Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2019

Review: Baroness - Yellow & Green (2012)

Yellow & Green   é  o melhor e mais importante álbum do Baroness. A virada de chave da banda norte-americana. Pretencioso até a alma e bom até dizer chega, o terceiro trabalho do grupo - um CD duplo com 18 faixas - mostra o quarteto investindo em uma sonoridade mais ampla, muito além do sludge com elementos progressivos dos trabalhos anteriores,  Red Album  (2007) e  Blue Record  (2009). John Baizley (vocal e guitarra), Peter Adams (guitarra), Matt Maggioni (baixo) e Allen Bickle (bateria) deram um passo decisivo em  Yellow & Green . Se antes a banda já era um dos mais cultuados nomes do metal ianque, aqui o Baroness extrapola e quebra barreiras, tanto estilíscas quanto de público. Produzido por John Congleton (Modest Mouse, Okkervil River, The Polyphonic Spree),  Yellow & Green  é um trabalho repleto de detalhes. Pesado, psicodélico, atmosférico e experimental, tudo ao mesmo tempo, o disco coloca os holofotes da...

Cordillera aposta na pluralidade musical em "Black Sea"

A explosão de sonoridades apresentada ano passado em Ruptura , o primeiro disco da banda campineira Cordillera, continua de forma ainda mais vívida neste novo momento com o lançamento do single "Black Sea". A música, que surgiu em abril em forma de videoclipe, agora chega às plataformas de streaming. Ouça aqui: https://spoti.fi/2JQXAmO .  A Cordillera tem vontade de mostrar que o rock pode ser contemporâneo de novo. O som da banda - e de "Black Sea" - é rico em camadas e retrogostos, descreve desenhos e suspensões, cortes secos e arranhões, e, apesar de refinado no trato, procura arrepios e veias estufadas nos seus ouvintes. Uma ótima pedida para fãs de Steven Wilson, por exemplo.  "Black Sea" também marca uma nova expressão da Cordillera por meio de cores. A banda de desvincula da estética preto e branca que marcou Ruptura e aposta na pluralidade das tintas, que de certa forma, se pender para analogias, é sentida na musicalidade mais abert...

Review: Elomar - ... Das Barrancas do Rio Gavião (1972)

Elomar Figueira Mello gravou seu primeiro álbum aos trinta e poucos anos, em 1972, um pouco tarde para um artista, mas no tempo ideal de maturação para um cantador. Ele nunca fez questão dos palcos, pelo contrário, sempre preferiu a pacatez da sua fazenda no semiárido baiano, tangendo caprinos e compondo sob a luz das estrelas. Este álbum é fruto desse meio, um choque reacionário pós-tropicalista. Na contramão de outros baianos que desde os anos 1960 modernizavam a música brasileira, Elomar apresenta uma cultura popular em sua essência, pois não compõe para as massas. Sua música é reflexo da vida no sertão e seus habitantes: o jagunço, o vaqueiro, o capiau e, especialmente, o violeiro que canta versos sobre todos os anteriores. Gravado apenas com voz e violão, ... Das Barrancas do Rio Gavião  traz uma coleção de cantigas, incelenças e martelos que pintam paisagens extraídas dos livros de Guimarães Rosa, um sertão cheio de vida, com costumes e dialeto próprios, sinte...

Review: Paladin – Ascension (2019)

Ascension , disco de estreia da banda norte-americana Paladin, foi lançado em meados de maio. E se você é fã de heavy metal, é bom dar uma parada e conferir o trabalho do quarteto formado por Taylor Washington (vocal e guitarra), Alex Parra (guitarra), Ian Flürrance (vocal e baixo) e Nathan McKinney (bateria). O motivo para isso é simples. A banda pega características do que de melhor o metal produziu nas últimas décadas – elementos da NWOBHM, a melodia do power metal e a rifferama do thrash, além da energia, agressividade e peso inerentes ao próprio gênero -, coloca tudo em um mesmo caldeirão e sai com uma sonoridade cativante, cheia de personalidade e com potencial para conquistar legiões de fãs. Ascension é apenas o primeiro disco dos caras, traz onze músicas espalhadas por cinquenta minutos e é desde já um dos grandes eventos do universo do metal em 2019. A voz de Washington varia entre os tons altos a la Michael Kiske e a dramaticidade de Fabio Lione – aliás, o tim...

Review: Paul McCartney – Ram (1971)

Quando um relacionamento acaba muita coisa vem à tona, e o mesmo acontece quando uma banda encerra as suas atividades ou muda de formação. Agora, imagine o que acontece quando uma banda que era praticamente uma família desmorona. Foi isso o que aconteceu com os Beatles. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr viveram juntos durante praticamente toda a década de 1960, do suado início até o sucesso e super estrelato, passando por muitas loucuras juntos, para bem e para o mal. Quando a banda acabou, uma série de rancores ganhou a luz do dia, resultando em acusações diretas e indiretas além de uma longa batalha nos tribunais pelos direitos do legado do grupo. A ruptura mais visível aconteceu entre Lennon e McCartney, responsáveis pela maioria esmagadora das composições e ideias de discos, filmes e tudo mais. Quando Paul gravou o álbum Ram , a quantidade de alfinetadas do baixista destinadas a Lennon e sua esposa Yoko Ono foram tantas que acabaram ajudando ...

Livro: Rock Raro – O Maravilhoso e Desconhecido Mundo do Rock, de Wagner Xavier (2010, Livre Expressão)

O período entre a segunda metade dos anos 1960 e a primeira da década de 1970 foi especialmente prolífica no surgimento de novas bandas. A juventude havia encontrado a sua voz, e ela estava no rock. O estouro de nomes como Beatles, Rolling Stones, Beach Boys, The Who e outros provocou uma mudança profunda nas sociedades britânica, americana e mundial: ao invés de aspirar uma carreira militar ou em uma empresa sólida, agora os jovens tinham o sonho de montar uma banda e conquistar o mundo. Isso fez com que um sem número de novos grupos fossem formados e gravassem ao menos um disco. A imensa maioria não teve o mesmo sucesso dos já citados Beatles e Stones, e acabou ficando pelo caminho. E é justamente sobre essas bandas que está o foco do livro  Rock Raro - O Maravilhoso e Desconhecido Mundo do Rock , do colecionador e pesquisador Wagner Xavier. Escrito por Wagner com o auxílio do também pesquisador João Carlos Roberto, Rock Raro é uma obra única na literatura ...

Jornalismo musical: um papo com Igor Miranda

O jornalismo musical passou por grandes transformações nos últimos anos. Foi-se o tempo em que as revistas especializadas eram a referência praticamente exclusiva no assunto, ditando tendências e com um poder quase divino de dizer o que era bom ou não. Já há alguns anos, o jornalismo sobre música encontrou uma nova plataforma na internet, seja através de blogs, sites, perfis em redes sociais ou canais no YouTube, produzidos por consumidores de música que acabaram se tornando uma espécie de influenciadores sobre o tema. Alguns críticos mais veteranos perceberam a mudança da maré e também atualizaram a forma de se comunicar com o público, indo muito além do papel e mergulhando no digital. Hoje, a crítica musical é dividida com os consumidores. Qualquer pessoa ouve um álbum e emite uma opinião, e muitas vezes essa manifestação espontânea acaba ganhando mais relevância do que um texto mais longo, cheio de referências e coisas do tipo. Para conversamos e pensarmos sobre tod...

Discoteca Básica Bizz# 171: Solomon Burke - The Very Best Of (1998)

Não existe, na história da música pop, biografia mais curiosa. Pregador desde os 7 anos de idade e líder de uma igreja, The House of God for All People. Agente funerário e proprietário de uma rede de farmácias, restaurantes e serviços de limusines. Pai de 21 filhos, avô de 14 netos e um dos principais cantores e pioneiros da soul music. Menos conhecido que Ray Charles e Sam Cooke, mas de igual importância para a definição do gênero. Essa breve descrição está longe de traçar o retrato completo de Solomon Burke. O melhor livro escrito sobre o pop negro americano -  Sweet Soul Music , de Peter Guralnick - gasta dezenas de páginas só com as inacreditáveis histórias vividas pelo Bispo, como o chamavam colegas e fãs. Burke começou a gravar, ainda adolescente, em 1954, mas abandonou a música dois anos depois, desiludido. Passou um tempo na vagabundagem, mas voltou a estudar e iniciou uma bem sucedida carreira empresarial. Voltou a cantar por insistência do dono do selo...

Review: Stereo Nasty – Nasty by Nature (2015)

Natural da Irlanda, este quarteto vem ganhando força entre os fãs de metal tradicional com acentuado sabor oitentista. O Stereo Nasty conta com Mick Mahon (vocal), Adrian Foley (guitarra), Rud Holohan (baixo) e Fran Moran (bateria), e apesar de ser uma banda relativamente nova, não traz nenhum elemento contemporâneo em sua sonoridade. O negócio aqui é o metal dos anos 1980, tanto musical quanto esteticamente. Nasty by Nature , estreia dos caras, saiu lá fora em 2015 e acaba de chegar ao Brasil pelas mãos sempre competentes da Hellion Records. O disco traz dez músicas feitas com um único objetivo: trazer de volta a aura da década mais clássica do metal. Isso se dá tanto pela estrutura das canções quanto pela própria produção do álbum, que soa propositalmente datado e com timbres cortantes que espetam os ouvidos. Evidentemente, um grupo com uma proposta tão saudosista como o Stereo Nasty não tem a originalidade entre as suas maiores prioridades. Apesar disso, os caras sabe...

Livro: Eddie Trunk’s Essential Hard Rock and Heavy Metal (2011, Abrams Image)

Depois de anos apenas sonhando, você finalmente conseguiu tornar realidade aquela tão almejada viagem de férias para Nova York. Agora você está na capital do mundo, curtindo os inúmeros atrativos que a cidade oferece. Em um dia de folga na programação, resolve ir no boteco que fica na esquina do seu hotel beber alguma coisa. Chegando lá, escolhe uma mesa no canto, tira a sua jaqueta e deixa à mostra a camiseta do Kiss que está usando. Embalado pelo telão do lugar, que rola clipes clássicos de hard rock e heavy metal, pede mais uma cerveja, e mais uma, e mais uma. Quando percebe, você já está conversando animadamente com o gordinho da mesa ao lado, que também usa uma camiseta de rock - no caso, do Black Sabbath. A conversa flui, com histórias sobre música surgindo como água, até que, em um certo momento, você se apresenta para o cara, diz que é brasileiro e que está passando as férias em Manhattan. Seu novo amigo também faz o mesmo, conta que é natural de New Jersey e revela ...

Review: Night Beats – Myth of a Man (2019)

O Night Beats vem de Seattle. Mas esqueça tudo que você associa à cidade que foi berço do grunge. A banda foi formada em 2009 e sempre apostou em uma sonoridade com clima de garagem e contornos psicodélicos. Até chegar a este quarto disco, lançado em janeiro. Aqui, a coisa muda um pouco de figura. Myth of a Man é o sucessor de Who Sold My Generation (2016) e traz a mente criativa responsável pelo grupo, o vocalista e guitarrista Danny Rajan Billingsley (também conhecido como Lee Blackwell) apostando em uma sonoridade um tanto diferente dos trabalhos anteriores. Há uma presença maior de ingredientes vindos diretamente do rico vocabulário musical norte-americano, o que significa que aspectos de blues e country, principalmente, permeiam as dez músicas do disco. A abertura, com a sombria “Her Cold Cold Heart”, agrada de imediato, sensação essa que é intensificada com a faixa seguinte, “One Thing”, que soa como se o The Byrds acabasse de ser formado. “Stand With Me” foi feita pa...

Review: Marius Danielsen – Legend of Valley Doom Part 2 (2018)

Tobias Sammet não inventou a ópera-rock, isso deve ficar claro para todo mundo. A honra, provavelmente, recai sobre o The Who e a clássica Tommy (1969). Porém, o vocalista alemão pode ser apontado como o pai da metal ópera – se não foi o seu criador, inegavelmente o crédito por formatá-la e desenvolvê-la na era moderna do gênero é toda sua. Tudo que foi apresentado em The Metal Opera (2001), da estrutura narrativa à participação de vozes famosas, foi revisitado inúmeras vezes depois pelos mais variados artistas. Marius Danielsen é um desses caras influenciados por Tobias. O guitarrista da banda norueguesa Darkest Sins bebe diretamente nos primeiros trabalhos do Avantasia em sua própria metal ópera, Legend of Valley Doom. A primeira parte foi lançada em 2015, e a sua sequência, disponibilizada em 2018 na Europa, acaba chegar no Brasil pela Hellion Records. Legendo of Valley Doom Part 2 vem com treze músicas e conta com as participações especiais de nomes como Michael Kisk...

Por que você ouve música?

Recentemente, lancei uma pergunta tanto na página quanto no grupo da Collectors Room no Facebook: por que você ouve música? Só isso, mais nada. O objetivo era simples: tentar extrair das pessoas uma resposta instantânea sobre os motivos que nos levam a amar tanto essa arte sem igual que é a música. Selecionei as melhores respostas abaixo, e elas montam um painel de percepções pessoas e coletivas que tenta responder esse questionamento. Pra ficar vivo! Sem ela ia ser uma chatice sem fim. Ontem fiquei feliz porque consegui ouvir 3 discos inteiros! (risos) Tiago Rolim - São Bernardo do Campo (SP) Pra me sentir vivo. Música é a melhor das terapias, me dá energia e me faz melhor como indivíduo. Maurício Goulart - Goiânia (GO) Sem música a alma fica órfã. Rodrigo Vilela - Rio de Janeiro (RJ) Combustível da alma, faz parte do meu ser. Não me imagino sem música. Acho que é uma forma de encarar a vida mais leve. Lucas Martinelli - Orlândia (SP) Por prazer, pra...

Review: Osibisa - Woyaya (1971)

Vamos falar a verdade aqui: quantas vezes você, meu amigo e minha amiga, comprou um disco pela capa? Inúmeras, não é? E se a capa fosse cria de um gênio como Roger Dean então a compra era garantida, acertei? O mestre criou universos inacreditáveis e deu cor e vida a discos de gigantes como Yes e Uriah Heep, só para citar alguns exemplos. É, estamos no mesmo barco ... O ritual era colocar o disco na vitrola, sentar na poltrona e ficar apreciando os detalhes da arte enquanto a agulha passava pelas faixas. A imagem da capa ficava atrelada ao LP, era inevitável, e como o traço de Dean estava em diversos trabalhos incríveis (principalmente de rock progressivo), todo e qualquer álbum com o seu trabalho era como uma carta de recomendação para a banda. Escrevo tudo isso para justificar esta descoberta maravilhosa que é o Osibisa. Compre pela capa, fique pela música! O que temos é uma banda formado por quatro caras talentosos que vieram da África e se juntaram com outros três músicos...

Review: Rage – Reign of Fear (1986, reedição com CD bônus)

Lançado em maio de 1986, Reign of Fear é o primeiro álbum do Rage, uma das bandas mais icônicas e influentes do heavy metal alemão. O disco veio na sequência de Prayers of Steel , que saiu em 1985 quando o grupo ainda se chamava Avenger, e deu início a uma das mais prolíficas discografias do som pesado germânico. O CD acaba de ser relançado em uma edição dupla aqui no Brasil pela Hellion Records, que já havia realizado um trabalho semelhante com Prayers of Steel . O Rage na época era um quarteto, em contraste com a imagem que se formou no inconsciente coletivo metálico, onde o grupo é associado a um trio há pelo menos vinte anos. Na época a banda era formada por Peavy Wagner (vocal e baixo), Jochen Schröder (guitarra), Thomas Grüning (guitarra) e Jörg Michael (bateria, que mais tarde integraria o Grave Digger, Running Wild e o Stratovarius, além de diversas outras bandas). Produzido por Ralf Hubert e disponibilizado originalmente pela lendária gravadora Noise, Reign of Fea...