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Mostrando postagens de maio, 2023

Freedom: quando Neil Young voltou a ser Neil Young

Neil Young atravessou a década de 1980 de forma estranha, pra dizer o mínimo. Após escrever o seu nome na história do rock durante os anos 1970 com álbuns antológicos como Harvest (1972), Zuma (1975) e Rust Never Sleeps (1979), o músico canadense adentrou a nova década apostando em trabalhos mais experimentais e com novas abordagens sonoras. Teve eletrônica em Trans (1982), rockabilly em Everybody’s Rockin ’ (1983) e discos fraquíssimos como Landing on Water (1986), o que motivou a gravadora Geffen, casa de Young na época, a abrir um processo contra Neil por ele estar fazendo música “que não representava a si mesmo”. O vocalista e guitarrista retornou então para Reprise e colocou This Note’s For You nas lojas em 1988, que traz instrumentos de sopro como saxofone, trombone e trompete nos arranjos, o que deu um ar jazzístico para o trabalho. Ainda que um tanto inusitado, o álbum rendeu o primeiro hit de Neil Young na década, justamente a música que batiza o disco. As coisas só r...

Lindsey Buckingham, um artesão do pop rock

Quando Stevie Nicks e Lindsey Buckingham chegaram ao Fleetwood Mac, no início de 1975, o então casal tinha apenas um disco no currículo, Buckingham Nicks  (1973). Mas foi o suficiente para impressionar Mick Fleetwood, que imediatamente chamou Lindsey para assumir o posto de Bob Welch, que deixou o grupo em dezembro de 1974. O guitarrista, no entanto, bateu o pé e impôs uma condição: só aceitaria o convite se Stevie fosse junto.  O resto todo mundo sabe: com a chegada da dupla, o Fleetwood Mac mudou o seu som, empilhou hits e se transformou em uma das maiores bandas do rock, com direito a um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos no caminho – Rumours , lançado em fevereiro de 1977. O guitarrista logo se transformou não apenas em um dos grandes compositores do quinteto, como também realizou um trabalho meticuloso no estúdio, trabalhando de maneira quase obsessiva em arranjos e harmonias vocais, alcançando um resultado que  foi fundamental para o sucesso alcançado ...

Dando os primeiros passos na obra de Mozart, um gênio imortal da música

Mozart é, muito provavelmente, o nome mais conhecido quando falamos de música clássica, ou música erudita, como preferir. Nascido em 27 de janeiro de 1756 em Salzburg, na Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart foi o sétimo filho do casal Anna Marie Pertl e Leopold Mozart. Sua vida foi curta, falecendo precocemente aos 35 anos, em Vienna, em 5 de dezembro de 1791. Mas sua obra impactou de maneira definitiva a história da música, com uma longa influência que se estende até hoje. A oferta de itens relacionados à obra de Mozart é gigantesca – no Discogs estão cadastrados quase 19 mil títulos -, o que pode dificultar um pouco quem quer dar os primeiros passos em seu universo e, por consequência, no mundo da música clássica. Nesse caso, coleções temáticas são alternativas muito interessantes. Mozart foi o foco do primeiro volume da Coleção Folha de Música Clássica , que contou com 36 edições lançadas a partir de setembro de 2005. Cada um desses volumes é dedicado a um grande compositor, e o acab...

O passo a passo da transformação de Madonna em um ícone pop

Ao lado de Michael Jackson, Madonna é o maior nome da música pop. Sua carreira é superior a de Michael em alguns aspectos, como a longevidade e o número de álbuns excelentes no currículo. A sequência de cinco discos entre True Blue (1986) e Ray of Light (1998), que inclui obra aclamadas por crítica e público como Like a Prayer (1989), Erotica (1992) e Bedtime Stories (1994), supera o ápice criativo vivido por Jackson entre Off the Wall (1979), Thriller (1982) e Bad (1987) – com uma certa boa vontade, podemos incluir Dangerous (1991) nessa conta. Ambos também se transformaram em dois dos maiores ícones da era dos videoclipes, com a obra-prima “Thriller”, de Michael Jackson, sendo considerado com justiça o melhor e mais influente trabalho audiovisual da história da música. Porém, Madonna não fica muito atrás. O melhor da produção em vídeo de Madonna foi reunida em Celebration: The Video Collection . O material foi lançado junto com a compilação Celebration , terceiro great...

TNT e a construção da sonoridade do “rock gaúcho”

Com a explosão nacional de bandas como Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós e Garotos da Rua durante a década de 1980, rapidamente todas foram incluídas em uma mesma cena batizada, de forma apressada e sem muita criatividade, simplesmente como “rock gaúcho”. Não haviam muitas similaridades musicais entre os grupos integrantes dessa cena, como as influências prog do Engenheiros, o flerte com a música tradicionalista do Nenhum e o purismo rocker do Garotos deixaram claro álbum após álbum. Porém, apesar das óbvias diferenças, um tipo de som ficou cristalizado no senso comum como sendo o tal do “rock gaúcho”. E muito disso veio do TNT. Formado em Porto Alegre em 1984, o quarteto contou com Flávio Basso, o futuro Júpiter Maçã, em suas formações iniciais. No entanto, Basso logo deixou o grupo e formou os Cascavelletes ao lado do guitarrista Nei Van Sória. A formação clássica do TNT se estabilizou com Charles Master (vocal e baixo), Márcio Petracco (guitarra), Luis Henrique “Tchê” Gomes (gu...

MDNA: entre irregular e cativante, mas sempre Madonna

A impressão inicial ao ouvir MDNA é que trata-se de um álbum irregular, cujas canções funcionam muito melhor ao vivo do que nas versões presentes no álbum – o show da turnê, memorável e repleto de efeitos e coreografias, como convém à Madonna, reforça essa sensação ( assista ao concerto completo aqui ). Décimo álbum de Madonna, MDNA foi lançado em março de 2012 e traz uma sonoridade totalmente focada na música eletrônica. O fato da dupla italiana de DJs Alle e Benny Benassi, que são primos, participarem da produção e composição, acentua esse fato. É um trabalho pop em sua essência, e que veio cercado de expectativa por ser o o primeiro álbum de Madonna em quatro anos, desde Hard Candy (2008), e pela artista vir de uma sequência de trabalhos aclamados como Ray of Light (1998), Music (2000), American Life (2003) e Confessions on a Dance Floor (2006). Contando com doze faixas, MDNA abre de forma animadora com “Girl Gone Wild”, que deixa clara a pegada EDM do disco e possui um r...

Donnie Wahlberg: sucesso no New Kids on the Block e nas séries de TV

Donnie Wahlberg conquistou corações adolescentes no final dos anos 1980 e início da década de 1990 como um dos integrantes do New Kids on the Block, quinteto que foi um dos fundadores ao lado do irmão Mark (que logo saiu, assumiu o pseudônimo Marky Mark e hoje é um super astro do cinema). O grupo se transformou em um fenômeno de público durante o período, sendo um dos nomes pioneiros das boy bands. Donnie era o “bad boy” da turma, posando sempre com cara de poucos amigos e visual mais agressivo. Quem aqui não se lembra de “Step by Step”, provavelmente o maior hit do quinteto? Após o fim do New Kids on the Block, em 1994, Donnie Wahlberg se concentrou em sua carreira de ator. Ele apareceu em vários filmes e programas de televisão ao longo dos anos, e seus principais papeis incluem títulos de sucesso como O Sexto Sentido (1999), Apanhador de Sonhos (2003) e a série Jogos Mortais (a partir de 2005). Na televisão, estrelou séries como Band of Brothers (2001), Boomtown (2002-2003) e,...

Jonas Åkerlund: de baterista do Bathory a colaborador de Madonna

O que o black metal e a música pop têm em comum? Um dos principais pontos de conexão entre esses mundos tão opostos é o diretor sueco Jonas Åkerlund.  Nascido em 10 de novembro de 1965, Hans Uno Jonas Åkerlund tinha duas grandes paixões na adolescência: a música e o cinema.  A carreira musical de Jonas foi curta, porém marcante: ele foi o primeiro baterista do Bathory, banda sueca que é um dos nomes mais importantes do metal extremo, tendo influenciado profundamente a chamada primeira geração do black metal. A passagem pela banda do lendário Quorton foi curta e durou apenas um ano, entre 1983 e 1984. Na época o futuro diretor usava, como era padrão nas bandas de metal extremo, um pseudônimo: Vans McBurger. Além de Jonas e Quorton, a formação original do Bathory também contava com o primo de Åkerlund no baixo, Fredrick “Freddan” Hanoi. Além de alguns poucos shows realizados em Estocolmo, a formação original registrou apenas duas músicas em estúdio. Essas canções – “Sacrifice” e...

New age, cabala e misticismo: a reinvenção de Madonna em Ray of Light

A maternidade transformou Madonna. O nascimento de sua primeira filha, Lourdes Maria, em outubro de 1996, foi a realização de um sonho para a artista, e essa transformação se deu em todas as áreas de sua vida. O interesse pelo misticismo oriental e pela cabala surgiu nessa época e se refletiu no seu sétimo álbum, Ray of Light , lançado no final de fevereiro de 1998. O direcionamento musical do novo disco foi conduzido pela parceria de Madonna com o produtor inglês William Orbit, e o resultado foram canções que uniram a música eletrônica dançante que sempre marcou a carreira da artista com elementos de pop, rock, new age, música psicodélica e música oriental, em um caldeirão sonoro que é um dos mais complexos que a Rainha do Pop já deu ao mundo. A voz de Madonna soa mais grave e profunda, contrastando com o tom agudo do início de carreira, e as letras exploram temas místicos inspirados não só pela cabala, mas também pelo budismo, hinduísmo e yoga. Ray of Light , ao ser comparado com...

A perfeição pop de Confessions on a Dance Floor, de Madonna

Assim como acontece com todos os grandes nomes da música, ao olharmos para a discografia de Madonna temos a tendência a apontar os seus primeiros álbuns como os melhores. Mas um mergulho mais fundo mostra que não é bem assim. Com quatorze discos lançados entre 1983 e 2019, a artista norte-americana possui uma obra que manteve sua qualidade nesses quarenta anos de carreira. E Confessions on a Dance Floor é um dos melhores exemplos disso. Lançado em 9 de novembro de 2005, é o décimo álbum de Madonna e o sucessor da trilogia Ray of Light (1998), Music (2000) e American Life (2003), álbuns que, cada um a seu modo, revitalizaram a música da Rainha do Pop. Em Confessions on a Dance Floor , como o título e capa antecipam, Madonna entregou um disco voltado para as pistas de dança. Musicalmente, há uma enorme influência da disco music dos anos 1970, do eletropop da década de 1980 e da música eletrônica dos anos 2000, unidas de forma cirúrgica em doze faixas. Trabalhando com o produtor ingl...

Music, o mergulho de Madonna no experimentalismo eletrônico

Madonna reinventou sua carreira com Ray of Light (1998), após sobreviver à década de 1990, onde o rock alternativo dominou as vendas. Os dois álbuns lançados nessa década pela Rainha do Pop são ótimos. Erotica (1992) trouxe o sexo para o centro da cultura pop, foi amparado pelo polêmico livro SEX e é um dos trabalhos mais marcantes da artista. Bedtime Stories (1994) é um disco mais orgânico, com bastante baladas e o refinamento pop caracterísco, como mostraram "Human Nature" e "Bedtime Story".  Longe de serem considerados fracassos comerciais – Erotica vendeu 6 milhões e Bedtime Stories chegou a 8 milhões de cópias em todo o mundo -, tampouco chegaram perto dos números avassaladores dos álbuns anteriores, como os 15 milhões de discos vendidos por Like a Prayer (1989). Ray of Light corrigiu a rota ao apresentar uma artista renovada e inspirada pela prática da cabala, e que atualizou a sua música em uma parceria notável com o produtor William Orbit. O resultado...

Laura Branigan, uma das maiores vozes da década de 1980

Não lembro exatamente quando ouvi “Self Control” pela primeira vez, mas sei que foi na minha adolescência. Ou seja, em meados dos anos 1980, e certamente em uma estação de rádio, que era como conhecíamos novos artistas naquela época. Hoje, sei que a música tem o mesmo título do terceiro álbum da cantora norte-americana Laura Branigan, que chegou às lojas em abril de 1984. É uma das músicas da minha vida, e escrevo isso porque finalmente consegui ter esse material em mídia física. Infelizmente, não estou me referindo ao álbum de 1984, mas sim à coletânea The Very Best of Laura Branigan , lançada em novembro de 1992. Encontrei o CD jogado entre um monte de outros itens, dos mais variados artistas e gêneros musicais, em um dos sebos que frequento aqui em Florianópolis. Tirando a sujeira, que foi devidamente limpa quanto o trouxe para casa, o item está perfeito, e trata-se de uma edição francesa lançada naquele mesmo ano na Europa. No fim das contas, é até melhor que seja assim, afinal ...

O Bruce Dickinson que não é aquele Bruce Dickinson

Quem lê com atenção os créditos do álbum No More Tears , de Ozzy Osbourne, se surpreenderá com Bruce Dickinson sendo creditado como produtor executivo. Seu nome aparece também nos créditos de discos de artistas como Cheap Trick, Nina Hagen, The Outfield, Men At Work, Ted Nugent, Peter Tosh, The Clash, Soul Asylum, Cyndi Lauper, Toto, Blue Öyster Cult, Jeff Beck, Patti Smith e muitos outros. Quer dizer então que, não satisfeito em ser vocalista do Iron Maiden, piloto de avião, escritor, palestrante e exercer inúmeras outras atividades, Bruce também colaborou com todos esses artistas? A resposta é sim, e também não. Bruce Dickinson trabalhou com todos os nomes citados, mas não o Bruce Dickinson que conhecemos. Existe um outro Bruce Dickinson com um longo currículo na indústria musical, homônimo ao frontman do Iron Maiden. Ele foi um executivo da Columbia Records, exerceu o cargo de Vice-Presidente de A&R da MCA entre 1988 e 1993 e, a partir de 1995, foi produtor da Sony Music. Atua...

Pretensão, técnica e grandiosidade: Extreme e os três lados de um grande álbum

Um grande hit é uma benção, mas também uma maldição. Veja o caso do Extreme: a banda norte-americana ficou conhecida em todo o planeta com “More Than Words”, balada acústica presente em seu segundo álbum, Pornograffitti , lançado em 1990. Mas “More Than Words” era um peixe fora d’água na sonoridade do quarteto. O que o Extreme fazia era um hard extremamente técnico e com elementos de funk, e que, pela capacidade dos músicos, muitas vezes se aproximava até mesmo do prog metal. O disco seguinte, III Sides to Every Story , deixou isso claro pra quem ainda não havia entendido. O álbum chegou às lojas em 14 de setembro de 1992 cercado de expectativa, afinal a banda tinha a responsabilidade de dar sequência a um hit planetário. E, claro, não conseguiu. III Sides to Every Story é um excelente disco, considerado pela maioria dos fãs o melhor trabalho do Extreme, mas não tem uma nova “More Than Words”. Isso pode ter sido decepcionante na época, mas os anos fizeram justiça ao álbum e ele enve...

BBM: o Cream com Gary Moore no lugar de Eric Clapton

Em 1993, Jack Bruce comemorou 50 anos. Uma das comemorações, além do excelente Somethin Els , um dos seus melhores trabalhos solo e que chegou às lojas em fevereiro daquele ano com a participação mais do que especial de Eric Clapton, foi o reencontro com outro colega do Cream. Bruce tocou com Ginger Baker e outros convidados especiais em dois shows na cidade alemã de Koln nos dias 2 e 3 de novembro, comemorando o seu cinquentenário junto com os fãs em um evento promovido pelo programa Rockpalast. Os melhores momentos dessas apresentações foram reunidas no duplo ao vivo Cities of the Heart , que chegou às lojas em março de 1994.  Um desses convidados foi Gary Moore. O guitarrista irlandês já havia colaborado com Jack Bruce em Corridors of Power (1982), seu segundo álbum solo. Agora, a química não só com Bruce, mas também com Ginger Baker, inspirou o trio, que decidiu se reunir no BBM, supergrupo batizado com a primeira letra dos sobrenomes de cada um dos integrantes. Infelizm...