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Mostrando postagens de junho, 2025

Bruce Dickinson em Balls to Picasso (1994): liberdade, transição e identidade artística

Após deixar o Iron Maiden em 1993, Bruce Dickinson estava diante de um dos maiores desafios de sua carreira: provar que podia ser relevante fora da sombra da Donzela de Ferro. Seu primeiro álbum solo, Tattooed Millionaire (1990), era um trabalho mais despretensioso e orientado pelo hard rock, gravado ainda enquanto ele era vocalista do Maiden. Mas foi com Balls to Picasso (1994) que Bruce realmente começou a construir uma identidade própria como artista solo. O início dos anos 1990 foi turbulento para o heavy metal tradicional. O grunge e o rock alternativo tomavam as rádios, enquanto bandas clássicas lutavam para manter relevância. Bruce deixou o Iron Maiden após a turnê de Fear of the Dark (1992) para buscar liberdade artística — algo que ele não sentia mais dentro da banda. Inicialmente, Balls to Picasso seria gravado com a banda Skin e com o lendário produtor Keith Olsen (Ozzy Osbourne, Whitesnake, Foreigner), mas o vocalista não se sentia satisfeito com o direcionamento so...

40 dias que mudaram a história do rock

Poucos períodos na história da música foram tão intensos, criativos e transformadores quanto os 43 dias entre 12 de agosto e 24 de setembro de 1991. Em menos de seis semanas, sete álbuns fundamentais foram lançados, redesenhando o mapa do rock e do metal e inaugurando uma nova era sonora e estética. O impacto desse curto intervalo de tempo foi profundo. Estamos falando de discos que não apenas definiram as carreiras de suas bandas, mas moldaram todo o cenário musical da década de 1990 e além. A seguir, revisitamos cada um deles — álbuns que, individualmente, já seriam marcos. Lançados quase ao mesmo tempo, tornaram-se um fenômeno histórico. 12 de agosto – Metallica – Black Album O quinto disco do Metallica marca uma guinada radical na carreira da banda. Com produção de Bob Rock, o grupo deixou de lado as longas composições com influência progressiva do thrash metal dos anos 1980 e investiu em um som mais direto, limpo e poderoso. Faixas como “Enter Sandman”, “Sad But True” e “The...

A Kind of Magic (1986): o Queen em um álbum que uniu rock, cinema e emoção

Em 1986, o Queen era uma banda consagrada, mas que vivia momentos contraditórios. Após o sucesso arrebatador do Live Aid (1985), onde roubaram a cena com uma performance histórica, o grupo se viu revigorado. A crítica, que por vezes os via como exagerados e excessivos, passou a enxergá-los com mais respeito. A banda vinha de álbuns mais experimentais e irregulares ( Hot Space , de 1982, e The Works , de 1984), tentando se equilibrar entre a grandiosidade do rock de estádio e a busca por sons mais modernos. Além disso, Freddie Mercury já havia iniciado sua carreira solo com Mr. Bad Guy (1985), e havia boatos sobre a possível separação do grupo. É nesse contexto que nasce A Kind of Magic , muito influenciado pelo filme Highlander: O Guerreiro Imortal , de Russell Mulcahy. O álbum não é oficialmente uma trilha sonora, mas boa parte das faixas foi composta para o longa. O disco combina canções feitas para funcionar como uma trilha épica com baladas, momentos pop e experimentações elet...

Live and Dangerous (1978): a imortalidade do Thin Lizzy capturada em alto volume

Poucos álbuns ao vivo capturam tão bem a essência de uma banda quanto Live and Dangerous , lançado pelo Thin Lizzy em junho de 1978. O disco é, ao mesmo tempo, uma celebração da energia crua do grupo no palco e um retrato meticulosamente produzido da força criativa de Phil Lynott e companhia. Combinando peso, melodia e carisma, o álbum consolidou de vez o status da banda irlandesa como uma das grandes do hard rock dos anos 1970, mesmo cercado por uma polêmica que nunca deixou de acompanhá-lo: afinal, Live and Dangerous é realmente um disco ao vivo? Gravado majoritariamente durante a turnê de 1976-1977, com registros de shows em Londres, Toronto e Filadélfia, o álbum foi posteriormente retrabalhado em estúdio sob a supervisão do produtor Tony Visconti. A versão oficial sempre foi de que os vocais de Phil Lynott e os solos de guitarra de Scott Gorham e Brian Robertson permaneceram fiéis às apresentações originais, mas Visconti declarou, em diversas entrevistas, que cerca de "75% ...

De tiragens mínimas a valores altos: a nova realidade do CD no Brasil

O mercado fonográfico mudou — e mudou muito. Se nos anos 1990 e 2000 o CD reinava absoluto, hoje ele é uma mídia de nicho, sustentada quase exclusivamente por colecionadores. Com o streaming dominando a forma como a maior parte da população ouve música, o consumo físico tornou-se residual. No Brasil, plataformas como Spotify, Deezer, YouTube Music e Apple Music concentram mais de 90% do acesso musical diário , o que mudou drasticamente as bases econômicas da indústria. Nesse novo cenário, os CDs de rock e metal — gêneros tradicionalmente ligados ao colecionismo — sobreviveram com ajuda de um público fiel, mas pequeno. O termo "público de nicho" talvez nem seja mais suficiente: trata-se de um público ainda mais restrito que continua comprando, apoiando gravadoras (sejam independentes ou grandes selos) e buscando a experiência tátil e ritualística do disco físico. Esse encolhimento do mercado impacta diretamente as tiragens dos lançamentos. Atualmente, a média de prensagem...

Superman - Entre a Foice o Martelo: a edição DC de Bolso de um clássico dos quadrinhos políticos (Mark Millar, 2025, Panini)

Superman: Red Son (título original) ou Superman: Entre a Foice e o Martelo , é uma graphic novel escrita por Mark Millar e lançada pela DC Comics em 2003. A obra faz parte do selo Elseworlds, conhecido por apresentar versões alternativas de personagens clássicos da editora. Com arte de Dave Johnson e Kilian Plunkett, a HQ é considerada uma das mais provocativas e criativas reinterpretações do Superman. A premissa é simples: e se a nave que trouxe o bebê Kal-El à Terra não tivesse aterrissado no Kansas, mas sim em uma fazenda coletiva na Ucrânia soviética? Criado sob os ideais comunistas e formado pelo pensamento coletivista, o Superman torna-se o símbolo máximo da União Soviética e um instrumento poderoso do regime para consolidar sua influência no mundo. Millar utiliza esse cenário para subverter a clássica narrativa americana do herói salvador, inserindo o Homem de Aço em um jogo de poder, controle e propaganda. Ao longo da HQ, vemos o Superman soviético construindo uma utopia à...