After Death eternizou o auge do Iron Maiden em 1985. Exemplos não faltam. Essa lista acaba de ganhar um novo integrante com The Pursuit of Vikings: 25 Years in the Eye of the Storm , que comemora o aniversário da banda sueca Amon Amarth, maior nome do viking metal mundial já há alguns anos. O título acaba de sair no Brasil em um luxuoso box triplo com 2 DVDs e 1 CD. O primeiro disco traz um documentário sobre o grupo, enquanto o segundo vem com o show realizado pela banda no festival alemão Summer Breeze em 2017 e o terceiro vem com o áudio dessa apresentação. O foco deste review é apenas o CD, não o vídeo. Gravado durante a turnê de divulgação do excelente Jomsviking (2016), o material traz cinco canções do disco entre as suas dezesseis faixas: “First Kill”, “The Way of Vikings”, “At Dawn’s First Light”, “Raise ...

A História do Heavy Metal – Capítulo V: O Black Metal

Assim como o death metal, o thrash em suas facetas mais extremas foi a raiz para o desenvolvimento do mais polêmico e controverso subgênero do metal: o black metal. A música é caracterizada por andamentos rápidos, vocais rasgados, vocais guturais, guitarras altamente distorcidas tocadas em tremolo picking, uso de blast beats pela bateria, álbuns com produção lo-fi e estruturas sonoras não-convencionais. É um estilo sombrio, cru e agressivo que incorpora em suas letras temas como satanismo, anticristianismo e paganismo, sendo considerado usualmente o gênero musical mais extremo. Além disso, músicos do gênero costumam usar corpse paint e pseudônimos. O black metal é tanto um gênero como uma ideologia. A noção principal da banda típica de black metal é ser tão diferente do gênero mainstream do metal quanto pode ser. Isso pode envolver opiniões anticristãs, satanistas ou pagãs sobre a vida (especialmente dentro de suas formas mais antigas). O black metal é um ambiente bastante ...