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Mostrando postagens de julho, 2025

O ritual de ouvir um álbum do começo ao fim ainda existe e ainda importa?

Vivemos na era do shuffle, das playlists infinitas e dos algoritmos que decidem o que você vai ouvir a seguir. Tudo é rápido, fragmentado, personalizado — e, muitas vezes, superficial. Em meio a isso, surge uma pergunta essencial para quem cresceu com CDs, LPs e outros formatos de mídia física: ainda existe o ritual de ouvir um álbum do começo ao fim? E, mais importante: isso ainda importa? Para quem coleciona música, a resposta é quase instintiva. Mas a reflexão vai além da nostalgia. Ela toca o coração da experiência musical: a diferença entre ouvir uma música e mergulhar em um disco. Durante décadas, artistas pensavam seus álbuns como obras coesas, com começo, meio e fim. A sequência das faixas não era aleatória — ela contava uma história, criava um clima, construía uma jornada. Clássicos como Dark Side of the Moon , Seventh Son of a Seventh Son ou Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory não foram feitos para serem picotados. Ouvir um álbum inteiro é como ver um filme sem pul...

The Last in Line (1984): o épico que firmou Dio como lenda do metal

The Last in Line (1984) é o segundo álbum da banda Dio e um dos pilares do heavy metal oitentista. Após o sucesso estrondoso de Holy Diver (1983), Ronnie James Dio precisava provar que sua estreia solo não havia sido um golpe de sorte. Com esse disco, ele não só confirmou sua genialidade, como ajudou a solidificar os contornos épicos e melódicos do metal tradicional da década. The Last in Line foi gravado com a mesma formação do álbum anterior: Ronnie James Dio nos vocais, Vivian Campbell na guitarra, Jimmy Bain no baixo e Vinny Appice na bateria, mais a adição do tecladista norte-americano Claude Schnell. A banda já estava entrosada após as turnês de Holy Diver , e isso se reflete na coesão do álbum. Enquanto o disco de estreia trazia uma abordagem mais crua e direta, The Last in Line é mais ambicioso, com arranjos mais elaborados e temáticas ainda mais fantásticas. O contexto histórico também favorecia o sucesso do disco. Em 1984, o heavy metal estava em alta: o Judas Priest ...

Into Glory Ride (1983): quando o Manowar selou seu pacto com os deuses do metal

Into Glory Ride (1983) é o segundo álbum da banda norte-americana Manowar e uma das pedras angulares do chamado true metal. Se o disco de estreia - Battle Hymns , de 1982 - já deixava clara a proposta épica e guerreira do grupo, foi com Into Glory Ride que Joey DeMaio e companhia consolidaram uma identidade sonora e lírica que viria a influenciar gerações de bandas de heavy, power e epic metal. O início dos anos 1980 foi uma era fértil para o metal tradicional, com nomes como Iron Maiden, Judas Priest e Dio ganhando força mundial. Mas o Manowar se destacava por abraçar uma estética ainda mais mitológica, tribal e agressiva. Into Glory Ride soa como um hino à brutalidade das batalhas, à glória dos deuses e à devoção inabalável ao metal, tudo isso com uma seriedade quase teatral. Gravado com poucos recursos e com produção crua (mas eficaz para o tom do disco), o álbum exala uma aura quase ritualística. A capa, com os membros da banda vestidos como guerreiros bárbaros, é um refle...

Brain Drain (1989): o disco que selou o fim de uma era nos Ramones

Brain Drain (1989) marca um ponto de transição na discografia dos Ramones — e, de certa forma, o início do fim de uma era. Décimo primeiro álbum de estúdio da banda, ele surge após um período turbulento nos bastidores, com tensões internas entre os membros e mudanças de formação que afetaram diretamente o processo criativo. Lançado em 23 de maio de 1989, Brain , o disco é, ao mesmo tempo, uma tentativa de renovação e um reflexo das dificuldades que a banda enfrentava no final dos anos 1980. Durante a segunda metade dos anos 1980, os Ramones vinham lidando com um cenário musical que havia se transformado radicalmente desde sua estreia em 1976. O punk havia se diluído em diversas vertentes, o hardcore dominava o underground e o mainstream flertava com o hard rock radiofônico, o glam e o pop sintético. Internamente, Dee Dee Ramone, o icônico baixista e um dos principais compositores da banda, estava em processo de afastamento — Brain Drain foi o último álbum com sua participação até ...

Entre a memória e a vingança: Old Boy, de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi (2025, Comix Zone)

Publicado originalmente no Japão entre 1996 e 1998, Old Boy é uma obra intensa, sombria e profundamente humana. Criada por Garon Tsuchiya (roteiro) e Nobuaki Minegishi (arte), a série ganhou notoriedade mundial após a aclamada adaptação para o cinema dirigida por Park Chan-wook em 2003. Mas o mangá original trilha caminhos diferentes — mais contidos, mais silenciosos e igualmente devastadores. A trama acompanha Shinichi Gotō, um homem comum que, sem nenhuma explicação, é sequestrado e mantido em cativeiro por dez anos, isolado do mundo. Quando finalmente é libertado, ele parte em busca de respostas: quem o prendeu? Por quê? O que sua antiga vida ainda significa? Aos poucos, ele descobre que tudo está ligado ao passado — mais especificamente, a um antigo colega de escola que arquitetou o sequestro e a prisão como forma de vingança por algo aparentemente banal: o fato de Gotō ter esquecido que ele existia. A ausência de lembrança foi uma ferida psíquica irreparável. A vingança, então,...