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Mostrando postagens de setembro, 2022

Chega de serial killers

Enquanto escrevo esse texto, Dahmer: Um Canibal Americano , série da Netflix sobre o serial killer Jeffrey Dahmer, é um fenômeno de público. A produção de Ryan Murphy estreou dia 21 de setembro na plataforma e está em primeiro lugar como a série mais assistida da Netflix em diversos países. E essa atração não acontece só em relação a Dahmer , mas com praticamente todos os programas que trazem serial killers reais, ou crimes que realmente aconteceram. Há até um termo para isso: true crime. E esse termo está difundido de forma profunda nos streamings, nos podcasts, no YouTube, nos livros. O true crime está inserido na cultura pop. Nomes como os de Jeffrey Dahmer, Ted Bundy e John Wayne Gacy não deveriam ser lembrados. E, claro, é assustador que esses assassinos doentios tenham se tornado fenômenos pop. Há uma espécie de Serial Killers Corporation, com dezenas de produções contando a história desses caras e muitas vezes os colocando um status que nunca possuíram. Indivíduos como Dahmer,...

Review: Metallica - The Metallica Blacklist (2021)

Existem várias formas de ouvir música. Trilha de fundo pra quando você estiver fazendo outra coisa, escutar com atenção um álbum de sua banda preferida, curtir um disco que faz bem pra você. The Metallica Blacklist não se enquadra em nenhuma dessas situações. Celebrando os trinta anos do clássico Black Album , o Metallica convidou 53 artistas dos mais variados gêneros musicais para darem as suas interpretações para as doze canções que transformaram a banda em uma das maiores de todos os tempos, tudo com a supervisão de Giles Martin, produtor inglês responsável pelos relançamentos dos Beatles e filho do lendário George Martin. A audição é um exercício sonoro e de aprendizagem por versões que dão às canções novas abordagens do metal ao pop, do rock ao country, da música eletrônica ao jazz, sem cerimônia e sem medo. O resultado, em grande parte, é positivo, principalmente se você tiver a cabeça aberta para diferentes gêneros musicais – mas até aí nada de novo, já que o Metallica nunca ...

Review: Uhrutau – Memory (2022)

O Uhrutau é um power trio formado em 2017 e que lançou esse ano o seu álbum de estreia, intitulado Memory . O disco saiu em CD de forma independente, no formado cardboard. A banda conta com Maurício Bortoloto (vocal e guitarra), Pedro Ghoneim (baixo) e Dhieego Andrade (bateria), e o álbum traz as participações especiais de Fábio Caldeira (vocal do Maestrick), Gustavo Carmo (guitarrista do VersOver) e Nelson Pinto (pianista). De imediato, duas coisas saltam aos ouvidos em Memory: a boa produção, que ressalta as qualidades técnicas da banda, e um aspecto não muito positivo. A voz limpa de Bortoloto soa deslocada do que a banda está fazendo, e fica claro que o vocalista precisa passar ainda por uma longa evolução nesse aspecto. Quando canta no gutural, não há problemas. Porém, seu timbre limpo incomoda e compromete o resultado final. O álbum vem com oito faixas que apresentam um metal com apuramento técnico e que, ainda que não possa ser caracterizado como progressivo, é esse estilo d...

Review: Funeral Sex – The Gods Put the Demons on Earth (2022)

Natural de Rio Claro, o Funeral Sex é um trio formado por Vladimir Matheus (vocal e guitarra), Thaís Pancheri (baixo) e Baxos Rokiaa (bateria). Na ativa desde 2013, possui na discografia o álbum Sex, Demons and Rock ‘N Roll (2015) e o EP Adoradores de Sangue (2016), ambos disponibilizados apenas no formato digital. Após um hiato e mudanças de formação, a banda lançou em fevereiro o seu segundo disco, The Gods Put the Demons on Earth , o primeiro a sair no formato físico. O CD traz nove faixas, foi lançado pela Heavy Metal Rock em formato acrílico e vem com encarte de doze páginas com as letras. O som é um stoner com as sempre presentes influências de Black Sabbath, mas aqui acompanhadas por algumas pitadas de rock alternativo e até mesmo grunge na escola Soundgarden e Alice in Chains. É um álbum que traz bastante peso, porém sem a tradicional abordagem monolítica do estilo, abrindo espaço para o som “respirar” e de braços abertos para a inserção de outros instrumentos na mistura, c...

Review: Pentral – What Lies Ahead of Us (2021)

What Lies Ahead of Us é o álbum do estreia do Pentral, trio paraense formado por Victor Lima (vocal e guitarra), Joe Ferry (baixo) e Vagner Lima (bateria). O CD traz dez canções mais as versões editadas de duas das faixas presentes no disco. A produção foi assinada pela própria banda e por Tim Palmer (Pearl Jam, U2, Ozzy Osbourne). Já a bela capa, que deixa clara a mensagem pró-natureza dos músicos, foi criada pela artista Heidi Taillefer. O encarte é de oito páginas e vem com todas as letras, e o CD foi lançado pela Voice Music. Musicalmente, o Pentral traz referências de nomes contemporâneos como Opeth e The Ocean caminhando lado a lado com influências clássicas do metal e do prog. No geral, os reviews classificaram a banda como rock progressivo, mas ouvindo o álbum fica evidente que definir o som do trio dessa maneira é reduzir o que o Pentral faz. A originalidade é forte, com uma solidez e uma densidade sonoras que impressionam ao falarmos de uma banda formada por apenas três in...

Review: Megadeth – The Sick, The Dying ... and The Dead! (2022)

Quando o brasileiro Kiko Loureiro entrou no Megadeth, lá em 2015, muitos afirmaram que ele duraria pouco tempo na banda devido ao seu histórico de ser uma pessoa bastante difícil, isso somado ao mesmo histórico do chefão Dave Mustaine. Para surpresa de muitos, essa junção já dura sete anos. E mais: das doze faixas do décimo sexto e recém lançado álbum The Sick, The Dying ... and The Dead! , Kiko aparece como co-autor de oito, mostrando que a parceria está sólida e mais forte do que nunca. Contando com o time mais tecnicamente capaz desde os tempos da formação Mustaine/Friedman/Ellefson/Menza, o álbum é o primeiro a trazer a bateria de Dirk Verbeuren (ex-Soilwork e Devin Townsend Project). Além de incorporar levadas rápidas e precisas, Dirk faz parceria com o chefe na composição de “Life in Hell”. O refrão é direto: “ Sou uma doença e estou viciado em mim … vou viver e morrer no inferno ”. Já o estilo de composição de Kiko pode ser notado facilmente em faixas como “Dogs of Chernobyl”...

Quadrinhos: Eu, Lixeiro, de Derf Backderf (2021, Darkside)

O lixo é um dos maiores problemas do mundo. Sempre foi, e continua sendo. Eu, Lixeiro , HQ escrita e desenhada por Derf Backderf, autor da ótima Meu Amigo Dahmer , deixa isso ainda mais claro. Inspirado na breve experiência como lixeiro que teve entre 1979 e 1980, Derf conta uma história que alia humor, leveza e muita – mais muita mesmo - informação. O quadrinho foi publicado nos Estados Unidos em 2015 e chegou ao Brasil no final de 2021 pela Darkside em uma edição em capa dura com 256 páginas e tradução de Érico Assis, tudo com a qualidade editorial e gráfica características da editora. A narrativa de Backderf é, como já dita, leve e bem humorada. A HQ conta a história de J.B., que aceita o emprego após abandonar a faculdade, e mostra a sua transformação com o passar dos meses, indo do nojo inicial até a mais absoluta descrença no ser humano. Dizem que dá pra conhecer uma pessoa analisando o lixo que ela produz, certo? J.B. descobre que dá mesmo. O ponto forte do quadrinho são as ...

Review: Daniel Fonseca – Alienize (2022)

O que você estava fazendo com 16 anos? Com essa idade, Daniel Fonseca gravou um senhor CD de heavy metal com seus ídolos. Alienize traz o jovem guitarrista ao lado de uma banda formada por Leandro Caçoilo (vocal, Viper), Felipe Andreoli (baixo, Angra) e Alexandre Aposan (bateria, Oficina G3). E não para por aí: Kiko Loureiro (Angra, Megadeth) e Derek Sherinian (Dream Theater, Sons of Apollo, Black Country Communion) fazem participações especiais. Alienize é um EP com cinco músicas, e conta com produção de Felipe Andreoli. O som é pesado e com grande apuro técnico, mas passa longe do prog metal. As canções são diretas, trazem ganchos, boas melodias e refrãos fortes. E claro, por se tratar de um álbum de um guitarrista, os solos se destacam e são vitrines para Daniel mostrar o quão precoce é e o quão longe pode chegar. E aqui vai um elogio ao músico, já que ele vai na escola de Eddie Van Halen, não no modo de tocar mas sim em algo muito mais representativo: na escolha de usar a inegá...

Review: Aetherea – Through Infinite Dimensions (2021)

O Aetherea vem de São Paulo e entrega em Through Infinite Dimensions uma estreia que merece atenção de quem é fã de metal sinfônico. Gravado entre 2019 e 2020 e lançado um 2021, o primeiro álbum do quinteto formado por Jessica Sirius (vocal), Rodrigo Mello (sintetizador, piano e vocal), Fábio Matos (guitarra), Vicki Marinho (baixo) e Paulo Lima (bateria) surpreende pela qualidade. E antes de seguir com a resenha, vale mencionar que a banda passou por uma mudança de formação recente e agora é um quarteto, com Jessica e Fábio acompanhados por Leandro KBZ (baixo) e Fredson Vilharda (teclado). Though Infinite Dimensions foi lançado pela MS Metal Records e vem com encarte de dezesseis páginas com todas as letras. O belo trabalho de capa é uma criação do artista Romulo Dias. Chama a atenção de imediato no som do Aetherea a união do symphonic metal com elementos de power e também ingredientes mais pesados, vindos principalmente de uma abordagem mais atual da guitarra e pelos breakdowns ,...

Quadrinhos: O Longo Dia das Bruxas, de Jeph Loeb e Tim Sale (Panini)

Presença obrigatória na lista de melhores histórias do Batman, O Longo Dia das Bruxas foi publicado pela primeira vez em 13 edições mensais que chegaram às bancas entre 1996 e 1997. No Brasil, a série saiu originalmente pela Editora Abril, tem também uma versão em dois volumes que faz parte da coleção do Batman publicada pela Eaglemoss, mas a versão mais conhecida é a edição definitiva lançada pela Panini há alguns anos, e que se tornou um dos best sellers da editora. O Longo Dia das Bruxas – Edição Definitiva vem com capa dura, 400 páginas e formato 28x19, e traz, além da clássica história escrita por Jeph Loeb e ilustrada por Tim Sale, extras como galeria de capas e uma entrevista com Christopher Nolan e David S. Goyer, respectivamente diretor e roteirista da trilogia cinematográfica que traz Christian Bale com o Cavaleiro das Trevas. O que temos em O Longo Dia das Bruxas é uma história que se passa no começa da carreira do Batman, e que pode ser encaixada como uma espécie de ...

Quadrinhos: Heróis em Crise, de Tom King e Clay Man (2021, Panini)

Heróis em Crise é uma HQ que tem como tema central a saúde mental dos super-heróis, assunto pouco abordado no universo dos quadrinhos. Personagens expostos constantemente a situações limites e que, em sigilo, tratam de suas perturbações emocionais em um local secreto. Afinal, com grandes poderes vem grandes traumas. A série foi publicada em nove volumes durante 2019 e 2020 nos Estados Unidos, e foi relançada em uma edição em capa dura de 240 páginas pela Panini no primeiro semestre de 2021. Essa abordagem fora do convencional é uma constante no trabalho de Tom King, roteirista que se destacou muito nos últimos anos com títulos que conquistaram público e crítica por apresentaram tópicos nada comuns de serem vistos em HQs de super-heróis. Ele falou sobre suicídio em sua passagem pelo Batman, a paternidade em Senhor Milagre , a pós-verdade em Estranhas Aventuras , o imperialismo em Xerife da Babilônia . E em Heróis em Crise , mais uma vez, pensa fora da caixa. A arte de Clay Mann é mag...

Elegy em dose tripla no Brasil pela Hellion Records

“The Grand Change”, música de abertura de Labyrinth of Dreams , primeiro álbum do Elegy, poderia tranquilamente estar em Operation: Mindcrime , clássico do Queensrÿche e um dos discos definidores do prog metal. A estreia da banda holandesa foi lançada originalmente em 1992, enquanto o álbum do Queensrÿche é de 1988. Esse intervalo de quatro anos provavelmente impediu o Elegy de alcançar o mesmo status que o quinteto liderado pelo vocalista Geoff Tate, pois o grupo estreou em uma época onde o tipo de som que fazia perdia espaço a cada dia para a avalanche grunge. Labyrinth of Dreams segue todo nessa pegada, unindo a melodia com andamentos quebrados, porém acessíveis, e com doses equilibradas de peso. Devidamente remasterizado a trazendo músicas bônus, foi lançado no Brasil em uma edição slipcase pela Hellion Records, acompanhado de versões com o mesmo acabamento para os dois álbuns seguintes do Elegy, Supremacy (1994) e Lost (1995). Labyrinth of Dreams vem com um pôster com a capa ...

Review: Vokonis – Odyssey (2021)

Em uma época onde o acesso à música está mais fácil do que nunca, é curioso que faltem veículos que indiquem para os ouvintes quais bandas, artistas e álbuns, nesse oceano sonoro imenso, valem a pena conhecer. Vivemos em uma realidade onde a MTV se transformou em um canal de reality shows, onde a VH1 perdeu a sua relevância e as rádios já não possuem a força que um dia tiveram. Sobraram os apps de streaming, cujo trabalho de curadoria recomendando músicas e discos é guiado pelo investimento das gravadoras e não por um propósito artístico. Quem sobrou? Quem faz jornalismo musical na era digital. Sites, blogs, canais no YouTube, perfis no Instagram. E o próprio fã, aquele cara que está sempre pesquisando algo e faz questão de compartilhar suas descobertas. O Vokonis é uma dessas pérolas. Um achado trazido para o Brasil pela Hellion Records, que já havia lançado o álbum anterior do trio sueco, Grasping Time (2021), e agora trouxe Odyssey , seu mais recente trabalho. Formada por Simon...

Review: Volcanova – Radical Waves (2021)

O Volcanova é um trio islandês de stoner rock, e Radical Waves é o seu primeiro disco. O CD saiu no Brasil pela Hellion Records em edição com capa de acrílico e encarte com 12 páginas trazendo as letras. Destaque para a capa, criada pelo artista Skadvaldur. Musicalmente, o que ouvimos é um stoner sujo, chapado e inegavelmente influenciado pelo clássico Master of Reality (1971) do Black Sabbath, e também por referências mais recentes como o High on Fire e até mesmo o Red Fang. Porém, com um detalhe nada animador: o som não é nada original e não possui as características que fazem cada uma das referências citadas soarem únicas. Radical Waves vem com dez faixas que entregam uma enxurrada de riffs “ iommianos ”, vocais gritados e andamentos com poucas variações. As letras falam sobre situações do cotidiano dos músicos – Samuel Asgeirsoon (vocal e guitarra), Thorsteinn Arnason (baixo) e Dagur Atlason (bateria) – e primam pelo bom humor, causando um contraste interessante com o peso in...

Quadrinhos: Estranhas Aventuras, de Tom King (2021, Panini Comics)

Muita gente pensa, erroneamente, que histórias em quadrinhos são destinadas apenas para crianças. É claro que não são. Mesmo as HQs de super-heróis alternam momentos de diversão com edições que trazem discussões mais densas e importantes. Estranhas Aventuras é um desses casos. A HQ foi publicada pelo selo Black Label da DC Comics, que é a nova versão do clássico selo Vertigo, criado na década de 1990 pela editora do Batman e Superman e destinado ao público adulto. A história foi escrita por Tom King, ex-agente da CIA que é um dos mais celebrados roteirista da atualidade e tem no currículo trabalhos sensacionais como Senhor Milagre e Xerife da Babilônia , além de um longo período na revista do Batman, que muitos não curtiram, mas que eu acho excelente. A arte é dividida entre dois ótimos ilustradores. Mitch Gerards, parceiro de King em Senhor Milagre , e um dos mais incríveis artistas surgidos nos últimos anos, dono de um traço realista que apresenta um trabalho de colorização de ...

Review: Mentalist – A Journey Into the Unknown (2021)

Thomen Stauch foi o titular da bateria do Blind Guardian por mais de vinte anos, período em que gravou todos os sete primeiros álbuns da banda alemã, da estreia Battalions of Fear (1988) até A Night at the Oper a (2002). Divergências relacionadas ao direcionamento musical do grupo, que estava caminhando para um som cada vez mais pomposo e grandiloquente, fizeram com que Thomen procurasse outro caminho. O Savage Circus, montado com o amigo Piet Sielck (Iron Savior), levou a carreira do baterista adiante, junto com participações em projetos como o Coldseed, de Björn Strid, vocalista do Soilwork. A mais recente empreitada de Stauch é o Mentalist, banda montada ao lado de Rob Lundgren (vocal), Peter Moog (guitarra), Kai Stringer (guitarra) e Florian Hertel (baixo). A Journey Into the Unknown é o segundo álbum do quinteto e foi lançado no Brasil pela Hellion Records em slipcase com pôster e encarte de dezesseis páginas trazendo as letras. Além disso, o CD conta com as participações espe...

Review: Vanilla Ninja – Encore (2021)

O Vanilla Ninja surgiu na Estônia em 2002 e encerrou suas atividades em 2008, período em que gravou quatro álbuns. Após um longo hiato, retornou em 2020 com nova formação e novo disco. Encore  foi lançado em 2021 e é o primeiro trabalho da banda em quinze anos, desde Love is War (2006). O CD foi lançado no Brasil pela Hellion Records em uma bela edição digipack de três faces, com direito a pôster e encarte de dezesseis páginas com fotos e todas as letras. O álbum vem com doze novas canções gravadas por Lenna Kuurmaa (vocal e guitarra), Piret Järvis (guitarra), Katrin Siska (teclado) e Triinu Kivilaan (baixo). Musicalmente, apesar de associada à cena hard e metal, o que ouvimos é um pop rock com guitarras e canções bastante acessíveis, e que não soariam estranhas em um disco de grandes nomes do pop como Demi Lovato e Miley Cyrus, por exemplo. A música de abertura,  “ Gotta Get It Right ” , deixa isso bem claro. O som é um pop rock na melhor definição do termo, sempre trazen...

Review: Machine Head – Of Kingdom and Crown (2022)

Ainda que o Machine Head se apegue em uma fórmula em seu novo álbum, ela é extremamente eficaz e foi desenvolvida pela própria banda. E essa característica é comum aos grandes nomes da música, diga-se de passagem: criar uma sonoridade original e conquistar o público através de suas próprias ideias. É o que ouvimos em Of Kingdom and Crown . Décimo álbum do grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Robb Flynn, o álbum marca um novo começo para o Machine Head. Sucessor do subestimado Catharsis (2018), que muitos não assimilaram bem devido às sempre presentes experimentações conduzidas por Flynn, o novo disco marca a estreia do guitarrista Waclaw “Vogg” Kieltyka (chefão do Decapitated, um dos nomes mais tradicionais do death metal polonês) e do baterista Matt Alston (ex-Sanctorum) – no entanto, a bateria foi gravada por Navene Koperweis, fenomenal instrumentista com passagem pelo Animals As Leaders e The Faceless. Vogg e Matt entraram nos lugares de Phil Demmel, que retornou ao Vio-le...

Discoteca Básica Bizz#212: Buy Joe Meek & The Blue Men - I Hear a New World (1960)

Num planeta distante, povos alienígenas marcham por terras cercadas por estranhos campos magnéticos e vales inóspitos. Eles chamam-se globbots e saroos, executam danças de acasalamento e cantam como gnomos. Assim era a vida fora da Terra na cabeça do excêntrico Joe Meek, que entrou para a história como um dos primeiros e mais inventivos produtores independentes do pop. Seu álbum  I Hear a New World: An Outer Space Music Fantasy  (1960) foi uma tentativa de recriar na música o universo da ficção científica. No fim dos anos 1950, pioneiros do space age pop  já andavam brincando com moogs e theremins. Mas enquanto esses davam um leve sabor espacial a clássicos do pop, Meek soava como um autêntico alien tocando em equipamentos de fabricação própria. Antes de entrar no ramo da música ele foi operador de radar da Força Aérea Britânica e passava o tempo livre coletando peças para criar engenhocas. Dali foi parar no IBC Studios, em Londres, onde trabalhou como engenheiro de som...

The White Lotus e o nosso papel no mundo

The White Lotus  é uma criação de Mike White, que também escreve e dirige todos os seis episódios, disponíveis na HBO Max. Citei White porque você certamente lembrará dele como o amigo fiel do personagem de Jack White em Escola do Rock . Lembrou, né? A série se passa em um hotel paradisíaco localizado no Havaí, onde ricaços de diversos pontos dos Estados Unidos passam suas férias. E o que acompanhamos nessa primeira temporada é justamente a chegada de uma turma de hóspedes e suas interações com a equipe do resort. O ponto é que Mike White constrói, a partir dessa premissa aparentemente simples, uma história que fala sobre diferenças sociais, o papel do ativismo na realidade de indivíduos que vivem em uma camada superior da sociedade e outros aspectos, tudo embalado por roteiros que, ainda que não escorreguem para o realismo fantástico de mestres da literatura como Gabriel García Márquez, entregam personagens pitorescos e tramas que arranham o absurdo. Ah, e tudo isso em uma lingu...