Produzido por Gene Walker, Skeletá apresenta dez faixas ao longo de quase cinquenta minutos. Quase não restam vestígios do clima sombrio que marcou os dois primeiros álbuns — Opus Eponymous (2010) e Infestissumam (2013) — nem da atmosfera densa e refinada de Meliora (2015), frequentemente citado como o auge criativo do grupo. A abordagem aqui se alinha ao viés mais pop introduzido em Prequelle (2018) e intensificado em Impera (2022). A principal diferença, porém, está na ausência de momentos mais ousados ou experimentais - como “Miasma” e “Call Me Little Sunshine”, por exemplo - , mas que praticamente não aparecem em Skeletá.
Embora a banda ainda explore seu lado mais contemplativo e quase sacro em faixas como “Guiding Lights”, a prioridade aqui é evidente: uma sonoridade cada vez mais voltada ao pop rock de arena. Isso pode decepcionar parte do público que se encantou pelo peso e mistério das primeiras fases da banda — especialmente aqueles que ainda classificam o Ghost como metal, algo que a banda, na prática, deixou para trás há mais de uma década.
No geral, as faixas de Skeletá adotam uma fórmula de hard rock temperado com fortes elementos pop. Há melodias envolventes, refrãos marcantes e estruturas pensadas para grandes plateias, tudo conduzido pelo carisma vocal de Tobias Forge — agora atendendo pelo alter ego Papa V Perpetua — e por arranjos bem trabalhados, que mantêm o tom teatral característico da banda. No entanto, diferentemente dos álbuns anteriores, esse aspecto performático perde a aura ritualística que antes o tornava mais intrigante. As linhas vocais, mais diretas, priorizam a adesão imediata, mas em muitos casos deixam apenas um impacto passageiro.
“Peacefield”, a faixa de abertura, eleva as expectativas a um nível tão alto que grande parte das faixas restantes tem dificuldade em manter. “Lachryma” se destaca com uma introdução que flerta com o pós-punk e um riff marcante, e tem tudo para funcionar muito bem ao vivo. “Satanized” remete à fórmula bem-sucedida de “Square Hammer”, com um clima de valsa sombria e cativante. Já “Missilia Amori” evoca o peso e a pompa de “Year Zero”, enquanto “Umbra”, com teclados que dialogam com o AOR dos anos 1980, riff potente e musicalidade intensa, surge como um dos pontos altos do álbum, provando que o Ghost ainda sabe ser criativo e cheio de personalidade.
No fim das contas, Skeletá é um disco sólido dentro da proposta atual da banda, voltada a um rock acessível, teatral e melódico. Pode não agradar quem busca o peso e a densidade de outrora, mas certamente funciona como uma vitrine eficaz da faceta mais pop do Ghost — uma banda que, goste-se ou não, segue em constante transformação.
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