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Mostrando postagens de junho, 2021

Review: Angra – Angels Cry 30 Years Special Collector’s Edition (2021)

Angels Cry é um dos discos mais emblemáticos e importantes do heavy metal brasileiro. E toda essa história está sendo comemorada com uma edição especial de 30 anos – do Angra, não do disco. A banda foi formada em São Paulo em 1991 e lançou sua estreia dois anos depois. Angels Cry chegou às lojas em 3 de novembro de 1993 e mostrou que o quinteto, ao lado do Sepultura, era um representante exemplar de como o metal brasileiro tinha qualidade para conquistar fãs em todo o planeta. Em termos históricos, o primeiro álbum do Angra é, sem dúvida, o mais importantes e influente disco de power metal lançado no Brasil. Agregando influências nativas da ex-banda do vocalista Andre Matos (o Viper), dos estudos acadêmicos em música erudita e brasileira de Andre e do guitarrista Rafael Bittencourt e elementos que remetiam e bebiam de forma direta na escola do power metal alemão do Helloween, Angels Cry equilibra técnica, virtuosismo, melodia e acessibilidade em uma sonoridade cativante, que perma...

Quadrinhos: Green River Killer, de Jeff Jensen e Jonathan Case (2021, Darkside Books)

Em um país pródigo em produzir assassinos em série, Gary Ridgway conseguiu a proeza de ser um dos maiores. Conhecido como The Green River Killer, Gary matou 49 mulheres entre 1982 e 1998, ainda que tenha confessado um total de 71 assassinatos em um acordo com a justiça norte-americana. Esses números fazem de Ridgway o segundo serial killer mais prolífico dos Estados Unidos, atrás apenas de Samuel Little, cujo número de vítimas estimadas supera 90 mulheres. Green River Killer: A Longa Caçada a um Psicopata  traz a história em formado de quadrinhos e é um lançamento nacional da Darkside Books. O HQ foi escrita por Jeff Jensen (roteirista de Tomorrowland e da série Watchmen ) como forma de homenagear seu pai, Tom Jensen, que durante mais de trinta anos trabalhou ativamente como investigador e policial do caso. Por esse motivo, o roteiro foca menos na figura de Ridgway e seus motivos para fazer o que fez e mais na figura de Tom como policial e pai. A narrativa é bastante ágil e f...

Review: Helloween – Helloween (2021)

A reunião do Helloween com Michael Kiske e Kai Hansen, que resultou na transformação da lendária banda alemã em um septeto, é uma das grandes histórias recentes do metal. Shows lotados e emocionantes pelo mundo geraram o ótimo triplo ao vivo United Live in Madrid (2019), que documentou para a posteridade a comoção dos fãs e a ótima performance do grupo em cima dos palcos. Faltava o próximo passo: entrar em estúdio e registrar um novo álbum. Agora não falta mais. Helloween , o disco, é o primeiro trabalho dos alemães em seis anos – desde My God-Given Right (2015) -, o primeiro com Kiske desde o controverso Chameleon (1993) e o retorno de Hansen, que não tocava em estúdio com a banda que criou desde o clássico Keeper of the Seven Keys Part II (1988). Pra não dizer que essa formação não havia registrado nada ainda em estúdio, vale citar o single "Pumpkins United", lançado em 2017. O disco foi produzido pela dupla Charlie Bauerfeind (Angra, Blind Guardian, Saxon) e Dennis...

Review: Blackberry Smoke – You Hear Georgia (2021)

Tem um monte de gente dizendo que o rock morreu. Toda uma turma afirmando que o estilo não possui nada de bom e interessante hoje em dia. Sinceramente, dá pena desse povo. Uma geração de bandas ótimas está conduzindo o gênero no século 21 lado a lado com os nomes clássicos, e é formada por artistas incríveis como Rival Sons, The Pretty Reckless, Blues Pills, Lucifer, Marcus King, Graveyard e mais um monte de gente. Só não percebe isso quem é surdo ou desinformado. Ou pior: quem é teimoso e cabeça dura pra admitir que a música de qualidade segue sendo produzida dentro do rock e que a relevância do estilo não está ligada a uma guerra de gerações. Dentro de todo esse contexto, o Blackberry Smoke é um dos melhores exemplos pra mostrar para aquele seu amigo jurássico que vive enclausurado na caverna setentista. A banda norte-americana, formada em Atlanta em 2000, possui uma discografia irretocável e que chega ao seu sétimo capítulo com You Hear Georgia . Lançado em 28 de maio, o álbum é o...

Raridades do Black Sabbath | Parte 5 – Edições Deluxe e Super Deluxe da era Ozzy Osbourne

Faixas bônus ou raridades do Black Sabbath em reedições do catálogo pareciam não ser uma prioridade nos lançamentos da banda. As únicas opções sempre foram comprar singles com versões editadas ou diferentes ao vivo, normalmente importados, ou então pagar ainda mais caro pelos vários bootlegs lançados ao longo dos anos. Mas, em 2009 a Sanctuary (Universal) surpreendeu os colecionadores com uma sequência de lançamentos da banda com muito material inédito, outtakes, b-sides, etc. Esses discos tem uma luva transparente que protege o digipack e deixa as embalagens muito bonitas, além de encartes e material gráfico muito caprichados. O primeiro lançamento foi uma versão tripla de Paranoid contendo o disco original, um DVD 5.1 com a mixagem quadrafônica do álbum, além de um terceiro disco com todas as músicas em versões alternativas. Algumas faixas sem o canal de voz, outras com letras ligeiramente diferentes, material muito celebrado pelos fãs. A experiência com o DVD áudio em um home t...

Livro: Cannibal Corpse – Bíblia da Carnificina, de Joel McIver (2020, Estética Torta)

O Cannibal Corpse é uma das bandas mais influentes do death metal e também um dos nomes essenciais do que viria a se tornar o grindcore. Com um som extremamente pesado e violento, cuja atmosfera é intensificada por letras perturbadoras e explícitas, a banda natural de Buffalo, Nova York, conquistou admiradores e impactou o metal de maneira intensa em seus mais de trinta anos de história. Bíblia da Carnificina , livro escrito por Joel McIver, destrincha toda essa trajetória. Autor de diversas outras obras sobre ícones da música pesada (como Cliff Burton, Slayer e Black Sabbath, por exemplo), o jornalista e autor britânico trabalhou com a banda em sua biografia oficial, que lança luz sobre as inspirações e ideias por trás da abordagem do Cannibal Corpse. O livro tem como espinha dorsal entrevistas feitas com os músicos na época do lançamento do álbum A Skeletal Domain (2014). Cada capítulo é dedicado a um dos integrantes   - na época, o grupo ainda contava com o guitarrista Pat ...

Review: Gojira – Fortitude (2021)

O Gojira chega ao seu sétimo álbum fazendo o que sempre fez: olhando para frente e buscando sempre a evolução. Após cinco longos anos de silêncio, onde a banda francesa passou pelo luto da perda da mãe dos irmãos Duplantier, o quarteto retorna para dar fim ao maior intervalo entre seus discos.  Produzido pelo próprio Joe Duplantier (vocal e guitarra), que também criou a bela capa, Fortitude foi mixado por Andy Wallace, uma lenda na cena metal e que já assinou trabalhos de nomes como Slayer, Sepultura, Ghost e mais um caminhão de bandas. Fortitude soa mais enxuto que os trabalhos anteriores, e mostra uma banda que claramente buscou aparar alguns aspectos de sua sonoridade, porém sendo inteligente o suficiente para não abrir mão da eficiência de sua música. Isso fica claro em canções como “Born For One Thing”, “Amazonia” e “Hold On”. Sai o metal com elementos prog, death e post-metal, e em seu lugar emerge um heavy metal contemporâneo que mantém a alta dose de groove, mas com uma...

Os 20 anos de Toxicity, o clássico absoluto do System of a Down

Lançado em 2001, o clássico inconteste dos armênio-americanos do System of a Down completa duas décadas neste ano e é preciso celebrar (de preferência ouvindo o álbum com volume no talo pra irritar aquele seu vizinho proto-fascista). Mas é importante contextualizar o lançamento e sinalizar o porquê de Toxicity ter se tornado não somente um marco na discografia da banda, mas no rock como um todo. O SOAD havia lançado seu debut homônimo três anos antes, em 1998, já com produção do experiente Rick Rubin (Beastie Boys, Red Hot Chili Peppers, Slayer) e trazendo o peso e a miscelânea de ritmos que iria caracterizá-los, porém ainda faltando alguma maturação no som, como era de se esperar numa estreia de um grupo tão arrojado. Tal mix de influências, ao passo que apresentava um interessante caldeirão sonoro, dificultava a rotulação por parte da imprensa especializada, sempre ávida por encaixar os artistas em prateleiras que acabam se tornando currais e atraindo fãs xiitas e conservadores....

Participações em outros canais

Fiz algumas participações em canais do YouTube de amigos, e elas estão reunidas neste post. Tem uma live muito legal com o pessoal de Floripa falando de colecionismo e mercado, duas collabs com o Tomar Uma onde abordamos as discografias do Deep Purple e do Judas Priest, e também o meu vídeo na “playlist da discórdia” do Rock-o-Motiva, onde falo dos piores discos que ouvi na vida. Assista abaixo, comente nos vídeos e inscreva-se nos canais parceiros:

Raridades do Black Sabbath | Parte 4 - Bootlegs das tours de Paranoid e Master of Reality

Existem vários bootlegs da tour do álbum Paranoid e uma boa parte deles sempre traz o mesmo conteúdo: a famosa gravação para TV de um excelente show chamado Paris 1970 . Mas é necessário fazer uma ressalva importante. Esse show, que foi até oficialmente utilizado no documentário The Black Sabbath Story Volume 1  creditado como Paris, 20 de dezembro de 1970, é na verdade uma gravação realizada em Bruxelas em 3 de outubro do mesmo ano. Há várias versões diferentes, inclusive algumas lançadas recentemente em DVD e CD em redes de lojas de departamento com preço muito acessível. A minha edição favorita é essa abaixo chamada War Pigs , lançada em 1991 pela gravadora italiana Great Dane Records. Em 2002 o Black Sabbath lançou oficialmente algumas faixas desse show na coletânea ao vivo Past Lives , e posteriormente em 2016 na caixa Paranoid Super Deluxe com as informações corretas de local de data, além de incluir outro famoso bootleg da banda, o show de Montreux, gravado em agosto d...

O coach de coleção

Já fiz mais de cem entrevistas com colecionadores de discos nesses quase 13 anos de Collectors Room, o que me proporcionou ter contato com as mais variadas coleções e os mais variados perfis de colecionadores. E, também, com os mais diversos comentários envolvendo esses acervos incríveis. Nesse tempo todo, vi surgir e crescer uma figura que você, que coleciona discos e frequenta fóruns e grupos de colecionadores, certamente já teve contato: o coach de coleção. Ou o sommelier de discos. Chame como quiser. O perfil é sempre igual: mesmo não perguntado sobre algo, ele faz questão de externar a sua opinião sobre tudo. De julgar e avaliar as coleções e os discos que são apresentados com orgulho por apaixonados pela música como a gente. E faz isso de cima de um pedestal, emitindo opiniões que, em sua cabeça, são verdades absolutas. Mas que, na prática, só reforçam um estereótipo caricato a respeito de quem coleciona discos. A experiência de vida, de ouvir discos, de comprar álbuns, de am...

Heavy metal: as regras infantis de um estilo consumido por quarentões

Escrevo sobre música desde 2005. E quando digo “música” estou falando, predominantemente, sobre heavy metal, este gênero que amo e consumo desde os meus 15 aos. Hoje estou com 48, então já são trinta e três anos inserido nesse universo. Uma das minhas maiores críticas ao metal é em relação ao público do metal. O estilo é maravilhoso, variado, plural, incrível e sem igual. Porém, seu público praticamente não possui nenhum desses adjetivos. O público de metal, aqui no Brasil, é predominantemente conservador em relação ao estilo que ouve, preconceituoso em relação a outras formas de música e infantil e limitado quando se trata de defender seus pontos de vista, com argumentos que beiram o ridículo. “ Não gostou dessa banda porque é pagodeiro ”. “ Achou o disco ruim, só pode ser funkeiro ”. “ Falou m ..., viado do caralho ”. Esses são apenas alguns argumentos que podem ser lidos facilmente em qualquer matéria ou vídeo que traga a mínima crítica a qualquer ídolo dessa nação de “metalêros”....