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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

Livro: Iron Maiden – Uma Jornada Através da História, de Lauro Meller (2018, Editora Appris)

Contando com um historiador na formação (Bruce Dickinson) e um compositor interessado por temas que vão muito além dos dragões, arco-íris e fantasias comuns com ao heavy metal (Steve Harris), o Iron Maiden gravou durante sua carreira dezenas de canções que exploraram temas líricos não tão óbvios aos associado ao metal. Músicas inspiradas na história humana (e também em filmes, livros e séries) estão espalhadas pela discografia da banda, formando uma gama de assuntos ampla e que ajuda muito a abrir os horizontes de quem tem interesse pelo que os músicos estão falando. Esse é o tema do livro Iron Maiden: Uma Jornada Através da História (124 páginas, Editora Appris), do escritor e pesquisador Lauro Meller. Meller se ateve, como o título antecipa, às canções do Maiden que trazem temas históricos, e após uma seleção prévia analisou dezoito faixas: “Quest for Fire”, “Powerslave”, “Alexander the Great”, “Invaders”, “Montsegur”, “The Clansman”, “Hallowed Be Thy Name”, “The Alchemist”, “Sun ...

Review: Whitesnake – Live ... in the Heart of the City (1980)

Primeiro álbum ao vivo do Whitesnake, Live ... in the Heart of the City foi lançado em 3 de novembro de 1980. Na discografia da banda britânica, ele sucede os três primeiros trabalhos de estúdio – Trouble (1978), Lovehunter (1979) e Ready an' Willing (1980) – e traz o grupo como um sexteto formado por David Coverdale, pelos guitarristas Mickky Moody e Bernie Marsden, pelo baixista Neil Murray e pelos parceiros de Coverdale no Deep Purple, o tecladista Jon Lord e o baterista Ian Paice. A produção é do lendário Martin Birch. O tracklist apresenta treze faixas gravadas em dois períodos diferentes:   nos dias 23 e 24 de junho de 1980 no Hammersmith Odeon, em Londres, e em vários shows da turnê de 1978. As canções registradas em 1978 foram lançadas exclusivamente no Japão em um EP chamado Live at Hammersmith , e acabaram sendo incluídas no álbum. Há ainda uma faixa bônus, a versão em estúdio para “Ain't No Love in the Heart of the City”, vinda de Snakebite , álbum lançado em ...

Review: AC/DC – Stiff Upper Lip (2000)

O AC/DC adentrou século XXI com um retorno às raízes. Vinda do pesado Ballbreaker (1995, produzido por Rick Rubin) e do enorme sucesso de The Razors Edge (1990) – um dos álbuns mais vendidos do quinteto e que apresentou o som do grupo para a geração dos anos 1990 com hits do porte de “Thunderstruck” e “Money Talks” -, a banda dos irmãos Young olhou para passado e entregou o disco mais blues de sua carreira. Stiff Upper Lip é sujo, sacana, sexy e repleto de feeling. Décimo-quarto álbum do grupo, chegou às lojas em 28 de fevereiro de 2000 e teve a produção assinada por George Young, irmão mais velho de Angus e Malcolm. A ideia era retomar a parceria com Bruce Fairbairn, que com quem trabalharam em The Razors Edge e no duplo ao vivo Live (1992), mas o produtor faleceu em maio de 1999 enquanto gravava o álbum The Ladder , do Yes. As composições presentes em Stiff Upper Lip começaram a ser trabalhadas três anos antes, no verão de 1997, com Angus assumindo a bateria e Malcolm despej...

Classicando: uma breve introdução à música erudita

O termo Música Clássica (ou Música Erudita) é utilizado para cobrir uma ampla gama de música que se originou na Europa por volta do ano 500 D.C., incluindo a Música Clássica Medieval, Música Renascentista, Música Barroca, Período Clássico, Romantismo e as eras Clássicas Modernas. Compositores notáveis ​​no gênero incluem Pérotin, Machaut, Palestrina, Händel, Bach, Haydn, Mozart, Beethoven, Brahms, Debussy, Schönberg, Stravinsky, Cage e Reich. Embora haja exceções, a Música Clássica Ocidental pode ser caracterizada por seu sistema tonal e linguagem harmônica, sistema de afinação dodecafônica, sistema de notação fixo, formas musicais padrão e instrumentação. Quando comparada amplamente a outras tradições musicais, a Música Clássica Ocidental tende a colocar mais ênfase na harmonia e menos no ritmo, e se baseia mais na performance fixa do que na improvisação. O gênero mudou radicalmente com o tempo, e duas peças escolhidas em períodos diferentes podem soar muito diferentes. No entanto...

5 razões pelas quais os CDs precisam retornar (e não devem morrer)

Os CDs nasceram em 1982 de um esforço colaborativo entre a Philips e a Sony. A intenção era apresentar uma nova forma de ouvir música, e o Disco Compacto de Áudio Digital impressionou e dominou o mercado por mais de duas décadas. No entanto, a popularidade dos CDs tem diminuído constantemente desde a década de 2000, quando dispositivos como o iPod, aplicativos de streaming como o Napster e muitas outras plataformas de mídia digital ficaram a alcance dos ouvintes. Hoje, as vendas de CDs são apenas 10% do que eram no final dos anos 1990, de acordo com a Recording Industry Association of America. Como qualquer outra forma de tecnologia, a maneira como a música é entregue ao público simplesmente evoluiu. Essa evolução mudou de maneira profunda a relação entre o artista e seus fãs. Os serviços de streaming hoje respondem por mais de 85% do consumo de música nos Estados Unidos, maior mercado fonográfico do planeta. Abaixo estão cinco grandes razões que explicam porque os CDs não devem mo...

Quadrinhos: A Bruxa Margaret, de Jim Broadbent e Dix (2020, Darkside Books)

Um dos artistas mais importante da pintura renascentista, o pintor holandês Pieter Bruegel produziu o quadro Dulle Griet em 1563. O título pode ser traduzido como Mulher Louca e a obra tem como destaque a personagem principal se dirigindo à porta do inferno com uma armadura. Repleto de lendas, o quadro fascinou o ator britânico Jim Broadbent (de Harry Potter e Game of Thrones ), que em parceria com o ilustrador inglês Dix adaptou a obra para uma HQ. A Bruxa Margaret (144 páginas, capa dura) é um quadrinho poderoso e sombrio, desconfortável em diversos momentos, e que consegue transportar a mística da obra de Bruegel para os leitores. A arte de Dix é perturbadora e assustadora, com uso de tons cinzas e escuros, além de traços disformes para construir os personagens. Já a narrativa de Broadbent é econômica, com um roteiro de palavras que quase parece um poema que ganha novos versos a cada virada de página. O resultado é uma HQ que não é para todo mundo, mas todo mundo que se avent...

Review: The Pretty Reckless – Death by Rock and Roll (2021)

O The Pretty Reckless tem uma história interessante. A banda surgiu em 2009 tendo a vocalista Taylor Momsen como figura central. Até aí tudo bem, com exceção de um pequeno detalhe: ex-modelo e atriz, Taylor ficou conhecida em todo o mundo ao interpretar a personagem Jenny Humphrey em Gossip Girls , uma das séries mais populares entre o final dos anos 2000 e o início da década de 2010. Superando a desconfiança inicial do público, o The Pretty Reckless construiu uma carreira excelente e que chega a um novo nível com Death by Rock and Roll , quarto disco do grupo. O som segue a mesma pegada dos trabalhos anteriores – um hard rock pesado calcado em ótimos riffs e na voz de Taylor -, mas aqui ganha um clima mais sombrio, talvez reflexo da pandemia que ainda vivemos. As doze faixas formam um tracklist sólido e que traz participações especiais da dupla do Soundgarden Kim Thayil e Matt Cameron (também baterista do Pearl Jam) em “Only Love Can Save Me Now”, e de Tom Morello em “And So I Went...

Livro: Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal, de Eliel Vieira e Luis Aizcorbe (2020, Estética Torta)

A história do heavy metal brasileiro ainda está sendo escrita. Todas as horas. Todos os dias. Agora mesmo. Porém, ela é pouco documentada. Existem poucos livros e documentários contando a trajetória do gênero no Brasil. Esse é só um dos pontos que faz da obra que conta a vida de Andre Matos um item essencial para qualquer pessoa que queira entender os caminhos que o metal trilhou nesse nosso imenso país tropical. Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal , escrito por Eliel Vieira e Luis Aizcorbe (476 páginas, capa dura) é um livro esplêndido em todos os aspectos. A concepção gráfica e o cuidado da editora Estética Torta já impressionam positivamente o leitor ao ter a obra em mãos. O livro vem com uma luva protetora em acetato onde estão impressos o títulos da capa e lombada, além das informações da contracapa. Isso faz com que, ao retirar essa proteção, tenhamos apenas a bela foto de Andre e toda a direção de arte do material intocada. A obra cobre toda a vida de Andre, do nascimento...

Playlist: Andre Matos

Andre Matos nos deixou em 8 de junho de 2019, de maneira súbita. Sua morte foi extremamente dolorosa para os fãs, pois não havia indício algum de que algo assim poderia acontecer. Passados quase dois anos, sua presença ainda é sentida e suas músicas seguem tocando corações em todo o mundo. Como homenagem à maior lenda do metal brasileiro, abaixo está uma playlist com quase 70 faixas e mais de 6 horas de duração. Nela estão as canções mais marcantes da carreira do maestro, além de várias participações especiais em álbuns de outros artistas, tudo organizado em ordem cronológica. Algumas ausências notáveis, como o Virgo, aconteceram porque o álbum gravado ao lado do amigo Sasha Paeth em 2001 não está disponível nos serviços de streaming. Ouça, relembra, emocione-se e conheça a obra de Andre Matos. O metal, a música brasileira e a vida não são os mesmos sem ele.

Review: Slash’s Snakepit – It’s Five O’Clock Somewhere (1995)

Em outubro de 1996, Slash saiu do Guns N' Roses após anos de desavenças pessoais e profissionais com Axl Rose. Seu posto foi assumido por Robin Finck, guitarrista do Nine Inch Nails, e o Guns seguiu com inúmeros mudanças de formação até o retorno do cabeludo e seu chapéu, em 2015. O período de Slash fora do Guns foi muito produtivo e rendeu três bandas: o Slash's Snakepit (que gravou dois discos), o Velvet Revolver (que também lançou dois álbuns) e a parceria com Myles Kennedy & The Conspirators (que rendeu até agora três discos). E ainda temos o álbum solo que Slash lançou em 2010, repleto de participações especiais. Vamos falar aqui do primeiro de todos esses discos, lançado em 1995 quando ele ainda fazia parte do Guns N' Roses oficialmente: It's Five O'Clock Somewhere , estreia do Slash's Snakepit. A banda nasceu em 1994 como um projeto paralelo que contava com os companheiros de GNR Matt Sorum na bateria e Gilby Clarke na guitarra, além do vocalista ...

Review: Grand Funk Railroad - We´re an American Band (1973)

Entre todos os discos do Grand Funk Railroad, We're an American Band certamente é o que possui a sonoridade mais redonda. Não por acaso, serve como porta de entrada para o super trio – e também incrível quarteto – norte-americano. Sétimo álbum do grupo,  We're an American Band  foi lançado em 15 de julho de 1973. A produção, um dos destaques do disco, foi assinada por Todd Rundgren (que trabalharia com o GFR também no álbum seguinte, Shinin' On , de 1974), e traz uma mixagem espessa, com todos os instrumentos soando fortes e precisos. O som da guitarra de Mark Farner é bastante peculiar, e acaba sendo um atrativo a mais do trabalho. A capa é outro ponto de destaque. Pra começar, foi a primeira vez que a banda assinou apenas como Grand Funk, deixando o Railroad de lado, ainda que ele batize uma das canções mais marcantes do álbum, a ótima “The Railroad”. Outro ponto é que a edição original norte-americana, assim como a primeira edição do single da faixa-título, foram pr...

Review: Transatlantic – The Absolute Universe (2021)

Sete anos após seu último disco – Kaleidoscope (2014) -, o supergrupo Transatlantic recompensou os fãs com dois álbuns inéditos e mais de 2h30 de novas músicas. Um lançamento que pode parecer um tanto megalomaníaco e estranho nesse mundo em que vivemos, onde não só o consumo de música em mídia física foi reduzido a um nicho, como a duração dos álbuns atuais também diminuiu, variando entre 40 e 50 minutos. Bom, tudo isso faz sentido para uma parcela dos ouvintes atuais, mas perde a relevância quando falamos de alguns gêneros específicos. Um deles é o prog, onde o apego aos CDs, LPs e outros formatos ainda é forte, além de sempre ter sido um estilo que demanda um certo grau de exigência dos ouvintes para ser apreciado em sua plenitude. O rock progressivo e todas as suas variantes jamais foram uma música descartável, e o Transatlantic reafirma essa conclusão. Os dois novos álbuns do quarteto formado por Neal Morse (vocal, teclado e guitarra, Spock’s Beard, Flying Colors)), Roine Stol...

Review: Sepultura – Against (1998)

A implosão repentina do Sepultura em 1996 foi um choque para a cena do metal, tanto brasileira como mundial. O quarteto mineira era na época uma das mais populares e inovadoras bandas do mundo, havia lançado um disco incrível e pra lá de original – Roots , que saiu em 20 de fevereiro daquele ano – e tinha potencial para alcançar um público cada vez maior. Porém, uma briga séria entre o vocalista e guitarrista Max Cavalera e os demais integrantes deu fim a tudo isso. Após disputas judiciais e acusações mútuas através da imprensa, o grupo testou diversos vocalistas (entre eles Chuck Billy, do Testament) e escolheu Derrick Green, natural de Cleveland e com passagens por diversas bandas do underground norte-americano, como o seu novo vocalista. A estreia de Derrick aconteceu em Against , sétimo disco do Sepultura, lançado em 6 de outubro de 1998. O álbum foi produzido pela banda e por Howard Benson (Motörhead, Body Count, T.S.O.L.) e trouxe o quarteto apostando em uma nova sonoridade. ...

Review: Foo Fighters – Medicine at Midnight (2021)

Dependendo qual for a sua idade e o universo musical que cerca a sua vida, o Foo Fighters pode possuir o status de maior banda de rock do planeta. Muita gente pensa assim. Quem está na casa dos 30 e poucos anos tem a gangue de Dave Grohl na mais alta conta, e as razões para isso são facilmente identificáveis, afinal o cara se reinventou após o fim traumático do Nirvana, tornando-se uma estrela ainda maior. No meu mundo, a percepção já é diferente. Para mim, o Foo Fighters é uma banda que possui vários hits globais e um disco essencial: Wasting Light (2011). Gosto do grupo, mas algumas questões me incomodam, sendo a maior delas o irritante vocal gritado de Grohl em algumas canções.   Medicine at Midnight é o décimo álbum do Foo Fighters e foi lançado em 5 de fevereiro. O disco é o sucessor de Concrete and Gold (2017) e foi produzido por Greg Kurstin (Paul McCartney, Sia, P!nk) ao lado da própria banda. De cara e sem muito esforço, dá pra afirmar com certeza que trata-se do álbum...

Review: Vhäldemar – Straight to Hell (2020)

Nesse século tivemos a ascensão de uma avalanche de bandas trazendo novas sonoridades e elementos para o metal, o que revigorou o agora já quinquagenário e globalmente amado gênero musical, trazendo renovação para a cena e novos ouvintes. Em contrapartida, poucas bandas novas do que ao longo dos anos veio a ser chamado de "metal tradicional" tiveram destaque semelhante, deixando as referências desse estilo restritas a medalhões como Judas Priest, Accept, Saxon e, claro, Iron Maiden. Ainda assim, no início do século XXI veio da Espanha uma chama pela resistência do metal tradicional, mesclado com o lado mais rústico e pelo menos pra mim cativante do power metal, atendendo pela curiosa (e certamente imponente) alcunha de Vhäldemar. Após cinco lançamentos espaçados num período de 15 anos, os guerreiros bascos voltaram com o lançamento de Straight to Hell . Utilizaram a estratégia de lançar singles para divulgar o álbum, causando ansiedade nos fãs com o lançamento das excelente...

Review: The Troops of Doom – The Rise of Heresy (2020)

1987: integrante de uma das primeiras formações do Sepultura e presente no EP Bestial Devastation (1985) e no álbum Morbid Visions (1986), o guitarrista Jairo Guedz deixa a banda mineira e é substituído por Andreas Kisser. 2020: mais de trinta anos depois, Jairo retoma exatamente de onde parou e monta o The Troops of Doom ao lado do vocalista e baixista Alex Kafer (Enterro, Explicit Hate, Necromancer), do guitarrista Marcelo Vasco (Patria, Mysteriis) e do baterista Alexandre Oliveira (Southern Blacklist, Raising Conviction). É claro que Jairo não ficou sem fazer nada durante todo esse período. Ele foi um integrante fundamental e gravou diversos álbuns com o   The Mist e o Eminence, duas ótimas bandas, e também manteve contato e uma relação amistosa com os irmãos Cavalera. O The Troops of Doom nasceu da reunião de Guedz com Kafer em um show onde a dupla executou a clássica canção “Morbid Visions”. A experiência positiva motivou a formação da banda, que soltou seu primeiro EP em...

Review: Steven Wilson – The Future Bites (2021)

Steven Wilson afasta-se de vez do prog clássico em seu novo álbum. O líder, vocalista e guitarrista do Porcupine Tree explora um caminho totalmente novo em The Future Bites , sexto disco de sua carreira solo. The Future Bites segue a tendência de seu antecessor, To the Bone (2017), no sentido de explorar canções mais diretas e com um onipresente apelo pop. Wilson eleva essa característica ao extremo no novo álbum, com a maioria das novas faixas variando entre dois e quatro minutos de duração. O resultado é o trabalho mais curto de sua carreira. O que chamará a atenção dos fãs mais ortodoxos e provavelmente gerará críticas é o uso de uma instrumentação pouco convencional para um artista como Steven, profundamente identificado com o universo do rock progressivo. O disco traz poucas guitarras, suas batidas são predominantemente eletrônicas, camas de teclados estão em todo o lugar. Os vocais criam harmonias e arranjos, muitas vezes com o uso de vozes dobradas tanto de Wilson quanto d...