Rolling Stones em Sticky Fingers (1971): uma obra-prima da decadência, liberdade e reinvenção sonora


Lançado em 23 de abril de 1971, Sticky Fingers é um verdadeiro divisor de águas na carreira dos Rolling Stones. Foi o primeiro álbum lançado pelo próprio selo do grupo, a Rolling Stones Records, marcando também o início de uma fase mais ousada e autoral após o fim do contrato com a gravadora Decca. Sua icônica capa com um zíper real, idealizada por Andy Warhol, já anunciava uma nova atitude: provocadora, sexualizada e inegavelmente rock and roll.

Musicalmente, Sticky Fingers representa um mergulho profundo nos pilares do som que definiriam os Stones da década de 1970: o blues, o country, o soul e o rock de atitude. Keith Richards e Mick Taylor formam aqui uma das duplas de guitarras mais afiadas do rock, mesclando riffs sujos com solos expressivos e emocionais. A influência do sul dos Estados Unidos é evidente, principalmente em faixas como “Dead Flowers” e “Wild Horses”, que flertam com o country e o folk com elegância e melancolia. Já “Brown Sugar” explode com riffs contagiosos e uma batida lasciva, ao mesmo tempo em que levanta polêmica até hoje por sua letra provocativa. A combinação entre a crueza lírica e a energia musical encapsula perfeitamente o espírito do álbum.

Sticky Fingers é um retrato honesto, e por vezes brutal, de um período em que os excessos eram quase uma regra na vida do rockstar. As letras falam de dependência química (“Sister Morphine”), abandono (“Wild Horses”) e desejo carnal (“Brown Sugar”, “Bitch”) com uma sinceridade crua. Ao mesmo tempo, há momentos de beleza resignada, como em “Moonlight Mile”, que fecha o disco com uma aura quase espiritual, sugerindo que por trás da decadência existe uma busca por algo mais profundo.


Entre os vários destaques do álbum estão a já citada “Brown Sugar”, que traz m dos riffs mais icônicos da banda e abre o disco com força total. “Wild Horses” é uma balada agridoce com um dos refrãos mais emocionantes da história do rock. Já “Can’t You Hear Me Knocking” se revela uma espécie de jam épica com mais de sete minutos, com um groove latino inesperado e um solo de sax memorável. “Sister Morphine” é bela, sombria e devastadora, e mostra a banda em sua fase mais introspectiva e ousada liricamente. E “Moonlight Mile” entrega um encerramento sublime, com arranjos orquestrais e um clima onírico.

Sticky Fingers não só consolidou a reputação dos Rolling Stones como mestres do rock visceral, como também demonstrou sua habilidade de se reinventar sem perder a identidade. Foi um sucesso comercial imediato e é frequentemente listado entre os melhores álbuns de todos os tempos. Ele pavimentou o caminho para Exile on Main Street (1972), considerado por muitos como o ápice criativo da banda.

Com Sticky Fingers, os Rolling Stones entregaram uma obra que é, ao mesmo tempo, suja e sofisticada, dolorosa e libertadora. É um álbum onde cada faixa contribui para uma narrativa coesa sobre vício, prazer, perda e redenção. Um clássico absoluto — atemporal, perigoso e irresistível.


Comentários

  1. Clássico absoluto!! Mick Jagger sempre que quer alfinetar Keith Richards ironiza que o guitarrista pouco tocou em Sticky Fingers, ficando todas as bases de guitarra sob sua responsabilidade e de Mick Taylor e os solos quase que exclusivamente nas mãos do segundo, inclusive na minha música favorita do disco, a bela Sway. Keith estava tão doidão na época que isso bem que pode ser verdade...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.