Rock, piercings e MTV: o reinado do Aerosmith com Get a Grip (1993)


Lançado em 20 de abril de 1993, Get a Grip é o 11º álbum de estúdio do Aerosmith e marca um dos pontos mais altos da banda nos anos 1990 — tanto em termos comerciais quanto de visibilidade global. Produzido por Bruce Fairbairn (mesmo produtor do álbum anterior, Pump), o disco reforça a fórmula de sucesso que mescla o hard rock visceral com baladas radiofônicas que marcaram época.

Musicalmente, Get a Grip mantém o estilo que Aerosmith vinha lapidando desde o retorno com Permanent Vacation (1987): riffs marcantes, refrões grudentos, produção polida e espaço generoso para as vocalizações carismáticas de Steven Tyler. A diferença aqui é a ambição — o álbum soa maior, mais ousado e voltado para conquistar múltiplas frentes: fãs antigos do hard rock setentista, novos ouvintes do rock mainstream noventista e, claro, o mercado da MTV. Faixas como "Eat the Rich" e "Fever" mostram a energia crua da banda, com Joe Perry e Brad Whitford afiados nas guitarras, enquanto a faixa-título "Get a Grip" traz um groove arrastado que flerta com o funk metal da época.

Boa parte da popularidade do álbum vem de suas poderosas baladas — "Cryin’", "Amazing" e "Crazy" — todas acompanhadas de videoclipes cinematográficos que dominaram a programação da MTV por meses. Além da qualidade das composições, os vídeos com Alicia Silverstone (e, em "Crazy", também Liv Tyler) ajudaram a consolidar o status do Aerosmith como uma banda que sabia se reinventar visualmente, sem perder o apelo musical. Essas faixas exibem o lado mais emocional da banda, com solos melódicos e vocais dramáticos de Tyler, que dão peso e personalidade às letras.


Apesar do sucesso, o álbum também gerou polêmica. A capa original, com a imagem de uma vaca com um piercing na teta, foi criticada por grupos defensores dos animais. A própria música "Eat the Rich" tem um tom provocativo e ácido, criticando os excessos da elite. Já a letra de "Living on the Edge" aborda temas como alienação, preconceito e conflitos sociais, algo que ampliou o alcance do grupo além do rock festeiro.

Get a Grip vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo e rendeu ao Aerosmith dois prêmios Grammy (Melhor Performance de Rock por "Livin' on the Edge" e "Crazy"). É o álbum mais vendido da banda, consolidando sua posição como uma das poucas bandas dos anos 1970 a conseguir transitar com sucesso pelo cenário musical da década de 1990.

Get a Grip é um exemplo de como uma banda veterana pode dialogar com novas gerações sem perder sua essência. Ele resume o espírito camaleônico do Aerosmith: ousado, teatral, energético, e ainda capaz de entregar baladas de derreter corações.

Comentários

  1. Até hoje não entendo como um trabalho que se tornou o mais bem-sucedido comercialmente dos outrora "AeroBoys" consegue ser musicalmente tão fraco se comparado com os clássicos anteriores dos anos 70 e 80 (para mim um dos mais fracos deles nesse quesito). Pior ainda se levarmos em conta que seus carro-chefes foram as três baladas que ganharam videoclipes (estrelados por Alicia Silverstone mais a Liv Tyler) exibidos repetidamente na MTV e contando com uma capa claramente inspirada/conexada com a capa de Atom Heart Mother, famoso álbum da chamada "primeira fase" do Pink Floyd (lançado 23 anos antes deste Get a Grip).

    Na minha opinião, o Aerosmith acabou de vez depois do "canto de cisne" chamado PUMP (1989) e nunca mais fez outros ótimos discos que agradassem os fãs do início ao fim dos anos 90 em diante, até a sua aposentadoria ocorrida recentemente.

    ResponderExcluir
  2. sou fã incondicional dessa banda há, pelo menos pelas minhas contas, 38 anos, meus albuns preferidos são "rocks", toys..." e "pump", entendo a argumentação anterior do Igor, mas também entendo plenamente o momento da banda e do mercado no meios dos 90s quando "get a grip" foi lançado, apesar dos exageros, do direcionamento para as massas do período, tais características não, obrigatoriamente, caracterizam um disco ruim, nesse caso e em outros tantos (pyromania/hysteria, slippery/new jersey, turbo, black album, youthanasia, the ultimate sin, etc.) muito pelo contrário, disco altamente bem produzido, com sonoridade perfeita, canções "pop" (principalmente as baladas já citadas) convivendo harmonicamente com rockões de primeira (fever, walk on down, cant stop messin, flesh, line up) enfim, qualidade e "adequação" às exigencias mercadológicas da época que resultaram num enorme sucesso mundial, exatamento no período que o hard rock tradicional estava em baixa pela ditadura/prevalência do grunge, portanto, estratégia plenamente bem sucedida.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.